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Roda de conversa discute discriminação racial

No evento, participantes condenam tentativa de golpe e o aumento da onda conservadora

Publicado: 21 Março, 2016 - 18h02 | Última modificação: 21 Março, 2016 - 18h07

Escrito por: Walber Pinto e Rafael Silva da CUT-SP

Roberto Parizotti
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Em 2016, completam-se 56 anos do massacre de Shaperville. No dia 21 de março de 1960, em Joanesburgo, 69 negros foram mortos pela força da repressão do apartheid da África do Sul. Período interminável frente à discriminação racial. Eles protestavam contra a lei do passe, que os obrigava a portar cartões de identificação, especificando os locais por onde eles podiam circular. Durante o ato, no bairro de Shaperville, os manifestantes se depararam com tropas do exército que atirou contra a multidão.

A tragédia deixou marcas profundas para a população negra que, apesar da posse do corpo ter acabado, a discriminação ainda persiste. A data ficou conhecida como o Dia Internacional de Luta pela Eliminação Discriminação Racial, instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU). No Brasil, essas formas de racismo se expressam no genocídio silencioso da juventude negra.

Com o objetivo de refletir a data, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) realizou na manhã desta segunda-feira (21), em sua sede, uma roda de conversa com militantes do movimento negro e dirigentes sindicais.

A secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT, Maria Julia Nogueira, afirmou que é preciso criar ações para enfrentar o racismo. “É importante que esse movimento pense de que forma a população negra pode se organizar para combater a discriminação racial e não permitir um golpe que está em curso no país”, lembrou Julia, em referência ao processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff.

O atual momento político do país foi lembrado pelos participantes, que apontaram o perfil dos manifestantes a favor do golpe, predominado por pessoas brancas e alto poder aquisitivo, como reflexo de uma luta de classe preconceituosa.

Para o presidente da CUT, Vagner Freitas, é preciso fazer enfrentamento contra o racismo e ódio de classe. “Devemos massificar esse debate de forma politizada. Está ficando cada vez mais claro o preconceito racial e de classe que a elite tem contra nós”.

Douglas Izzo, presidente da CUT São Paulo, falou sobre o caso do diretor teatral Claudio Botelho, que durante apresentação, no último sábado (19), da peça “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos”, improvisou em uma das cenas chamando Dilma e o ex-presidente Lula de ladrões. Em áudio vazado, após o diretor ter interrompido a peça por conta da reação negativa do público, Cláudio diz nos bastidores que o ator é um rei e que não pode ser peitado por um negro na plateia.

“Essa frase, dita por um cidadão de Minas Gerais [o diretor], é a síntese de todo o pensamento dessa elite branca e racista que não aceita as mudanças que ocorreram no Brasil”, diz Douglas.

Representante do SINPEEM, João Nazareth Jr. diz que o aumento da onda conservadora se deve a não aceitação das mudanças sociais ocorridas no Brasil e em outras partes do mundo. “Todo esse ódio é pautado na perda de prestígios e privilégios. Tanto na Europa quanto nos Estados Unidos a gente vê a população conservadora se revoltando, e aqui não está sendo diferente”.

Extermínio

No Brasil, a juventude negra permanece sendo assassinada, de modo especial nas periferias. Dos 30 mil jovens assassinados em 2012 no Brasil, cerca de 82 mortes por dia-, 77% são negros, segundo o Mapa da Violência de 2013. O número é superior à média anual das guerras em curso em todo o planeta.

“Ser negro, jovem e morar na periferia de uma grande cidade em nosso país pode ser comparado a viver em alguns dos piores períodos da história da humanidade”, ressaltou o secretário municipal de Igualdade Racial da Prefeitura de São Paulo, Mauricio Pestana.

O imigrante senegalês, Cheikh Gueye, 28, é vendedor de tecidos e produtos africanos. Ele conta que já foi discriminado por policiais militares várias vezes no centro da capital paulista. “Abriram minha mala porque achavam que tinha droga. Certamente fizeram isso por eu ser negro”.

“Quando a gente traz pra dentro da CUT a discussão sobre o 21 de março é porque essa realidade também está dentro do Brasil, onde jovens negros são exterminados, a população negra está fora do mercado de trabalho ou ganham menos. Então é um momento para evidenciarmos e dizer que é preciso combater o racismo, as desigualdades sociais e mostrar que temos muito que avançar”, fala a secretária de Combate ao Racismo da CUT/SP, Rosana Aparecida da Silva.