SC: 44,6% dos professores das redes públicas tiveram problemas de saúde em 2021
Objetivo da pesquisa do SINTE/SC é coletar dados e pensar ações para combater e cobrar do governo do estado um ambiente saudável para os trabalhadores e as trabalhadoras da educação
Publicado: 10 Fevereiro, 2022 - 08h30 | Última modificação: 10 Fevereiro, 2022 - 08h32
Escrito por: Silvia Medeiros, do SINTE/SC | Editado por: Marize Muniz
Quase 45% dos trabalhadores e trabalhadoras da rede pública de ensino de Santa Catarina tiveram algum problema de saúde em 2021, quase 70% trabalharam doentes em algum momento para não prejudicar os estudantes e muitos tomam medicamentos contínuos e controlados.
Esses são alguns dados da II Pesquisa de Saúde Docente, realizada pela secretaria de Saúde do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina (SINTE/SC), que entrevistou 1.576 profissionais durante os meses de setembro e outubro de 2021.
“44,6% dos entrevistados tiveram algum problema de saúde, em 2021”, diz o secretário de Saúde do Trabalhador do SINTE/SC, Evandro Accadrolli, preocupado com o alto percentual.
“É um número altíssimo que preocupa e exige medidas urgentes que priorizem a redução do adoecimento de quem trabalha na educação”, afirma o dirigente, acrescentando que o objetivo da pesquisa é coletar dados e pensar ações para combater e cobrar do governo do estado um ambiente saudável para os trabalhadores e as trabalhadoras da educação.
De acordo com o secretário, estes problemas decorrem da falta de políticas para garantir melhores condições de trabalho; da falta de concurso público e desvalorização salarial, que gera sobrecarga; das perseguições à liberdade de cátedra que acarretam aumento do assédio moral e doenças mentais; e das mudanças do local de trabalho geradas pela pandemia e pelo sucateamento das políticas públicas.
Para o secretário, a carga extenuante e as mudanças de trabalho geradas pela pandemia agravaram o adoecimento da categoria.
Para não prejudicar estudantes, professores e professoras trabalham doentes
Ínguas pelo corpo, dor de cabeça, vômito e necessidade de afastamento por estresse e ansiedade.
Esse foi o quadro que a professora de artes da Escola Professor Mario Garcia em Camboriú Sandra Mara Santos Bergamo, viveu em 2020.
Mesmo com a orientação médica de afastamento por 60 dias para cuidar da saúde, a professora que trabalha há 20 anos com educação e tem 50 horas semanais divididos entre as redes estadual e municipal, preferiu não se afastar no final do semestre e continuar na sala de aula mesmo doente. O motivo: não queria prejudicar os alunos.
O caso da professora Sandra é comum na rede estadual de educação, trabalhadores e trabalhadoras resistem em se ausentar da sala de aula, para garantir a continuidade do conteúdo e não prejudicar os estudantes.
De acordo com a pesquisa de Saúde Docente, 68,5% dos profissionais que responderam o levantamento já foram trabalhar doentes e a principal justificativa (24,1%) foi ‘não atrasar o conteúdo aos estudantes’.
“Eu já estava no final do semestre quando consegui atendimento com um psiquiatra. Pensei em aguentar até o final do ano, pois tinha receio do estado não substituir um professor na reta final do semestre e acabar prejudicando os estudantes. Peguei 15 dias de atestado e trabalhei mais 20 dias doente, até chegar minhas férias e eu conseguir descansar e fazer o tratamento”, conta Sandra.
A cientista social Thaís de Souza Lapa, Coordenadora do Laboratório de Sociologia do Trabalho (LASTRO-UFSC) critica o descaso das autoridades com a saúde dos professores e a desvalorização da categoria.
“Não se pode admitir que uma categoria tão importante como as trabalhadoras de trabalhadores da educação sejam tão desvalorizados monetariamente e não tenham dignidade em suas condições de trabalho, sendo tratados como se fossem irrelevantes”, afirmou Thaís.
“O governo cobra como se eles tivessem que provar que estão trabalhando quando o que percebemos na pesquisa é que estão trabalhando sem condições físicas e mentais, por que não querem atrasar o conteúdo”, acrescenta a cientista social.
Para ela, esse cenário configura conflito político, em que o empregador acha que os trabalhadores estão fazendo corpo mole, quando na verdade eles estão trabalhando horas a mais e ainda doentes.
Adoecimento mental é o grande vilão
A Pesquisa de Saúde Docente do SINTE/SC identificou que a maior parte das doenças dos trabalhadores na educação está relacionada à saúde mental.
Ao serem perguntados sobre as doenças que os acometeram no ano passado, 934 dos 1.423 entrevistados que responderam a questão citaram algum problema relacionado á saúde mental.
Para Thaís, o adoecimento mental acompanha uma tendência mundial. “No passado tínhamos mais relatos de adoecimento físico, agora os psíquicos e repetitivos ganharam mais espaço. É uma característica da pressão dos empregadores e da carga de trabalho”, explica.
Mais de 50% tomam medicamentos contínuos
Outro dado que chama atenção e indica a gravidade da saúde dos trabalhadores na educação das redes públicas de Santa Catarina é o alto índice de pessoas que tomam medicamentos contínuos e controlados.
Pelo menos 52,47% disseram que tomam ao menos uma medicação contínua ou controlada.
“A gente está falando de uma categoria predominantemente feminina, estamos falando basicamente de mulheres que estão adoecendo”, destaca Thaís.
Trabalhadores da educação catarinense se infectam mais de Covid que a média nacional
À pergunta “você já se infectou com o coronavírus?”, 27,9% responderam que sim, ou seja, quase o triplo da média nacional, que no mesmo período, em outubro de 2021, era de 10,2% e quase o dobro da média estadual que é de 16,5% neste mesmo período.
De acordo com Evandro, este é um dado alarmante que preocupa nesta retomada de aulas com o crescimento de casos de Covid-19. Segundo ele, o governo do estado precisa garantir um ambiente saudável, vacinação para toda a comunidade escolar e o cumprimento dos protocolos de segurança.
Campanha do SINTE/SC propõe ação por um ambiente saudável
Depois de analisar o diagnóstico do quadro geral da saúde da categoria, o sindicato vai mapear os trabalhadores e trabalhadoras da educação que possam contribuir em seu local de trabalho com contato direto com um grupo de trabalho da entidade para pensar ações para os casos de adoecimento nas escolas, diz Evandro Accadrolli.
Segundo o dirigente, é necessário um envolvimento de toda a categoria para pensar ações conjuntas e cobrar do governo do estado o respeito e dignidade a quem educa em Santa Catarina.
“Nossa luta é para mostrar a realidade que vive a educação no estado e a urgência de políticas de valorização e ambiente saudável a todos os trabalhadores e trabalhadoras da educação”, afirma Evandro.
Confira aqui a íntegra da pesquisa.