Renner deve pagar R$ 80 mil a trabalhadora trans por desrespeito à sua identidade
Gerência de loja da rede Renner, no Recife (PE), passou a perseguir trabalhadora trans e a demitiu após ela fazer a transição de gênero. Justiça do Trabalho entendeu que houve danos morais e decidiu por multa
Publicado: 23 Setembro, 2022 - 16h44 | Última modificação: 23 Setembro, 2022 - 16h54
Escrito por: Redação CUT | Editado por: Rosely Rocha
A trabalhadora Jamilly Aragão de Brito, de 31 anos, que atuava líder de merchandising visual de uma loja da Rede Renner, em Recife (PE), deverá ser indenizada no valor de R$ 80 mil por ter sofrido perseguição, agressões e desrespeito à sua identidade, após, segundo ela, ter feito a transição de gênero.
Ela, que se identifica como mulher, diz que antes da transição havia respeito de ambas as partes, entre empregador e trabalhadora, mas que a situação ficou insustentável depois das inúmeras discriminações que sofreu até culminar em sua demissão da loja.
A trabalhadora recorreu à Justiça do Trabalho, que reconheceu o dano moral e fixou o valor da multa. Na decisão, a juíza Ester de Souza Araújo destacou que o Poder Judiciário não pode compactuar comportamentos discriminatórios em nenhum ambiente, muito menos no trabalho. A magistrada continua reforçando que, em pleno século 21, "não há mais espaço" para essas situações, "tampouco em razão da orientação sexual". Neste caso, vale ressaltar, trata-se de identidade de gênero e não de orientação sexual —que diz respeito à atração ou à ligação afetiva por outras pessoas. A Renner ainda pode recorrer da decisão do Tribunal.
Em entrevista ao Universa UOL, Jamilly disse que poucas pessoas dentro da empresa sabiam do início do seu procedimento de identidade de gênero, mas que após uma gerente, cujo nome não foi relevado, ter conhecimento do assunto passou a ser persegui-la.
“Espalhou para os colaboradores que iria me demitir e que eu seria um problema para a empresa. Fui proibida de ir ao banheiro e ao vestiário feminino, as pessoas começaram a me tratar com indiferença. Isso tudo me fez desenvolver ansiedade e síndrome do pânico. Me senti um lixo. Nunca imaginei que passaria por essa situação", detalhou ao UOL.
Um colega de trabalho de Jamilly confirmou as suas denúncias de perseguição e que até mesmo outros colegas de trabalho haviam sido orientados a não saírem com ela sob a alegação de que Jamilly estava processando a empresa.
"Foi quando decidi judicializar a denúncia. Levei todos os relatos à Justiça do Trabalho e consegui provar. Saiu a decisão a meu favor e eu vou ter minha dignidade de novo", comemorou.
A Renner encaminhou nota ao UOL informando que não comenta processos em andamento, mas ressaltou que "tem uma política de direitos humanos e um programa de diversidade que buscam promover a inclusão de todos os colaboradores e colaboradoras.