RLAM está sendo vendida por metade do preço, denuncia FUP
Cálculos do Ineep mostram que valor de mercado da unidade baiana seria entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões
Publicado: 09 Fevereiro, 2021 - 09h58 | Última modificação: 09 Fevereiro, 2021 - 10h24
Escrito por: Redação CUT
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) denuncia que a Refinaria Landulpho Alves (Rlam) está sendo vendida para o Mubadala Capital, fundos dos Emirados Árabes Unidos, pela metade do preço. Na Bahia, o Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro-BA) organizada a categoria e os trabalhadores podem entrar em greve a qualquer momento.
A preço de banana
De acordo com a direção da Petrobras, o fundo Mubadala apresentou a melhor oferta final e vai levar a primeira refinaria do Sistema Petrobrás e a segunda do país em capacidade de processamento pelo valor de US$ 1,65 bilhão.
Cálculos do do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) mostram que valor de mercado da unidade baiana seria entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões. Para checar a esse valor o Ineep usou o método de fluxo de caixa descontado.
Monopólio e preços ainda mais altos
Além disso, como a FUP e seus sindicatos vem apontando há pelo menos oito meses, a venda da RLAM vai criar um monopólio regional no estado e em toda a região Nordeste, com combustíveis mais caros e risco de desabastecimento para os consumidores.
Etudo da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, encomendado pela Associação das Distribuidoras de Combustíveis – Brasilcom, que avaliou ainda outras cinco refinarias que estão à venda e indicou o mesmo risco que a venda da RLAM representa para o Brasil e para os brasileiros em todas as plantas.
“A RLAM recebeu investimentos de R$ 6 bilhões somente em hidrotratamento nos últimos dez anos. No entanto, a refinaria está sendo vendida por pouco mais que isso, num momento economicamente ruim em todo o mundo”, aponta Deyvid Bacelar, coordenador geral da FUP.
“E não é apenas a planta de refino que está sendo vendida a preço de banana, mas toda a infraestrutura de armazenamento e escoamento da RLAM. São quase 800 quilômetros de dutos, fora os tanques de armazenagem. É um péssimo negócio para a Petrobrás, para a Bahia, para o Nordeste e para todo o Brasil”, pontua o dirigente.
Bacelar ainda reforça o quanto a população baiana e de todo o Nordeste poderá sofrer ainda mais com combustíveis mais caros com a venda da refinaria.
Se a política de reajuste da atual gestão da Petrobras de Preço de Paridade Internacional (PPI) já vem penalizando a população – nesta segunda-feira (8), a empresa anunciou o terceiro reajuste da gasolina e o segundo aumento do óleo diesel e do gás de cozinha no ano –, o Fundo Mubadala terá total liberdade de cobrar o preço que quiser pelos produtos que a RLAM produzir – ou mesmo optar por vender os produtos no mercado internacional, provocando desabastecimento, diz nota publicada no site da FUP.
A venda da RLAM é ainda mais grave, lembra a FUP, porque a refinaria tem sido peça-chave para equilibrar o desempenho financeiro da Petrobras durante a pandemia. A planta baiana tem respondido por cerca de 30% da produção de óleo combustível para navios (bunker) com baixo teor de enxofre, atendendo exigência da Organização Marítima Internacional (IMO, sigla em inglês), combustível que tem sido bastante demandado no mercado internacional. As exportações de bunker amenizaram os resultados financeiros ruins da Petrobrás nos três primeiros trimestres de 2020.
“A gestão da Petrobras vai entregando ativos lucrativos e importantes para o resultado da empresa. Com a venda de tantos ativos que dão lucro, o que será da Petrobrás?”, questiona Bacelar.
“Por isso afirmamos que a empresa está sendo privatizada aos pedaços. Não vai sobrar nada. A Petrobrás vai ser tornar uma empresa pequena e mera exportadora de petróleo cru, sujeita a perdas imensas com o sobe-e-desce das cotações internacionais de petróleo”, reforça o coordenador-geral da FUP.