Escrito por: Redação CUT
Pesquisa do IBGE mostra o empobrecimento da população, com queda na renda de trabalhadores e até de quem tem outras fontes de dinheiro. Renda média é a menor desde 2012
O empobrecimento da população brasileira só aumentou no governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL), cujo legado, até agora, une as altas taxas de desemprego, à inflação de dois dígitos e recordes de endividamento das famílias brasileiras.
Entre 2019, primeiro ano da gestão de Bolsonaro, e 2020, a renda média dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros caiu de R$ 2.292 para R$ 2.213, (menos 3,4%). Este é o menor patamar desde 2012, estimado em R$ 2.250, já descontada a inflação do período, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD-Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada nesta sexta-feira (19).
Em 2020, do total de 211,1 milhões de brasileiros, 128,7 milhões (61%) tinham algum tipo de rendimento, mas a renda média obtida de todas as fontes de recursos, incluindo trabalho, aluguel, pensões, benefícios, entre outras, diminuiu se comparado a 2019, diz a pesquisa.
Nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro, revela a pesquisa, aumentou a dependência dos programas sociais, que entram na categoria “outros rendimentos”. Pela primeira vez, os “outros rendimentos” foram responsáveis por uma fatia maior do rendimento do que as aposentadorias e pensões, por causa do auxílio emergencial pago durante o auge da pandemia.
O número de pessoas com outros rendimentos (seguro-desemprego/seguro-defeso, programas sociais do governo – inclusive o auxílio emergencial –, rendimentos de poupança etc.) quase dobrou de 2019 para 2020, indo de 16,4 milhões (7,8% da população) para 30,2 milhões (14,3%). Aposentadoria e pensões são responsáveis pelo rendimento de 26,2 milhões de pessoas (12,4% da população).
Por outro lado, o valor maior do auxílio emergencial fez muitos beneficiários substituírem o Bolsa Família, que caiu de 14,3% para 7,2% no número domicílios atendidos. Já a proporção de domicílios que recebiam BPC-LOAS passou de 3,5% para 3,1% no período.
Apesar do aumento no percentual da renda, em relação a aposentadorias e pensões, o rendimento de outras fontes caiu 15,4% - seu menor valor (R$1.295) desde 2012. O movimento de queda ocorreu em todas as regiões, principalmente, no Sudeste (19,6%), Sul (13,2%) e Centro-Oeste (21%).
O impacto do desemprego fez o rendimento adquirido pelo trabalho perder participação na renda total. Em 2020, 40,1% da população (84,7 milhões) tinham rendimento do trabalho e 28,3% (59,7 milhões), rendimento proveniente de outras fontes.
Em comparação a 2019, houve redução da parcela correspondente ao rendimento do trabalho, que era de 44,3% (92,8 milhões) e aumento do peso do rendimento de outras fontes, que correspondia a 23,6% (49,5 milhões). Essa tendência ocorreu em todas as regiões.
No entanto, apesar do rendimento adquirido pelo trabalho ter caído na participação total, o seu valor aumentou. Foi para R$2.447 em 2020 (+ 3,4%) que o registrado em 2019 (R$2.366). Esse aumento explica-se com a saída de 8,1 milhões de pessoas da população ocupada, no período, indicando que aqueles que continuaram ocupados tinham maior rendimento do trabalho.
O rendimento dos 50% mais pobres aumentou 3,9%. A média da população com menores rendimentos em 2020 foi de R$453 contra R$436, no ano passado.
As pessoas que faziam parte do 1% da população com rendimentos mais elevados (mensal de R$15.816) recebiam, em média, 34,9 vezes o rendimento da metade da população com os menores rendimentos (cujo rendimento médio mensal real era de R$453). Em 2019, esta razão era de 40 vezes, maior valor da série.
O índice de Gini –que mede a desigualdade social e econômica no país– do rendimento médio domiciliar per capita passou de 0,544 em 2019 para 0,524 em 2020. O Nordeste manteve o maior Gini em 2020 (0,526) e o Sul, o menor (0,457). Entre 2019 e 2020, o Gini caiu em todas as regiões, sobretudo no Norte e Nordeste, onde o Auxílio Emergencial atingiu maior proporção de domicílios.
O Gini consiste em um número entre zero e 1, onde zero corresponde à completa igualdade (no caso do rendimento, por exemplo, toda a população recebe o mesmo salário) e 1 corresponde à completa desigualdade (onde uma pessoa recebe todo o rendimento e as demais nada recebem).
O maior valor do rendimento médio mensal estava no Sudeste (R$ 2.575). O menor, no Nordeste (R$ 1.554).
O Sul permanece com o maior percentual de pessoas com rendimento de trabalho (46,0%). Já o Nordeste registrou, pela primeira vez, um percentual de pessoas com rendimento de trabalho (32,3%) menor que o daquelas que recebiam de outras fontes (32,8%).
Em todas as regiões do país, o número de domicílios com pessoas recebendo programas sociais subiu 0,7% para 23,7. As maiores altas proporcionais foram no Norte (de 0,5% para 32,2%) e Nordeste (de 0,8% para 34%).
A aposentadoria ou pensão era a categoria de maior valor, variando de R$1.540 no Norte a R$2.268 no Centro-Oeste. Regionalmente, a perda de valor foi generalizada, alcançando 10,7% no Norte e 8,8% no Centro-Oeste.
A Região Sul (R$661) tinha a maior média de rendimento domiciliar per capita para a metade da população com menores rendimentos em 2020, e as Regiões Norte (R$325) e Nordeste (R$301), as menores. No entanto, entre 2019 e 2020, apenas as Regiões Norte e Nordeste tiveram aumento neste indicador (17,8% e 16,2%, respectivamente), o que pode ter relação com o recebimento do Auxílio Emergencial, segundo o IBGE.