Escrito por: Redação RBA
“A seca está prestes a se tornar a próxima pandemia, e não existe vacina para curá-la”, aponta relatório da ONU. Mundo pode estar em “ponto sem retorno”
A Agência Nacional de Águas (ANA) declarou, no fim do ano passado, que grandes bacias com potencial hidrelétrico no Brasil viviam “situação crítica de escassez de recursos hídricos”. Desde então, o cenário só piorou. Trata-se da maior seca no Brasil em quase um século. Um dos fatores centrais que impactam no cenário é a falta de chuvas no Sudeste e Centro-Oeste. A situação brasileira aponta para um futuro de dificuldades no abastecimento de água em todo o mundo.
A ONU afirma que “a escassez de água pode ser a nova pandemia”, em referência à covid-19. “A seca está prestes a se tornar a próxima pandemia, e não existe vacina para curá-la”, disse Mami Mizutori, representante especial da ONU para redução de risco de desastres. Entre 1998 e 2017, relatório da entidade aponta para, ao menos, 124 bilhões de dólares em perdas, que afetaram 1,5 bilhão de pessoas. Com as mudanças climáticas relacionadas ao aquecimento global, a cada ano problemas correlatos se intensificam.
Projeções da ONU mostram que ao menos 130 países devem enfrentar maior risco de seca neste século. Entre as áreas de maior vulnerabilidade, estão pontos na América do Sul. Além da escassez de água pela seca, 23 países devem sofrer exclusivamente com crises de abastecimento pelo crescimento populacional; e 38 nações com ambos.
Assim como a pandemia de covid-19, períodos de estiagem prolongados provocam efeitos secundários, para além das mortes diretas. “A seca pode afetar indiretamente países que não estão passando por uma seca através da insegurança alimentar e do aumento dos preços de alimentos”, continuou Mizutori, em coletiva concedida no início da semana.
Além da América do Sul, existem outros pontos sensíveis e de preocupação imediata. O Oeste dos Estados Unidos vive a maior seca em 20 anos. A agência denominada Monitor de Secas dos Estados Unidos indica que 10% do país vive um período de “seca excepcional”. “Essa é uma das piores secas vividas pelo oeste dos EUA em 20 anos, tanto em termos de intensidade quanto de área atingida”, informa o órgão. Reservatórios do Rio Colorado, que abastecem Arizona e Colorado, estão com a menor capacidade desde 1930.
Também encontram-se em alerta regiões da África (em especial as dependentes do regime de chuvas subsaariano), na Américas Central, no centro da Ásia, no sul da Austrália, no sul da Europa e no México. O secretário-executivo da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação, Ibrahim Thiaw, é direto em sua posição. “A deterioração do solo, causada em parte pela má administração de terras, deixou o mundo perto de um ponto sem retorno”.
Além de buscar por economias mais limpas, com menor pegada de carbono e com atenção plena à sustentabilidade, a ONU alerta para o papel do Estado para evitar maiores tragédias. Entre as medidas, a entidade indica que os países não cortem água dos cidadãos por falta de pagamento. “Mas o que isso quer dizer? Quer dizer que temos que pensar em toda a problemática. Não é só proibir o corte, é também pensar na situação em que vão estar essas empresas, públicas e privadas, que vão deixar de ter ingressos, que vão deixar de ter receitas porque vai ter menos gente a pagar”, afirma a relatora especial da ONU sobre água e saneamento Catarina de Albuquerque.
“Eu acho que isto também é o momento de entender que a prevenção é a melhor cura. Esta é o momento de investir mais na água; de investir mais no saneamento; na higiene (…) Por isso, voltamos a uma questão sobre a qual eu tenho batido muito que é o tema da vontade política. Precisamos que chefes de Estado e de Governo ponham a água, o saneamento e a higiene nos topos das prioridades políticas para responder não só ao Covid mas para qualquer outra futura pandemia”, completa.
Com informações da Agência Brasil e UN News