Escrito por: CUT-RS
O Fórum vai até sábado com plenárias, seminários, assembleias e debates em Porto Alegre
Mesmo com chuva, centenas de pessoas tomaram as ruas nesta terça-feira (21), no centro de Porto Alegre, e participaram da marcha de abertura do 2º Fórum Social das Resistências, junto com a XII Marcha Estadual pela Vida e Liberdade Religiosa.
Após concentração no Largo Glênio Peres, onde ocorreram diversas manifestações de entidades e movimentos sociais, a caminhada partiu rumo ao Largo Zumbi dos Palmares, mas foi mais longe e terminou em frente à Usina do Gasômetro.
“Unidos seremos fortes” dizia a faixa que abriu a marcha, apontando o caminho da unidade para aumentar a resistência em 2020 contra os ataques dos governos neoliberais e fascistas e combater o ódio e a intolerância religiosa. O Fórum das Resistências vai até sábado, com plenárias, seminários, assembleias e debates, na capital gaúcha e na Região Metropolitana, como em São Leopoldo e Viamão.
Estamos aqui para acordar o povo
O secretário de Organização e Política Sindical da CUT-RS, Claudir Nespolo, explicou que o Fórum das Resistências, sob o tema “Democracia e Direitos dos Povos e do Planeta”, acontece ao mesmo tempo do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. “Lá está o ministro da Economia, Paulo Guedes, que fez a reforma da Previdência e quer fazer mais uma reforma trabalhista com a carteira verde e amarela”, destacou.
“Nós não estamos mortos e estamos aqui para acordar o povo porque vai chegar a hora em que isso acontecerá e aí vamos colocar as coisas no seu lugar”, disse Nespolo. “A ficha está caindo e muita gente já compreendeu que foi enrolada”, observou.
O secretário de finanças da CUT-RS, Antônio Güntzel, ressaltou que “é preciso dar um basta aos ataques aos direitos trabalhistas e sociais e um basta aos preconceitos religiosos”. Para ele, “estamos dando também um recado para aqueles que estão destruindo o nosso país”.
O diretor da Associação Brasileira de ONGs (Abong) e um dos coordenadores do Fórum Social Mundial, Mauri Cruz, destacou que, desde a primeira edição do Fórum das Resistências, em 2017, “a ideia foi construir um grande processo de unidade entre os movimentos sociais, que inicia desde o processo de preparação do evento, o envolvimento dos movimentos sociais, das redes sociais, o protagonismo das mulheres, da juventude negra, das mulheres negras, da comunidade LGBT, junto com os movimentos tradicionais”.
Para Mauri, “essa marcha, debaixo de chuva, está demonstrando que essa unidade revigora o processo de lutas, abre 2020, que certamente será um ano de muita resistência, muita luta e esperamos de muitas vitórias”.
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Democracia e soberania estão em risco
Para o ex-governador e ex-prefeito Olívio Dutra (PT), a marcha é uma demonstração da vontade permanente dos setores organizados do povo de ampliarem suas forças. “Nós temos que demonstrar que tem um caminho sendo seguido para ser ampliado e fortalecido. O objetivo estratégico dessa luta é a reconquista da democracia e o permanente aperfeiçoamento das instituições, inclusive dos poderes. O povo tem que ser sujeito e não objeto desse processo. O Fórum das Resistências é uma afirmação do protagonismo do povo na construção da política e de políticas em todas as áreas”, disse.
O deputado federal Paulo Pimenta (PT) destacou que Porto Alegre é a terra do Fórum Social Mundial e do orçamento participativo. Ele alertou que “a democracia e a soberania estão em risco, assim como os direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras e não há outro caminho senão o caminho da luta”.
“Estamos dizendo para o Brasil e o mundo que nós estamos resistindo ao governo Bolsonaro e vamos permanecer na luta, defendendo os nossos legados, defendendo a democracia e conquistando novas vitórias no caminho de um país mais justo e socialista”, frisou Pimenta, que é também presidente do PT-RS.
