Escrito por: Rosely Rocha

Saiba quando vale a pena pedir a antecipação da restituição do imposto de renda

Economista da Unicamp e presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região explicam os cuidados na hora de contrair este tipo de empréstimo 

Alex Capuano

O brasileiro nunca esteve tão endividado. 60% da população estão com as contas atrasadas, diz a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL). Para piorar a crise econômica, os índices de desemprego não diminuem. São 13, 1 milhões de desempregados e 4, 9 milhões de desalentados, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Um alívio nas contas desses milhões de brasileiros pode ser a antecipação da restituição do Imposto de Renda (IR). Mas, todo o cuidado é necessário na hora de pedir este tipo de empréstimo.

Dependendo da instituição, o pagamento tem que ser feito de uma vez em dezembro ou no começo de janeiro de 2020. Se você receber a restituição antes dessa data, a dívida é automaticamente liquidada. Porém, se a restituição atrasar ou se a declaração ficar retida na malha fina, não tem jeito: a quitação do empréstimo terá de ser feita até a data estipulada pelo banco.

O economista da Unicamp, Arthur Welle e a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região, Ivone Silva aconselham que a antecipação da restituição do IR, só valerá a pena se os juros da dívida que você deseja pagar são maiores do que os do empréstimo da restituição.

Ivone Silva cita como exemplo, as taxas cobradas pelo sistema financeiro do cartão de crédito e cheque especial.

“O trabalhador precisa ter cautela ao utilizar alguns serviços bancários, com altas taxas de juros. A taxa média do cheque especial passou de 315,6% ao ano, em janeiro, para 317,9% ao ano, em fevereiro, um aumento de 8,6 pontos porcentuais. Foi o quarto mês seguido de alta. Já a taxa média do cartão de crédito rotativo subiu de 286,9% ao ano, em janeiro, para 295,5% ao ano, em fevereiro”, alerta a dirigente.

Já no caso dos empréstimos que têm a garantia da restituição do imposto de renda, os juros tendem a ser menores, pois os bancos têm a segurança de que irão receber o valor integral.

Juros cobrados pelos bancos / Restituição do IR

“Dependendo da situação é preferível recorrer à antecipação do Imposto”, afirma o economista da Unicamp, Arthur Welle.

“Se você deve no cartão de crédito ou no cheque especial antecipe o quanto antes a sua restituição, porque os juros desses dois tipos de financiamento são os mais caros do país. Mesmo que a restituição não quite toda a sua dívida, já alivia bem o total do que você tiver de pagar”, diz.

Welle, no entanto, alerta, que no caso de uma prestação de juros mais baixos do que a dos bancos, como os da “Minha Casa, Minha Vida”, que em alguns casos, são de 1,5% ao mês, não vale a pena trocar pelas taxas cobradas pela antecipação da restituição. Também não vale a pena pagar juros para comprar algum bem, cujo fornecedor não dê descontos no pagamento à vista.

O economista aconselha ainda que, se mesmo com a restituição do IR, você ainda fique endividado, faça o quanto antes uma renegociação. Não espere juntar o dinheiro.

“Muitas vezes, a pessoa tem a ilusão de que vai conseguir sair do buraco financeiro porque acha que vai conseguir logo o dinheiro, quase esperando um milagre. Isto é muito ruim, só aumenta a bola de neve das contas a pagar”, diz

Como pedir a restituição do IR

Esse tipo de empréstimo pode ser contratado em diversos bancos, nas agências ou pelos canais de atendimento eletrônico.

O pedido de antecipação só poderá ser feito no banco indicado na declaração do IR para receber a restituição. Caso você mude de ideia e queira pedir o  empréstimo em outra instituição, faça uma retificação na declaração do imposto indicando o novo banco .

Economia estagnada

Arthur Welle lamenta que a economia não dê sinais de crescimento. Segundo ele, quando há um índice muito grande de pessoas em contas em atraso isto significa que muita gente vai preferir pagar dívidas do que consumir.  

“Quando a atividade econômica é retomada, a primeira coisa que uma pessoa faz, é pagar contas em atraso. Por isso, um pequeno crescimento não impacta na demanda. O ideal seria as famílias terem condições de tomar crédito. Quando a pessoa planeja e consegue pagar a prestação de uma geladeira, um imóvel, ou qualquer outro bem, significa que a economia vai bem. Gira a roda”.

Já a presidenta do Sindicato dos Bancários afirma que esse “patamar absurdo de taxas de juros só aumenta o endividamento das famílias, tira os recursos de toda a sociedade que vai somente para os banqueiros”.

“É preciso que os bancos tenham mais responsabilidade social e ajudem o país a crescer, com crédito a juros menores e respeito com os trabalhadores e toda a população”, diz Ivone Silva.