SC: Estado de exceção persegue trabalhadores do IFC
Acusação arbitrária atinge professores e a reitora do Instituo Federal Catarinense
Publicado: 18 Agosto, 2017 - 14h37 | Última modificação: 18 Agosto, 2017 - 14h55
Escrito por: Sílvia Medeiros / CUT-SC
No dia 16 de agosto a Polícia Federal apreendeu em Abelardo Luz celulares e computadores pessoais de dois professores do Instituto Federal Catarinense – IFC, e realizou a quebra do sigilo de email dos dois, Ricardo Scopel Velho e Maicon Fontanive, e da reitora do campus, Sônia Regina de Souza Fernandes. Acusados de que o instituto está sendo controlado pelo movimento dos trabalhadores Sem terra, o MST, o Ministério Público Federal pediu o afastamento dos dois professores das funções ligadas ao cargo.
O instituto federal foi concebido dentro de uma lógica de educação popular, fruto de uma luta dos movimentos sociais do campo, com destaque para o MST. Diferente de todos os outros institutos, o IFC de Abelardo Luz oferece nove cursos, destes, sete são voltados à educação no campo. Abelardo Luz, cidade que fica no oeste do estado, foi o local da primeira ocupação do MST, em 25 de maio de 1985. Hoje são cerca de 22 assentamentos, que beneficiam 1.500 famílias. Se somar com os munícipios ao redor, são mais de 2.400 famílias assentadas.
Tendo a região e marcas da luta dos movimentos do campo, em 2011 o MST apresentou a presidenta Dilma a proposta de criação de institutos nas áreas de assentamento. Depois de muitos debates e audiências públicas, em 2013 o campus foi implantado.
Para Anna Julia Rodrigues, presidenta da CUT-SC, o ataque e perseguição aos professores do instituto e a reitora, só reafirma as denúncias de estado de exceção que vive o Brasil e fortalece os que pregam o discurso moralista de ‘Escola sem partido’. “Na mesma semana que é apresentado na Assembleia Legislativa de Santa Catarina o projeto do escola sem partido, um projeto de políticos da direita que não querem uma formação crítica da população, nós temos esse triste episódio envolvendo professores do IFC. O capital quer formar pessoas que sejam massas de manobra e mão de obra barata, eles não se conformam em termos novas formas de ensinar e pensar, querem destruir espaços de educação criados pelo povo”, destaca Anna Julia.
Segundo ela, a CUT-SC vai continuar acompanhando o caso dos professores e da reitora, havendo qualquer mobilização em defesa do Instituto a central estará presente. Em nota a CUT-SC destacou o seu repúdio e reafirmou a defesa do Instituto Federal Catarinense – IFC como espaço de formação da classe trabalhadora.
Confira a seguir a íntegra da nota da CUT-SC.
Não à intervenção no Campus Avançado do IFC de Abelardo Luz
A Direção a CUT SC repudia, veementemente, a mais uma ação típica de Estado de Exceção vivida no país, falsamente noticiado nos meios de comunicação nacional e discursado pelo governo golpista de Michel Temer em fóruns internacionais de que a democracia no Brasil é institucionalizada, madura e consolidada.
A determinação da Justiça Federal em Chapecó favorável ao pedido do Ministério Público Federal, de medida cautelar contra os professores do Instituto Federal Catarinense - IFC, Ricardo Velho e Maicon Fontanive, requerendo o afastamento de ambos das funções públicas e apreendendo seus telefones celulares e computadores, além de quebrar sigilo telefônico e de correios eletrônicos usados pelos professores e pela reitora Sonia Regina de Souza Fernandes, é mais um exemplo dessa falsa democracia consolidada.
A acusação do MPF de que “o Campus Avançado Abelardo Luz do Instituto Federal Catarinense estaria sendo controlado por membros do MST” é, no mínimo, uma desfaçatez, contra a concepção de educação e do direito de acesso a ela pelas camadas historicamente excluídas da educação de qualidade no país.
Quando os aparelhos educacionais do Estado brasileiro – institutos profissionalizantes e universidades, com graduações e pesquisas – se mantém atrelados aos interesses do grande capital industrial, agropecuário e financeiro, como historicamente estiveram, a indicação de cursos, pesquisas e relações na execução e resultados, inclusive financeiros, não são tratados como ingerências, mas como parcerias.
Estar inserido nas demandas da classe trabalhadora, tanto do campo quanto da cidade, e com conteúdos, metodologias e linguagens que partem da realidade social, deveria ser enaltecido pelas autoridades competentes do país - promotores, juízes, políticos, etc -, como compromissos do Estado com seu povo, se estes tivessem, de fato, seriedade em relação a vida com dignidade de todos e todas. Infelizmente, a ação contra o Campus Avançado do IFC de Aberlado Luz escamoteia os reais interesses políticos e econômicos de alguns poderosos da região, do Estado e, até do país, em atender aos interesses daqueles que tiram do povo trabalhador para aumentar seus fundos financeiros.
A Direção da CUT se solidariza com os trabalhadores/as do Campus Avançado do IFC de Abelardo de Luz e com as famílias que vislumbram, naquele Campus, o direito de terem um aparelho educacional do Estado que lhes garanta uma formação escolar de qualidade, uma formação que lhes permita, como todos os demais brasileiros e brasileiras, a nutrirem a esperança de dias melhores, a viverem em uma sociedade de justiça social.
Viva o Campus Avançado do IFC de Abelardo Luz!
Viva os servidores/as públicos do Campus comprometidos com a missão do Campus!
Viva os jovens trabalhadores/as campesinos/as e demais que estudam no Campus!
Viva a classe trabalhadora!
Florianópolis, 17 de abril de 2017.
Direção da CUT-SC