Escrito por: Rosely Rocha

Revendedores de gás de cozinha denunciam preços abusivos da Petrobras e podem parar

Paridade do preço do gás de cozinha com o dólar tirou a margem do lucro dos revendedores. Categoria avalia greve e protestos. FUP vende botijão a preço justo em comunidade carente

Marcello Casal / Agência Brasil

O preço do botijão de 13 quilos do gás de cozinha está inviável para grande parte da população brasileira, desde que mudou a política de preços da Petrobras em relação aos combustíveis e do GLP, com a chegada de Michel Temer (MDB-SP) ao poder, após o golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), em 2016.

Os preços abusivos praticados pela Petrobras vêm sendo criticados pelos revendedores de gás de cozinha, que não descartam paralisações e manifestações em todo o país. Nesta segunda-feira (1º) houve manifestação no estado do Pará, em frente às revendedoras, sem prejuízo ao atendimento da população.

Atualmente a média de preço do botijão cobrado no país está em R$ 77,50, variando de estado a estado. Em São Paulo, o preço praticado em janeiro ficou em torno de R$ 95,00. Na Bahia chega a R$ 81,00. A população dos estados de Roraima, Amapá e Acre pagou ainda mais caro, ficando em R$ 105,00, R$ 102,00 e R$ 101,00 respectivamente.  A variação de preços é comum devido ao custo que cada revendedora tem com o pagamento dos impostos cobrados por cada estado, com os combustíveis, o valor dos salários e até do aluguel em que o estabelecimento está instalado.

Segundo Alexandre José Borjalli, presidente da Associação Brasileira de Revendedores de GLP (Asmirg-BR), que representa mais de cinco mil revendedoras, embora a categoria apoie a paralisação dos caminhoneiros , que também vêm sendo afetados com a política de preços da Petrobras, eles entendem que este não é o momento de prejudicar ainda mais a população, por causa da pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

“Se pararmos agora, com certeza haverá corridas aos revendedores de gás e pode haver ágio nos preços cobrados. Queremos evitar aglomerações e não será justo com a população que alguns cobrem a mais, justamente num momento de alto desemprego e de pandemia. As pessoas estão sem dinheiro. É um momento delicado, inclusive para nós, que estamos sem capital de giro, podendo fechar as portas. Por isso ainda estamos discutindo quais as formas de protesto e de paralisações que poderemos fazer”, diz Borjalli.

Política de preços da Petrobras é roubo

O presidente da Asmirg-BR diz que o preço médio para o revendedor cobrado pelas distribuidoras fica entre R$ 55,00 e R$ 60,00. A média de custos operacionais com combustível para levar o gás até o cliente, com os pagamentos de salários, aluguéis e impostos, não ficam abaixo de R$ 20,00, por botijão, o que os deixa trabalhando praticamente sem nenhuma margem de lucro.

“A gente não está repassando esses preços e não temos opções de compra. Piorou ainda mais com a venda da participação da Petrobras na Liquigás Distribuidora. Diziam que isto iria abrir o mercado, mas nenhuma empresa nova foi aberta, os mesmos continuam operando, num oligopólio. A venda da Liquigás foi um câncer para a população”, diz. A Liquigás foi vendida para um consórcio formado pela Copagaz, Itaúsa e Nacional Gás por R$ 4 bilhões, em dezembro do ano passado.

Borjalli critica abertamente a nova direção da Petrobras que assumiu depois da queda da ex-presidenta Dilma. Segundo ele, quando o PT saiu da Presidência houve um aumento extorsivo por parte da estatal e que piorou no governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) com a política econômica comandada pelo ministro e banqueiro, Paulo Guedes.

“A Petrobras não pode falar em prejuízo com o preço do GLP. Eles cobram o gás a R$ 36,00 nas refinarias. Se eles mantivessem a política de Dilma , o preço estaria a R$ 28,00 para o consumidor. É um roubo o que está acontecendo. O gás virou produto de luxo e não de utilidade púbica. Podemos fechar por falta de margem de lucro”, diz.

