Residentes de medicina de família da Paraíba denunciam condições de trabalho

Salas sem portas, janelas quebradas, goteiras, mofo em parede, falta de medicamentos e insumos básicos, escassez de equipamentos de proteção individual. Essa é a realidade da maior parte dos postos de saúde de João Pessoa.

Preocupados com a precariedade das condições de trabalho e sem poder assistir à população em suas demandas, os residentes de medicina de família e comunidade (MFC), vinculados a quatro instituições de João Pessoa, decidiram protocolar documento-denúncia no Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público Estadual (MPE) e Conselho Regional de Medicina (CRM-PB) nesta segunda-feira (19) e paralisar as atividades nas unidades básicas de saúde durante a quinta-feira (22), com apoio da Associação Paraibana de Médicos de Família e Comunidade.

Procurada, a Prefeitura de João Pessoa não se manifestou até o fechamento desta reportagem.

“Já levamos essas pautas diversas vezes a gestão dos distritos e não conseguimos respostas. Não podemos fazer os procedimentos necessários, como a inserção do DIU, pela falta de segurança na esterilização dos instrumentos”, afirma Marília Barbosa, residente do primeiro ano pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

As salas sem ar-condicionado e em condições insalubres com mofo e goteiras acabam prejudicando a qualidade do atendimento, piorando o estado de saúde de médicos e de usuários. Analgésicos simples e anti-hipertensivos para atender urgências não estão disponíveis nas farmácias das unidades.

Farmácia da USF Espaço Saúde, no Cristo Redentor / Reprodução

Mofo e infiltração em consultório médico da USF Mudança de Vida, em Colinas do Sul / Reprodução

Teto da recepção da USF Verdes Mares, que atende a comunidade Aratu e Aspom / Reprodução

USF Nova Esperança, em Mangabeira / Reprodução

Teste biológico de autoclave USF do Grotão. Último exame realizado dia 27/02/2019 / Reprodução

Ar condicionado inoperante e infiltrações na recepção da USF Grotão. / Reprodução

Os residentes também denunciam a sobrecarga de trabalho, uma vez que várias equipes encontram-se sem médicos de referência, levando os preceptores a cobrirem outras unidades, o que prejudica o processo de ensino-aprendizagem, principalmente no contexto de pandemia em que a atenção básica acabou sendo porta de entrada de casos leves e moderados da covid-19.

As questões de segurança assustam profissionais e usuários, pois algumas unidades sofrem arrombamentos em sequência. 

Paralisação

“A ideia da paralisação é chamar atenção da população e das autoridades, solicitar apoio das instâncias públicas para que as medidas necessárias sejam tomadas. A população de João Pessoa merece uma assistência à saúde de forma digna e respeitosa, principalmente em regiões de alta vulnerabilidade socioeconômica, como são as que estamos trabalhando”, ressalta Arthur Vizzotto, residente do segundo ano da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

Durante a paralisação, os residentes vão solicitar uma reunião com o secretário municipal de saúde para discutir prazos para as mudanças necessárias. Os médicos pretendem mobilizar suas comunidades para que elas exijam do poder público melhores condições para a atenção primária à saúde. 

Veja outras imagens:

Sala de curativo USF Vila Saúde / Reprodução

Infiltração na parede do consultório médico da equipe João Paulo II / Reprodução

USF Bessa / Reprodução