Escrito por: Redação CUT
Senador bolsonarista, Rogério Marinho é um ferrenho defensor das reformas que retiram direitos da classe trabalhadora
O Senado Federal e a Câmara dos Deputados elegem nesta quarta-feira (1º) os presidentes das duas casas para os próximos dois anos. Os atuais presidentes, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e o deputado Arthur Lura (PP-AL) tentam a reeleição.
A disputa no Senado é mais dura do que na Câmara e pode haver traições, com risco de um terceiro turno das eleições para presidente da República, avaliam especialistas.
Pacheco, apoiado pelo presidente Lula (PT), que já deu várias declarações de apoia à democracia e pela punição dos terroristas que destruitram as sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro, contava com o apoio de seis partidos até ontem, mas pode ter menos.
Seu concorrente, que representa a extrema direita e apoia as pautas bolsonaristas, é o ex-ministro do governo de Jair Bolsonaro (PL), Rogério Marinho (PL-RN), que diz ser apoiado por três partidos, pode ter mais ou menos.
Pacheco declara a interlocutores ter mais de 50 votos. Marinho, por sua vez, alega contar com 34 votos garantidos. Se ambos estiverem dizendo a verdade, há senadores fazendo jogo duplo, diz reportagem da Carta Capital.
Na avaliação do analista político Marcos Verlaine, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), uma vitória de Marinho sobre Pacheco levaria à prorrogação do conflito institucional e da pressão contra o Poder Judiciário, em especial o Supremo Tribunal Federal.
“Será uma espécie de terceiro turno”, resumiu Verlaine a CartaCapital. “Inclusive, o bolsonarismo joga em uma tática política estranha, de pouca inteligência. Se o Marinho for vitorioso, vai haver muita pressão do bolsonarismo para que ministros do STF sejam impedidos, A gente não consegue sair da crise se isso acontecer”.
O analista pondera que levar essa pauta à presidência do Senado em uma improvável derrota de Pacheco seria “sinônimo de estupidez, burrice, equívoco e falta de compreensão da realidade nacional”.
“Se o bolsonarismo chegar ao terceiro cargo na hierarquia da República com esse tipo de agenda, ficará muito difícil para o Rogério Marinho”, afirma Verlaine. Segundo ele, porém, ainda que a eleição seja secreta, não deve haver defecção suficiente na base de Pacheco a ponto de viabilizar um triunfo de Marinho. “Avalio que, apesar de todo esse frisson, o presidente vai ter uma eleição relativamente tranquila.”
Mas, afinal, quem é Rogério Marinho?
O empresário e senador Rogério Marinho tem 59 anos, já foi do PSDB e PSB, é bolsonarista de carteirinha e um ferrenho defensor das reformas que retiram direitos da classe trabalhadora.
Ele foi relator da reforma Trabalhista do ilegítimo Michel Temer (MDB-SP), que extinguiu mais de 100 itens da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e legalizou formas precárias de trabalho, como o contrato intermitente. O trabalhador que assina este tipo de contrato fica à disposição do patrão que pode chamá-lo quando precisar - uma, duas, três vezes por mês, só nos finais de semana etc., - e pode receber menos de um salário mínimo por mês, dependendo de quantas vezes for chamado.
No ano seguinte, tentou se reeleger deputado federal com enorme apoio do empresariado beneficiado com a nova lei, mas não conseguiu votos suficientes para voltar a Brasília.
A campanha da CUT #VotouNãoVolta, denunciando deputados que traíram a classe trabalhadora, deu resultado e Rogério Marinho não se reelegeu. Ficou em segundo lugar do ranking de deputados que mais receberam doações.
Por sua experiência em tirar direitos da classe trabalhadora, foi nomeado secretário especial da Previdência no governo Bolsonaro, onde atuou de 2019 a 2020, especialmente para ajudar a aprovar a reforma da Previdência, que acabou com o sonho de milhões de trabalhadores de um dia se aposentar.
Rogério Marinho era considerado pelo governo e pelos amigos empresários como o homem certo para a tarefa de mexer nas aposentadorias. Conseguiu.
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Como prêmio, Rogério Marinho foi nomeado ministro do Desenvolvimento Regional - de 2020 a 2022. O Ministério é responsável pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), envolvida em denúncias de corrupção e investigada pela Controladoria Geral da União (CGU) por facilitar o uso ilegal de dinheiro público em troca de apoio político.
O presidente da Codevasf era Marcelo Moreira Pinto, indicado por Arthur Lira e pelo ex-ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), os manda-chuvas do Centrão.
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Rolo com terceiizada
Segundo a Carta Capital, Rogério Marinho é investigado em um inquérito aberto no STF por envolvimento em uma empresa terceirizada que coagia funcionários demitidos a renunciar às verbas rescisórias e a devolver a multa do FGTS. Por meio das fraudes, a companhia se apropriou ilegalmente de 338 mil reais devidos a mais de 150 trabalhadores, afirma o Ministério Público do Trabalho (MPT).
Em março do ano passado, o Estadão publicou matéria afirmando que Marinho também será investigado após um empresário que prestou serviços à sua campanha à Prefeitura de Natal, em 2012, admitir à Polícia Federal que o parlamentar lhe deve R$ 1 milhão referente ao pleito.
Veja o passo a passo da votação no Senado: