RS: Metalúrgicos debatem mudanças no mundo do trabalho com Dieese
Atividade reuniu representantes de sindicatos de metalúrgicos da CUT e também de sindicatos patronais
Publicado: 29 Outubro, 2019 - 10h48
Escrito por: CUT-RS
Cerca de 100 dirigentes sindicais, vindos de diversas regiões do estado, lotaram o auditório do Sindipolo, no centro de Porto Alegre, durante o seminário “Mudanças estruturais no mundo do trabalho: Desafios para a reestruturação do movimento sindical e do sistema de negociação coletiva”, realizado na manhã desta segunda-feira (28).
A atividade, que reuniu representantes de sindicatos de metalúrgicos da CUT e também de sindicatos patronais, foi promovida pela Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos do RS (FTM-RS). Também compareceram dirigentes da CUT-RS e da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação do RS. O objetivo era debater e criar respostas para reestruturar as relações sindicais diante do futuro do trabalho e da nova legislação trabalhista.
O sociólogo e diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lúcio, enfatizou o processo de mudanças profundas que atravessa o processo produtivo no mundo todo, especialmente no Brasil, como o projeto indústria 4.0..
"Não sabemos o que virá pela frente"
“O mundo do trabalho está mudando, não sabemos o que virá pela frente, nem os empresários sabem. Mais de 100 países já fizeram reformas trabalhistas e isso era uma demanda do setor industrial mundial”, contou.
Outra alteração que, para Clemente, precisa ser levada em conta é que há mudanças também nos proprietários das empresas e no investimento feito. “Atualmente, a taxa de investimento é de apenas 1/4 do lucro da indústria”.
Todas essas alterações se refletem nos mais diversos segmentos. “Há uma estagnação mundial, que impede o crescimento e faz com que o desemprego se torna estrutural, aumentando a flexibilização do trabalho e diminuindo os salários”, exemplificou. De acordo com ele, devido a desindustrialização no Brasil, estamos hoje no mesmo patamar que na década de 1950.
“É um momento crítico e desfavorável. O mundo vai pegar fogo, pois os resultados desse modelo industrial não são aceitáveis”, declarou Clemente, afirmando ainda que, segundo dados do IPEA, nos próximos 10 anos, 60% dos trabalhadores terão mudanças nas suas relações de trabalho. “Tudo o que construímos e sabemos até agora de movimento sindical não pode ser referência para o movimento sindical daqui para frente”, garantiu.
Entidades patronais também enfrentam dificuldades
Destacando as dificuldades que os empregadores enfrentam, o vice-presidente do Sinmetal, coordenador da Comissão de Negociação da CCT do Sinmetal e vice-coordenador da Contrab-FIERGS, Guilherme Scozziero, salientou o alto número de empresas fechando. "A indústria tem menos e paga mais, pois neste processo de desindustrialização houve um aumento significativo de impostos e poucos investimentos", disse.
De acordo com ele, muitas empresas pequenas são de famílias e os filhos não querem dar continuidade, não querem empreender. Além disso, Guilherme acredita que a situação é ainda pior para os empregadores, pois as entidades patronais estão sendo muito impactadas com a alteração no desconto compulsório, porém defendeu que a Reforma Trabalhista trouxe segurança jurídica para as empresas. "Há realidades muito diferentes até entre os municípios. Quem perde tempo no trânsito pode gostar de ter 30 minutos de intervalo e sair mais cedo, por exemplo".
Ele também defendeu que os trabalhadores precisam ser ouvidos, pois acredita que muitos querem flexibilizar a jornada. Para Guilherme, a unicidade deixará de existir, porém ele também crítica a pluralidade sindical. "Precisamos de interlocutores qualificados e de ponta, com capacidade de fazer com que os diálogos e as negociações evoluam. Tanto que estamos aqui reunidos, buscando o melhor para o movimento sindical", concluiu.
O coordenador da Comissão de Negociação da CCT do Simers, Edison Hauser, falou da representatividade do sindicato e destacou o mercado gaúcho, que produz 62% das máquinas agrícolas de todo o Brasil. "O Simers prima por uma relação construtiva com todas as entidades. Para isso é importante reconhecer os papéis de cada um e buscar encontrar soluções conjuntas".
Já o advogado e assessor jurídico do Simers, Thiago Guedes, abordou aspectos jurídicos das negociações. Para ele, a reforma sindical que se avizinha pretende fazer o que diziam que fariam na Constituição Federal de 1988. "O risco neste momento é que qualquer mudança legislativa pode dar errado", ponderou.
Thiago endossou a importância de uma reestruturação sindical com unidade. "Nosso maior impasse nas negociações é dar conta de atender demandas de grandes empresas como AGCO, John Deere e de inúmeras outras pequenas empresas que são atendidos pela mesma convenção". Segundo ele, é preciso deixar os sindicatos vivos, por isso, esse não é o momento de estabelecer posições duras.
"O nosso objetivo é fazer com que as convenções cheguem e sejam cumpridas por todas a empresas e para isso o pequeno empresário, assim como o trabalhador, precisa entender o papel e a importância das entidades sindicais, sejam patronais ou de trabalhadores", enfatizou.
Repensar o movimento sindical
Por fim, o secretário de Finanças da FTM-RS, Milton Viário, recordou que há quatro anos a Federação iniciou um trabalho diferenciado com as entidades filiados no que toca a representatividade e a organicidade. "Não podemos ter ilusões com a relação sindical e para isso é importante entender o papel de cada um. O relacionamento sindical é pragmático, embora seja um relacionamento de diferentes”.
Outro aspecto salientado por ele é que estamos num período de transição. Isso é difícil, pois muda o paradigma. "O papel do sindicato sempre foi de fiscal da lei, é isso está se modificando. Por isso, é necessário a construção de um novo dirigente, de um novo sindicato e de novas relações".
Milton apontou quatro elementos fundamentais na construção de uma nova cultura sindical: padrão que identifique os metalúrgicos da CUT, desenvolver a escuta, relação direta sem intervenção do estado e, por último, a necessidade de preservar a figura do negociador.
“É consenso que a industrialização ou a reindustrialização é primordial para o desenvolvimento do país e também para o movimento sindical. Para que se reestruture e para que os trabalhadores adquiram capacidade de se tornarem protagonistas no processo de transformação, colocando seus interesses e visão de mundo na construção da sociedade e da economia do futuro com justiça, igualdade, solidariedade e paz para todos”, finalizou.
Após, o debate foi aberto espaçou para a plenária.