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RS: Liquidação da Ceitec custaria R$ 300 milhões e traria atraso tecnológico

A reunião foi agendada pelo senador Paulo Paim (PT-RS)

Publicado: 27 Julho, 2020 - 09h37 | Última modificação: 27 Julho, 2020 - 10h48

Escrito por: CUT - RS

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Funcionários da Ceitec, localizada na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, reúnem-se na próxima quarta-feira (29), às 14h, com o secretário especial de desestatização do governo federal, José Salim Mattar, para alertar que a proposta de liquidação da empresa, que produz chips, custará mais caro do que mantê-la funcionando com um plano de mudanças de gestão, para que possa crescer e fomentar a tecnologia nacional. A reunião foi agendada pelo senador Paulo Paim (PT-RS).

A recomendação pela extinção foi formalizada pelo conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), sob a alegação de que, apesar de aportes de R$ 800 milhões em duas décadas, a estatal ainda depende de injeções anuais de pelo menos R$ 50 milhões para cobrir a diferença entre receitas e despesas. 

Números do próprio PPI projetam, no entanto, que essa diferença deixa de existir até 2028, mesmo no cenário mais pessimista. E essa trajetória pode ser acelerada para um balanço no azul na metade do tempo estimado, a julgar pelo plano dos empregados, que envolve cortes de custos e perspectivas comerciais já em curso. 

“O faturamento tem aumentado a cada ano. Temos um plano de gestão para em quatro anos chegar no zero a zero. Quer dizer, em quatro anos o governo não vai precisar investir nada”, disse o engenheiro Júlio Leão, que é o porta-voz da associação dos funcionários (ACCeitec). 

Não tem lógica gastar para extinguir uma empresa

Segundo ele, é menos do que custaria a liquidação da estatal. “Se a Ceitec fechar, precisará de R$ 300 milhões para descomissionar os equipamentos. É um parque com muitos químicos e gases tóxicos. É necessário uma licitação internacional para selecionar uma empresa estrangeira, licenciada para isso, vir desconectar”, afirmou Leão. 

Ceitec e independênciaCeitec e independência

 

 

Do ponto de vista mais amplo, a Ceitec já se pagou. Ainda conforme dados do PPI, é a segunda estatal que menos recebeu aportes públicos, aqueles R$ 800 milhões, mas no seu entorno foi criado um ecossistema privado, que hoje fatura mais de R$ 3 bilhões por ano. 

Os empregados da Ceitec acreditam, no entanto, que há motivos financeiros concretos para convencer o comissário de privatizações, com base na curva de faturamento e inputs até aqui não considerados pelo governo. A empresa já está no mercado de chips de logística. Tem a patente que lhe garante o fornecimento global de chips RFID para os pneus da Pirelli. Tem acordo comercial para fornecer sensores de saúde, em nova linha que pode ser expandida para o setor agrícola. 

“Inventamos um processo de fabricação inédito de sensores e estamos depositando patentes. Já temos protótipos homologados. Temos clientes comerciais alinhados e podemos começar ainda em 2021, com capacidade reduzida, e em 2022 com plena capacidade. E a partir desse caminho na área médica, abre-se um similar na agricultura, pelo desenvolvimento de sensores nessa área, disse o representante da associação.

Brasil está atrasado em tecnologia

“Na competição pela tecnologia, já estamos atrasados. Agora querem nos tirar de vez dessa corrida”, afirmou o funcionário da Ceitec e diretor do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre, Edvaldo Muniz.

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“Os Estados Unidos demonstram que querem mais fábricas de circuitos integrados (chips), talvez até criar uma empresa estatal para isso. Também já anunciaram um auxílio bilionário do governo às indústrias de semicondutores para superar a crise. Eles entendem a importância de manter o domínio da tecnologia e também de não ficarem dependentes do mercado chinês”, explicou. 

Para o dirigente sindical, “os circuitos integrados estão nos celulares e computadores, nos sistemas de comunicação e internet, nos equipamentos militares e médicos, nos veículos, cartões de banco e rastreamento de mercadorias. Não há como negar a importância da indústria de semicondutores para o desenvolvimento, a competitividade e a soberania de qualquer país atualmente”.

“O Brasil é um dos poucos países, entre as maiores economias, que não dominam completamente a tecnologia de produção de circuitos integrados. Somos hoje dependentes de semicondutores importados. Não participamos do lucro desse mercado multibilionário”, destacou Muniz.

“No entanto, em vez de investir mais nesse setor, o Brasil quer investir menos. O governo federal quer liquidar a Ceitec, a única empresa no Brasil que atua no projeto e na produção de circuitos integrados”, frisou. 

Conforme Muniz, “extinguir a Ceitec é escolher deliberadamente o caminho da dependência e do atraso tecnológico. Por que escolhemos ir na contramão dos outros países, e acabar com a semente de uma indústria de alta tecnologia, que só vai trazer benefícios para a sociedade e para o Brasil?”

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Fonte: CUT-RS com informações do site Convergência Digital