A política da Petrobras aliada à instabilidade política gera oportunismo econômico para os grandes empresários- Alexandre José Borjalli

Preço do gás subiu 44% no governo Bolsonaro

O preço do GLP, de acordo com um levantamento do economista do Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicas (Dieese) da subseção FUP, Cloviomar Cararine, subiu 44%, de 01 de janeiro de 2019 a 27 de janeiro de 2021. O preço do produto subiu 15 vezes e caiu em outras seis vezes, mas ainda assim ficou acima do Índice Nacional do Preço ao Consumidor (INPC) de 10%. Desde junho de 2017, com a mudança da política de preços da Petrobras, o gás de cozinha foi reajustado 131%, subindo 21 vezes e descendo oito vezes. Enquanto isso, no mesmo período, a inflação medida pelo INPC ficou em 15%.

Petroleiros distribuem gás e pedem Fora Bolsonaro

A denúncia de que a política da estatal, em cobrar o preço dos combustíveis e do gás de acordo com a paridade do dólar e do mercado internacional, é perversa, vem sendo feita há mais de dois anos pela Federação Única dos Petroleiros (FUP). Nesta segunda-feira (1º), os petroleiros fizeram diversas manifestações, inclusive, doando gás de cozinha ou revendendo o produto a preços justos.

“Por conta dessa política, estamos sofrendo com aumentos descontrolados de derivados, como a gasolina, o gás de cozinha, o gás natural e o diesel, o que inviabiliza setores estratégicos da economia, além de afetar massivamente a população", alerta o coordenador da FUP, Deyvid Bacelar.

Nas mobilizações desta segunda-feira, além dos preços justos para os combustíveis e gás de cozinha, a FUP e seus sindicatos também cobraram do governo federal o enfrentamento às crises sanitária com ampliação dos recursos para o Sistema Único de Saúde (SUS)  e defesa das medidas de distanciamento social; e econômica (retomada do Auxílio Emergencial), a defesa do Programa de Proteção ao Emprego, entre outras bandeiras que integram a pauta de reivindicações das centrais sindicais e dos movimentos sociais, como a luta contra o teto dos gatos, contra a reforma administrativa e pelo “Fora Bolsonaro, Impeachment Já!”.

Confira abaixo as ações dos sindicatos ligados à FUP em todo o País:

Sindipetro/AM: doação de 40 cestas básicas, com medidas preventivas, levando em conta o lockdown estabelecido na cidade.

Sindipetro /CE-PI: protesto e campanhas com outdoors, sem aglomerações devido ao agravamento da pandemia da COVID.

Sindipetro /ES: juntamente com motoristas de aplicativos e motoboys farão carreata do aeroporto até a sede antiga da empresa, com distribuição de voucher de desconto em combustíveis líquidos no final da atividade para até 100 veículos. Limitado a 20 litros para carros e 10 litros para motos. Após a carreata, se juntarão às atividades das Centrais Sindicais previamente programadas.

Sindipetro /Caxias (RJ): distribuição de 100 cestas básicas e 1000 máscaras para comunidades carentes da baixada fluminense.

Sindipetro /MG: doação de 100 botijões de gás para famílias em vulnerabilidade social e atos deliberados juntamente com as Centrais Sindicais.

Sindipetro/Unificado(SP): distribuição de 200 botijões de gás.

Sindipetro/NF – doação de 100 botijões em Padre Miguel.

Sindipetro /RS: Subsídio de 100 botijões de gás, no Município de Esteio.

Sindipetro /BA: Ato na RLAM pela manhã. 200 botijões de gás para famílias em vulnerabilidade social foram vendidos a R$ 40,00, o que para a categoria é um preço justo. A tarde têm  carreata com motoristas de aplicativos e ato juntamente com as Centrais Sindicais.

Com informações da FUP

 

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