Resistência, justiça e democracia ecoam na marcha de abertura dos fóruns no RS
Após dois anos de debates virtuais, o Fórum Social das Resistências (FSR) voltou a ocupar as ruas de Porto Alegre, juntamente com a primeira edição do Fórum Social Mundial Justiça e Democracia (FSMJD)
Publicado: 27 Abril, 2022 - 09h07 | Última modificação: 27 Abril, 2022 - 09h39
Escrito por: CUT-RS
A marcha de abertura, realizada no início da noite desta terça-feira (26), do Fórum Social das Resistências (FSR),que voltou a ocupar as ruas de Porto Alegre (RS), reuniu centrais sindicais, movimentos sociais, partidos de esquerda e diversas entidades, que se somaram na organização de mais de 100 mesas de debates que começam nesta quarta-feira (27).
As discussões se estenderão até sábado (30), quando acontece a plenária de encerramento que vai aprovar um documento a ser levado ao Fórum Social Mundial que vai ocorrer na Cidade do México entre os dias 1º e 6 de maio. No domingo, ainda participarão do ato unificado e cultural de 1º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador e da Trabalhadora, junto ao Espelho d'Água, no Parque da Redenção.
CUT-RS e centrais definem ato unificado de 1º de Maio em Porto Alegre
Debater saídas para as crises
A concentração teve lugar no Largo Glênio Peres, no centro da capital gaúcha, onde falas de organizadores e apoiadores destacaram os principais temas que estarão em debate. A caminhada subiu a Avenida Borges de Medeiros, passou pelo Largo Zumbi dos Palmares, onde ocorria uma feira da agricultura familiar, e terminou em frente à Ponte de Pedra, com apresentações culturais.
O FSMJD terá atividades focadas na transformação do sistema de justiça e na defesa da democracia, reunindo integrantes do judiciário e de movimentos sociais para repensar as estruturas que perpetuam as desigualdades e as injustiças.
Já o FSR trará movimentos sociais e organizações que irão debater saídas para as crises que se abatem sobre o mundo e o Brasil e que penalizam a população mais pobre e vulnerabilizada e o meio ambiente.
Outro mundo é possível, apesar da agudeza da vida
O secretário de Organização e Política Sindical da CUT-RS, Claudir Nespolo, festejou o retorno do Fórum após dois anos, destacando a realização dos dois eventos ao mesmo tempo. “O Fórum é espaço de convergências, todo mundo tem suas verdade e aqui a esquerda consegue encontrar pontos de convergência para fazer lutas mais fortes”, pontuou.
Segundo Claudir, a CUT e o movimento sindical não poderiam estar em outro local. “Outro mundo é possível sim, apesar da agudeza da vida que está aí instalada, apesar do período difícil do desemprego, do preço das coisas, da inflação alta, subemprego”, completou.
Construir uma nova alternativa para o Brasil
O presidente da CTB-RS, Guiomar Vidor, destacou que a retomada da luta das ruas demonstra “ao povo que é necessário nos organizarmos, resistirmos e lutarmos para derrotar esse governo genocida e construir uma nova alternativa para o Brasil, um projeto de reconstrução nacional”.
Para Guiomar, o Fórum mostra “que é hora de iniciarmos essa grande marcha que deverá se encerrar no final do ano com a eleição de um governo popular que de fato tenha uma nova visão de país e desenvolvimento econômico e social”.
Democratização da terra
Membro da direção do MST-RS, Jerônimo Pereira da Silva disse que o movimento está junto nos fóruns sociais “porque a gente está dizendo Bolsonaro nunca mais, lutando por um Brasil democrático e soberano, pela democratização da terra e por um novo projeto de agricultura que inclua trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade”.
“Estamos juntos, entendendo que essa é uma luta de resistência de todos nós”, completou Xiru, como é mais conhecido.
Defesa da Palestina
A presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL), Ualid Rabah, ressaltou uma importante característica do Fórum, que talvez uma parcela dos movimentos democráticos e populares do Brasil e do mundo deixaram escapar.
"Ele tem um forte conteúdo anti-imperialista e anti-hegemônico e a causa palestina é essencialmente uma causa anti-colonial. A gente veio para cá especialmente para afirmar algumas coisas, primeiro que o que acontece na Palestina é genuinamente um experimento colonial e genocida”, disse.
“Viemos aqui para dizer que chegou a hora de valer o que nós passamos a defender especialmente agora. Israel é um regime de apartheid, que não pode ser admitido na ONU”, afirmou Ualid. “Queremos que a sociedade civil brasileira, a sociedade civil mundial, aquela mesma que defendeu o PDS – boicote de desinvestimento e sanções contra a África do Sul, faça o mesmo para salvar a Palestina”, defendeu.
Estado democrático de Direito nunca esteve tão fragilizado
A integrante da executiva nacional da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), Vera Lúcia Santana Araújo, lembrou que o FSMJD deveria ter acontecido em 2020, mas não ocorreu devido a pandemia. “Parece que houve uma confluência para que viesse a acontecer em um momento extremamente importante, uma vez que o nosso Estado democrático de direito, desde o golpe de 2016, nunca esteve tão fragilizado."