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Combater o fascismo
Para o deputado federal Elvino José Bohn Gass (PT), o Fórum das Resistências pode ser um elemento importante na construção dessa unidade. “Nós termos entidades que trabalham a unidade popular e que reafirmam a necessidade de serem ouvidos e terem políticas e programas públicos.”
Para Bohn Gass, “essa rede de resistência nas comunidades é fundamental. Essa terra aqui fez um Fórum Social Mundial. Essa capital gaúcha já teve orçamento participativo, conselhos, participação social, respeito às diferenças, e isso nós precisamos apresentar para a sociedade”.
Outro mundo é possível
A representante dos povos de matriz africana, Olumide Betinho, afirmou que “a Marcha pela Vida e Liberdade Religiosa está unificada com o Fórum Social das Resistências nessa ideia de que os povos precisam se juntar. O povo de terreiro, o povo indígena, o povo ribeirinho, o povo de santo, enfim, todos os povos, principalmente aqueles que são marginalizados, são excluídos e estão vivenciando um momento difícil no Brasil".
“Mais do que nunca é preciso vivenciar essa experiência de estar junto para poder pensar uma alternativa, acreditando que outro mundo realmente ainda é possível”, disse Olumide, fazendo referência ao slogan histórico do Fórum Social Mundial.
Já a representante da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro), Nídia de Oxum, salientou que essa marcha simboliza as resistências política, religiosa e dos povos de matriz africana e do dia a dia. “A opressão que nós estamos vivendo é demais. Não dá mais para aguentar. Então, acho que a gente tem que sair para a rua, tem que gritar, tem que pedir, nós temos que ser mais unidas para que alguma coisa mude, porque, do jeito que está, não é possível. A intolerância está total”, disse.
Unidade política em Porto Alegre
Outro tema recorrente nas falas foi a necessidade de os partidos de esquerda estarem unidos na eleição municipal em Porto Alegre neste ano. A vice-presidente estadual do PCdoB, Abigail Pereira , destacou que ouve a cobrança pela unidade nas ruas.
“A cada lugar que a gente vai, o povo faz uma pergunta que é recorrente: ‘Dessa vez vocês vão unidos, né?’ É recorrente isso. Nós temos uma responsabilidade e seremos cobrados se não construirmos essa unidade”, disse. Para ela, o momento de retirada de direitos, de avanço do fascismo e de negação do direito à cidade exige uma aliança que seja mais ampla do que a vista em eleições anteriores.
“Não tem alternativa senão a construção da unidade. As nossas diferenças seguirão e terão espaço para sobreviver, mas, neste momento, o que nos chama é a unidade, é a amplitude. O verbo que nós precisamos conjugar é ampliar e não demarcar. Não é demarcar cada um na sua ideologia. Nós precisamos estar unidos, construir um programa coletivo, de forma coletiva, para enfrentarmos essa avalanche”, concluiu.
Credenciamento
O credenciamento do Fórum já começou nesta terça-feira, no SindBancários (Rua General Câmara, 424), no centro de Porto Alegre, e deve ser feito presencialmente até quinta (23), no horário das 9h às 17h. A taxa de inscrição é de R$ 20,00 e o pagamento pode ser realizado no local, onde os participantes já retiram o seu crachá e a bolsa.
Rumo ao Fórum Social Mundial no México
O Fórum das Resistências soma-se as outras iniciativas que estão sendo articuladas no âmbito do FSM, como o Fórum Social Panamazônico, que será realizado de 22 a 25 de março de 2020 em Mocoa, na Colômbia; o Fórum Social das Economias Transformadoras, que será promovido de 25 a 28 de junho de 2020, em Barcelona, na Espanha; e o processo de articulação do próximo Fórum Social Mundial, que acontecerá no final de 2020 ou início de 2021, na cidade do México.