MENU

Sem direitos e sem acordo, trabalhadores da Dataprev podem entrar em greve dia 8

A empresa pública não estende acordo coletivo e retira direitos garantidos de forma truculenta. Trabalhadores sofrem sem plano de saúde e dirigentes sindicais perdem o direito de lutar em prol da categoria

Publicado: 03 Março, 2021 - 08h30 | Última modificação: 03 Março, 2021 - 12h28

Escrito por: Érica Aragão

Agência Brasil
notice

A suspensão brusca do plano de saúde para todos os trabalhadores e trabalhadoras da Dataprev, em plena pandemia, com o crescimento de mortes e casos de Covid-19, apesar do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) de 2019/2020 estar ainda vigente e mais de um ano de negociação sem que a empresa ofereça reajustes salarias indignaram a categoria, que pode entrar em greve nacional na próxima segunda-feira (8).

A Dataprev é uma empresa pública de Tecnologia e Informações da Previdência, vinculada ao Ministério da Economia e responsável pela base de dados de toda população brasileira.

A decisão da categoria está sendo planejada de forma gradual. Nesta terça-feira (2), estão sendo feitas assembleias nos estados conforme as agendas locais para reiterar a decisão de paralisação que já vem sendo discutida entre os trabalhadores, segundo Socorro Lago, da Coordenação Nacional de Campanha Salarial da Dataprev e Secretária de Mulheres da Federação Nacional dos Trabalhadores de Empresas de Processamento de Dados, Serviços de Informática e Similares (Fenadados).

A greve já foi aprovada no Rio Grande do Norte, na Paraíba, São Paulo, Brasília e Ceará. Em alguns estados, onde as assembleias aconteceram na semana passada, foi aprovada a luta pelo dissídio coletivo no Tribunal Superior do Trabalho (TST) sem cruzar os braços.

A negociação da Campanha acontece desde maio do ano passado e a pauta de reivindicação da categoria foi entregue 90 dias antes da data base e foi negado pela empresa.

“A gente vem renovando o acordo em todo este período de negociação para exatamente não permitir nenhum direito a menos. E agora a empresa manda e-mail para os trabalhadores para dizer que só renovaria o Acordo Coletivo se fosse retirado duas clausulas que envolvem, entre outras coisas, o fim do plano de saúde, como se o problema da negociação fosse os sindicatos. Isto é uma chantagem com os trabalhadores, diz Socorro Lago.   

O que diz o ACT da Dataprev

O Acordo Coletivo da categoria garante que os empregados, ativos e passivos, e seus dependentes sejam amparados pelo plano de saúde empresarial. Segundo a Dataprev, a Geap, empresa de plano de saúde da categoria, não quis manter o contrato.

Privatização

Há um pouco mais de um ano, a Dataprev fechou mais de 20 unidades em todo país e demitiu centenas de trabalhadores. A Fenadados e seus sindicatos conseguiram, no TST, reverter várias demissões e realocar empregados na empresa. Isso tudo, sem contar com a luta dos trabalhadores e trabalhadoras contra os outros ataques que o governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) têm feito às empresas e servidores públicos.

Para Socorro, esta truculência da empresa, que tem em seu quadro diretivo só amigos de Bolsonaro, está sendo feito de forma orquestrada para facilitar a venda da Dataprev para o mercado internacional. Segundo ela, é muito importante dizer para a sociedade para que serve a Dataprev e frisar que o prejuízo da privatização será de toda população.

“Todos os dados do povo brasileiro estão na Dataprev. É nesta empresa que passa todas as informações dos trabalhadores e das trabalhadoras brasileiras para acessar qualquer benefício previdenciário e, inclusive, o auxílio emergencial. Vender este nosso bem é vender todos os nossos dados e nossa soberania para o mercado internacional. A luta contra as privatizações também é nossa”, explicou Socorro.

Drama dos trabalhadores

A dirigente da Fenadados conta um dos trabalhadores da Dataprev  está desesperado, com medo de perder a esposa que precisa de respiradores em casa para sobreviver, e o plano de saúde mandou buscar todos os equipamentos dela devido ao fim do contrato. 

Além dele, a mãe de um dos trabalhadores que tem câncer foi fazer quimioterapia e não conseguiu atendimento. Outro foi ao hospital para  um tratamento contínuo, e acabou voltando para a casa sem fazer o procedimento médico,  e nem sabia que não tinha mais plano de saúde.

Arquivo da famíliaArquivo da família
Mãe do trabalhador que ficou sem os equipamentos de saúde

 

“A gente fica assim, tentando ajudar os trabalhadores e ainda buscando alternativas para a luta pela categoria e contra este governo. A gente vai cobrar a empresa criminalmente também. Deixar a gente sem plano de saúde no meio de uma pandemia é desumano e irresponsável. O governo tirou toda possibilidade de tratamento e colocou todo mundo em risco de morte”, afirma a dirigente.

Ação antissindical

Socorro conta que na manhã desta terça os dirigentes sindicais ligados à Dataprev receberam um e-mail da empresa encerrando a liberação dos representantes dos trabalhadores e solicitando a todos e todas que voltem aos locais de trabalho no mesmo dia.

“Eles estão jogando sujo na comunicação com objetivo de colocar a culpa da intransigência deles no movimento sindical com mentiras, como Bolsonaro costuma fazer. E agora tiraram nosso direito de lutar pela categoria. A gente não pode deixar isso acontecer. Vamos reagir”, disse a dirigente.

*Edição: Rosely Rocha