Escrito por: Rosely Rocha

Repórter de afiliada da TV Globo é demitida ao voltar de licença maternidade

Para Juneia Batista, secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, demissão de repórter da TV Vanguarda, afiliada da TV Globo, é violência sexista que precisa ser denunciada

arquivo pessoal / Instagram
Marcela Mesquita com apresentador Cesar Tralli, no Jornal Hoje

A repórter Marcela Mesquita da TV Vanguarda, afiliada à TV Globo de São José dos Campos (SP), foi demitida no mesmo dia em que voltou da licença maternidade, após 12 anos de trabalho na emissora. Ela já havia feito outro desabafo no passado, o de que ficou fora do ar nas transmissões jornalísticas, em 2017, por ter engordado e só voltou a aparecer nas telas após emagrecer.

Desta vez não houve sequer tempo para que ela retomasse a forma física e os padrões estéticos exigidos pela emissora, e mesmo com elogios da chefia sobre a sua competência profissional, foi demitida na última segunda-feira (10), o dia seguinte ao Dia das Mães.

Marcela contou em seu perfil na rede social, que estava ansiosa para voltar ao trabalho após ter tido sua primogênita e ter ficado cinco meses de licença maternidade, mas foi demitida no mesmo dia.

 

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Uma publicação compartilhada por Marcela Mesquita (@mesquita.marcela)

 

O caso repercutiu tanto na imprensa como nas redes sociais, mas esta não é a primeira, nem será a última vez que mulheres trabalhadoras que têm filhos são demitidas. Isto só reforça a violência sexista a que elas estão submetidas, diz a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Juneia Batista.

“Essa demissão sem motivo expõe a sociedade patriarcal por que isto não ocorreria se fosse um homem voltando da licença paternidade”.

Em pleno século 21, vivemos numa sociedade em que para o homem é possível acumular patrimônio, já à mulher só resta o matrimônio- Juneia Batista

Para a dirigente é preciso que a sociedade debata uma educação inclusiva para meninas e meninos em suas diversas orientações sexuais e identidades de gênero para que este tipo de situação seja denunciada e  não volte a acontecer.

Segundo Juneia, “quando a gente ouve de uma trabalhadora em seu pleno exercício profissional com 12 anos de casa, foi demitida em razão de ter cumprido o seu período de licença maternidade, e ela é condenada a perder o seu ‘ganha pão’ só reforça que precisamos debater dentro do feminismo e do sindicalismo formas de apoiar essas mulheres para que isto não mais ocorra”,

“É a repórter, é a doméstica, são as trabalhadoras do comércio e das fábricas que são atingidas por este modelo de sociedade patriarcal, por que , com certeza, o pai desta criança não foi demitido após voltar da sua licença paternidade. Temos de rechaçar e defender essa companheira, estamos defendo a vida das mulheres ,de nossos filhos e filhas”, concluiu a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT.

Pesquisas mostram discriminação às mães trabalhadoras

As demissões de mulheres após voltarem de licença maternidade,  infelizmente, não é nenhuma novidade. Pesquisas de anos anteriores comprovam esta prática é feita por diversas empresas de todos os portes. A maior parte das saídas do mercado de trabalho se dá sem justa causa e por iniciativa do empregador.

Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de 2016 mostra que a queda no emprego se inicia imediatamente após o período de proteção  garantido pela licença maternidade.

Após 24 meses, quase metade das mulheres que tiram licença-maternidade está fora do mercado de trabalho, um padrão que se estende por 47 meses após a licença.

Trabalhadoras com maior escolaridade apresentam queda de emprego de 35%, um ano após o início da licença, enquanto a queda é de 51% para as mulheres com nível educacional mais baixo.

O estudo da FGV indica ainda que, no Brasil, a licença-maternidade de 120 dias não é capaz de reter as mães no mercado de trabalho, mostrando que outras políticas (como expansão de creches e pré-escola) podem ser mais eficazes para atingir tal objetivo, especialmente para proteger as mulheres com menor nível educacional.

Outra pesquisa dos profissionais da Catho de 2018, com mais de 2,3 mil mães, afirma que 30% das mulheres deixam o trabalho para cuidar dos filhos. Entre os homens, esse número é quatro vezes menor: 7%.

Já a consultoria Robert Half, apontou que de cada 10 mulheres, quatro não conseguem retornar ao mercado após a licença-maternidade.

*Edição: Marize Muniz