Escrito por: CUT RS

Sapateiros do RS organizam campanha salarial e defendem livre acesso aos banheiros

O INPC acumulado dos últimos 12 meses em julho foi de 9,22%, segundo o IBGE

CUT RS

As sapateiras e os sapateiros do Rio Grande do Sul estão preparando a campanha salarial deste ano, dialogando com a categoria e fazendo manifestações nas portas de entrada das indústrias de calçados no Vale dos Sinos.

O objetivo é buscar a recuperação do poder de compra dos salários, que se encontram defasados diante do crescimento da inflação por causa do aumento dos preços dos alimentos, da gasolina e do gás de cozinha, dentre tantos outros.  

Reposição da inflação, aumento real e dignidade no trabalho

Com data-base em 1º de agosto, o presidente da Federação Democrática dos Sapateiros do RS, João Batista Xavier, afirma que será pautada a reposição da inflação pelo INPC do período, aumento real e manutenção dos direitos garantidos na convenção coletiva da categoria. O INPC acumulado dos últimos 12 meses em julho foi de 9,22%, segundo o IBGE.

Também será reforçada na campanha a necessidade de melhoria das condições de trabalho, como o livre acesso ao uso dos banheiros que continua sendo um problema nas fábricas e que atinge principalmente as mulheres. 

Segundo Batista, o episódio ocorrido em 24 de junho com uma jovem sapateira grávida da Zenglein, em Novo Hamburgo, que foi impedida de ir ao banheiro e acabou urinando nas calças no local de trabalho, não foi um fato isolado.

“O acordo coletivo assinado pelo Sindicato com a Zenglein, após intenso processo de denúncias e mobilização, abriu um importante precedente e vamos pressionar os patrões para colocar essa conquista na convenção coletiva, a fim de que nenhuma sapateira e nenhum sapateiro passem por esse constrangimento desumano e vergonhoso”, defende o presidente da Federação. 

O secretário de Administração de Finanças da CUT-RS, Antonio Güntzel, que é também sapateiro, ressalta que, “apesar da pandemia do coronavírus e da política genocida do governo Bolsonaro, a categoria quase não parou de produzir e precisa ser valorizada com melhores salários e condições dignas de trabalho”.

Trabalhadores protestam na Beira Rio

Na terça-feira (13), uma manifestação foi realizada em frente ao prédio da indústria de calçados Beira-Rio, no bairro Canudos, também em Novo Hamburgo, com a participação do presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, e de dirigentes da Federação e de vários sindicatos da região.

"Estamos aqui para apoiar a luta das sapateiras e dos sapateiros, que estão organizando a campanha salarial e lutando com muita ousadia e esperança por respeito e dignidade no trabalho", disse Amarildo.

O protesto chamou a atenção sobre a precariedade das relações de trabalho no setor calçadista e repudiou a proibição ao uso do banheiro no local de trabalho.

A diretora do Sindicato dos Sapateiros e das Sapateiras de Novo Hamburgo e da CUT-RS, Jaqueline Erthal, denunciou o absurdo que é uma empresa manter tal prática em pleno século 21. 

“A trabalhadora da fábrica Zenglein solicitou, por três vezes, utilizar o banheiro, e por fim acabou urinando em sua roupa. Foi dispensada do trabalho e voltou a pé para casa, caminhando por cerca de meia hora, sendo motivo de constrangimento por onde passava. Nós, do Sindicato, estamos dando suporte jurídico e oferecendo apoio psicológico para essa trabalhadora", disse Jaqueline.

A sindicalista explicou que o Sindicato precisou realizar uma negociação com a direção da empresa e assinar um acordo coletivo de trabalho para garantir o direito de livre acesso ao banheiro. Agora, segundo ela, a intenção é levar esse acordo para as demais fábricas e regrar para toda a categoria. “Em pleno século 21, ainda temos que negociar o uso do banheiro. Isso é triste", lamentou.

Gestão das empresas precisa valorizar quem trabalha

O vereador Enio Brizola (PT), que é ex-sapateiro e e membro da Comissão Estadual de Direitos Humanos, destacou que, “em plena revolução industrial 4.0, ter que discutir utilização dos banheiros é voltar ao tempo das trevas”. Para ele, é muito triste que a CUT e os trabalhadores tenham que se mobilizar por isso. “Deveríamos estar aqui discutindo participação de lucros para os trabalhadores”, exemplificou.

A estudante e participante do coletivo de Mulheres Elza Soares, Eduarda Milena, participou do ato e levou solidariedade à luta da categoria. "Vim aqui porque é um absurdo que as mulheres ainda passem por essas dificuldades. Não podemos permitir esse tipo de coisa, pois afeta diretamente a saúde física e psicológica de todas nós. Imagine você trabalhar com medo de se urinar?", questionou.

"As empresas precisam mudar a mentalidade”, frisou o trabalhador e morador de Novo Hamburgo, Robson Santos. “Nós, LGBTQI+, também sofremos esse tipo de discriminação absurda em relação ao uso dos banheiros. É sério que em 2021 estamos precisando implorar para usarmos o banheiro?", perguntou.

Audiência pública na Assembleia Legislativa

A restrição ao uso de banheiros na indústria calçadista será tema de audiência pública no próximo dia 4 de agosto, a partir das 9h30, da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do RS, por requerimento da deputada estadual Luciana Genro (PSOL) após o caso ocorrido na Zenglein. 

"A audiência é importante para podermos debater o assunto de forma geral e pedir que esse protocolo seja adotado por todas as empresas”, afirmou a deputada. A reunião será transmitida ao vivo no canal do Youtube da Assembleia.