“A ocorrência deste Fórum, que reúne todos os segmentos democráticos das carreiras jurídicas, do sistema de justiça, se dá em um momento crucial da resistência das forças democráticas”, completou Vera, que está concorrendo a uma vaga de jurista para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
rabalhadoras domésticas na luta contra os preconceitos
A diretora do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas de Pelotas, Ernestina dos Santos Pereira, disse que a integração da categoria aos movimentos sociais que lutam contra os retrocessos é fundamental. “É muito importante as trabalhadoras domésticas estarem em todas as lutas por dignidade humana. Esse Fórum e toda a resistência é válida e se a trabalhadora doméstica existe é porque ela resiste, já que é um trabalho com origem na escravidão”, disse.
Ela destacou ainda a necessidade de lutar contra os preconceitos que acabam fazendo com que essas trabalhadoras não se compreendam como classe trabalhadora. “Só a luta por direitos vai garantir avanços”, disse Ernestina, criticando a desvalorização desse tipo de trabalho.
Volta do Fórum Social fortalece luta pela democracia
A vereadora de Porto Alegre Laura Sito (PT) ressaltou a importância da participação parlamentar nos espaços democráticos e lembrou que a Capital já foi símbolo mundial de participação e de debates qualificados para pensar a democracia. “Infelizmente há algum tempo [Porto Alegre] vem sofrendo os mesmos males que o Brasil, que é a perda da participação, da democracia interna da cidade, inclusive do senso de coletividade no município”, lamentou.
Para a vereadora, a volta do Fórum fortalece a luta pela democracia no país, “que precisa ser retomada e qualificada, com a participação do povo”.
O vereador Matheus Gomes (PSOL) saudou o momento de encontro de lutadores e movimentos sociais. “Acho que temos um grande debate para fazer, que é a democratização do sistema de justiça no Brasil, a defesa das liberdades democráticas e também projetar um futuro para deixar de estar apenas com uma agenda reativa”, avaliou.
“Esse é o contexto que estamos hoje, mas temos que enfrentar o fascismo e dar um passo adiante, num projeto de radicalização da democracia e dos direitos sociais no Brasil. Esse é o debate que vai percorrer esse evento”, afirmou. “Sempre que temos um encontro como este temos que aproveitar para articular as lutas com mais força”, finalizou Matheus.
A
vereadora Daiana Santos (PCdoB), lembrou que Porto Alegre foi referência e símbolo de transformação e de luta, citando o Orçamento Participativo. “Não poderia ficar sem esse momento único logo depois de um período de pandemia muito duro, de todo esse retrocesso diante das políticas públicas, de toda essa desconstrução que nos colocou neste abismo onde a gente só se afunda em desigualdade, onde a gente está vendo o povo voltar para o mapa da fome”, afirmou.
“A gente vê uma desvalorização do salário mínimo, o empobrecimento da população, nitidamente consegue compreender como está dura a vida do trabalhador. Essa é uma relação que é muito maior que a questão política, é uma relação de consciência de classe, de um ajuste que vai ser preciso feito, com várias mãos, com as mãos daqueles e daquelas que compreendem que só através desta união, desse movimento coletivo, é que vamos conseguir mudar a cara dessa política genocida, corrupta, que entrou com promessas e muitas mentiras”, completou.
Estudantes de Direito por justiça e democracia
A representante da Federação Nacional dos Estudantes de Direito (FENED), Lara Crochi, ressaltou o papel dos estudantes de Direito nos espaços dos fóruns. Para ela, é preciso voltar a se reinserir e lutar por todas as pautas que sejam pertinentes. “A gente está, enquanto Federação, construindo junto com o Fórum Social, junto com a ABJD, uma campanha de estudantes de Direito por justiça e democracia, que dialoga diretamente com o Fórum Social Mundial”, contou.
A estudante participará da mesa “Propostas para o Sistema de Justiça”, na manhã desta quarta-feira (27), no auditório do Ministério Público Federal, promovida pela Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD).
Importância da participação dos movimentos culturais
O músico Richard Serraria destacou a importância histórica da participação dos movimentos culturais no Fórum num “momento do avanço do fascismo, em que direitos básicos de cidadania vêm sendo dilapidados em diferentes partes”. Para ele, Porto Alegre tem uma história dentro desta outra história, que é o próprio Fórum Social Mundial, que congrega diferentes instituições e movimentos sociais.
Ele ressaltou o papel da arte no fórum, não só como estética mas também como ética. “Ética no sentido de um entendimento político, somos seres políticos, somos seres feito de sororidade. E a sororidade do povo brasileiro também é uma sororidade de luta, dos povos originários, pela sobrevivência, demarcação já, a luta do povo negro”, apontou.
“Portanto estamos aqui como artistas, como cidadãos, fazendo parte desta luta que é extremamente necessária neste momento global em que o mundo clama por mudanças”, completou Serraria.
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Transmissões ao vivo
A marcha de abertura foi transmitida através de um rede independente de comunicação, integrada pela CUT-RS em parceria com diversos veículos da imprensa alternativa, como o Brasil de Fato e a Rede Soberania, e mandatos populares.
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