Avanço do agronegócio torna unidade dos rurais obrigatória
Em encontro do Macrossetor da Central, dirigentes destacam possibilidade de criar movimento unificado da categorial na Central
Publicado: 17 Abril, 2015 - 19h49 | Última modificação: 18 Abril, 2015 - 13h24
Escrito por: Luiz Carvalho, de Brasília
Na mística de encerramento, trabalhadores rurais unidosRosane falou sobre a necessidade de construir uma entidade única de rurais da CUTCarmen (com o microfone) apontou que CNA disputa base com sindicatos de rurais (Fotos: Augusto Coelho)
Unidade, luta conjunta, fortalecimento da articulação. Em três dias de Encontro do Macrossetor Rural da CUT, esses termos foram repetidos como um mantra para indicar qual o grande desafio a ser superado pelos trabalhadores do campo na defesa de um projeto de desenvolvimento em que o campo seja lugar de vida e não apenas de produção.
Que observe na agricultura familiar uma alternativa para acabar com a miséria e colocar comida na mesa dos brasileiros, mas também para defender os recursos naturais. Um modelo que estabeleça também segurança nas relações trabalhistas de assalariados rurais.
O encontro terminou nesta-sexta (17), com a definição da coordenação do macrossetor, que será formado pelo secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre, e pelos dirigentes da Central ligados ao ramo: Carmen Foro (vice-presidente), Rosane Bertotti (secretária de Comunicação), Jasseir Fernandes (meio-ambiente) e Elisângela Araújo (diretor executiva).
A Fetraf (Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar) e os cutistas da Contag (Confederação dos Trabalhadores na Agricultura) indicarão ainda dois nomes para compor o conselho.
Rurais em peso
A abertura desse último dia começou com uma mística para lembrar os 19 anos do assassinato de 19 trabalhadores rurais sem terra pela polícia militar do Pará em Eldorado dos Carajás. Até hoje, nenhum servidor público foi responsabilizado.
“Esse é o nosso país, essa é a nossa bandeira, é por amor a essa pátria Brasil que a gente segue em fileira”, cantavam as lideranças rurais de 23 estados brasileiros presentes no evento.
Os dirigentes da CUT ressaltaram também que o encontro fazia justiça à importância do ramo. Com 1.500 sindicatos filiados, os rurais devem ser a maior categoria no próximo Congresso da Central (CONCUT), marcado para outubro, e são hoje a maior base cutista nas regiões Norte e Nordeste.
Apesar da capacidade de mobilização que esses números representam, muitas vezes cutistas da Contag e Fetraf esbarravam em divergências para realizar a luta conjunta. Para Carmen Foro, a capacidade demonstrada no encontro de construir pautas a partir de eixos que unificam as duas entidades é que deve nortear as ações.
“Daqui para frente temos que dar conta de construir uma agenda de curto, médio e longo prazo para trazermos temas que devem ser protagonizados pela CUT, como a reforma agrária. A Central sempre esteve nesse debate, mas quando um setor diretamente envolvido com a questão e unificado levanta essa bandeira ganha muito mais relevância”, avaliou.
A vice-presidente ressaltou ainda que a unidade do movimento social, seja ela no campo ou cidade, passa a ser obrigatória e não opcional diante do atual cenário.
“O momento é desafiador, temos a CNA (Confederação Nacional da Agricultura) e centrais pelegas disputando cotidianamente nossa base”, alertou.
CUT e sindicatos fortes
Na mesma linha, Rosane Bertotti disse que os ataques ao governo são somente a ponta do problema, que é o ataque a um partido forte (PT) e aos movimentos sociais. Ela destacou que a resistência da luta popular depende de Contag e Fetraf fortes para fortalecerem a CUT.
“Os setores conservadores querem aproveitar a fraqueza do governo para chegar aos movimentos que ajudaram a eleger a presidenta e vão começar pelos maiores, como a CUT. Por isso precisamos defender nossas pautas, mas também o projeto político.”
A dirigente acredita ainda que será necessária em breve uma organização única de rurais da Central diante do crescimento da força do agronegócio.
“Não sei se será federação, confederação ou só articulação política, mas precisamos elaborar isso, porque chegará o momento em que outras centrais farão e teremos dificuldade nisso.”
Central à frente do processo – Para as organizações que foram a base desse encontro, o fortalecimento da unidade entre Contag e Fetraf tem como elo principal a CUT.
“Os fatos mostram que não podemos atuar separadamente. No processo de discussão do PL 4330, por exemplo, o que mais exploraram foi a divisão da classe trabalhadora, ter lá uma central (Força Sindical) que se diz representante da classe trabalhadora a favor. Nós como cutistas precisamos politizar os trabalhadores que estão sendo levados para outros caminhos e para isso devemos crescer não só em sindicatos filiados, mas também em trabalhadores”, disse a secretária de Mulheres da Contag, Alessandra Luna.
A mesma visão tem o coordenador-geral da Fetraf, Marcos Rochinski. “Acho que para não nos perdermos no processo, precisamos ter como referência a Central Única dos Trabalhadores, lembrar que aquilo que nos unifica são os princípios da CUT. Esse debate precisa continuar.”