Sem negociação com trabalhadores, Santander quer abrir agências neste sábado (22)
Alegação de que a medida visa contribuir com redução de endividamento de clientes é contestada. Liminar concedida ao Sindicato de Bancários de Rio Claro (SP) impede a abertura das agências na região
Publicado: 20 Janeiro, 2022 - 14h49 | Última modificação: 20 Janeiro, 2022 - 15h14
Escrito por: SP Bancários | Editado por: Contraf-CUT
O Santander decidiu abrir suas três mil agências em todo o Brasil, no próximo sábado (22), das 10h às 14h, sem qualquer negociação com a representação sindical dos trabalhadores. O banco se limitou a fazer uma ligação para a representação dos trabalhadores para informar sobre a decisão que já havia sido tomada, sem abrir possibilidades de negociações.
“É importante que haja negociação antes da comunicação oficial, espaço para colocar a posição do trabalhador, as condições de trabalho, as dificuldades impostas pela abertura num sábado, mas o Santander insiste na postura antissindical e antitrabalhador”, criticou a coordenadora da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Santander, Lucimara Malaquias.
Foram convocados para o trabalho no sábado os gerentes de negócios e serviços (GNS) de oito horas, gerentes gerais e gerentes PJ (de clientes pessoas jurídicas), gerentes PF (de pessoas físicas) e Van Gogh. Não trabalharão caixas, gerentes de negócios e serviços com jornadas de seis horas e demais cargos.
Liminar
Sindicatos já estão acionando a Justiça para impedir a abertura das agências. O Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (TRT-15), concedeu ao Sindicato dos Bancários de Rio Claro e Região uma liminar que impede a abertura das agências no próximo sábado nas cidades que compõem a base do sindicato.
Em sua decisão, o juiz Lucas Falasqui Cordeiro observa que “trata-se de fato notório a ameaça da variante Omicron da Covid, assim como da influenza” e que é “tradição e costume que o sistema bancário possui jornada de segunda a sexta-feira”.
Além disso, a Lei 4178/1962 proíbe o funcionamento de instituições financeiras aos finais de semana e feriados. O trabalho nestes dias somente é permitido com a realização de acordos coletivos com os sindicatos.
Na sentença, o juiz observa que “não há razões de fato ou de direito que justifiquem tal medida (a abertura das agências no sábado) sem a participação do sindicato dos trabalhadores”.
Lucimara Malaquias afirma que “a liminar é uma mostra de que a luta contra a abertura das agências no sábado tem respaldo legal e que o banco deveria, antes de tomar tal decisão, ter nos procurado para negociar”, referindo-se aos representantes dos trabalhadores.
Ela destacou ainda que cabe a cada sindicato a decisão de entrar com ação judicial neste mesmo sentido, uma vez que as tentativas de negociações com o Santander sobre o assunto foram infrutíferas.
Sem pagar horas-extras
O banco negou o pagamento de horas extras alegando dificuldades sistêmicas para tal. Os bancários que trabalharem no dia 22 terão direito a folgar uma hora e meia para cada hora trabalhada. A compensação se dará na semana seguinte e não nos seis meses praticados por meio da Política Interna de Compensação de Horas, que não foi negociada com o movimento sindical.
“Além de convocar para trabalhar em um sábado, durante a pandemia, o banco ainda se nega a pagar horas extras”, denunciou a coordenadora da COE/Santander. “Para abrir uma agência no sábado, o banco precisa fazer alterações sistêmicas e logísticas complexas e tudo isso foi feito em tempo recorde, mas quando se trata de beneficiar os funcionários, o banco sempre tem uma enorme dificuldade. Isso só aumenta a indignação dos trabalhadores”, completou.
Endividamento é culpa dos bancos
O banco alega que a inadimplência está alta e numa crescente, o que tem levado muitos clientes a serem negativados, e, por conta disto, ficarem sem crédito no mercado, num momento crítico de desemprego agravado pela crise econômica e sanitária no país.
Para Lucimara, não adianta o banco fazer marketing para tentar se mostrar como “bonzinho”, como uma instituição preocupada com endividamento do brasileiro, mas, na prática, contribuir para a situação de crise econômica e financeira do país.
“O Santander e o sistema financeiro de forma geral têm grande parcela de responsabilidade pelo endividamento da população e pela crise econômica e financeira no país, tendo em vista as tarifas e juros praticados e pelo direcionamento e segmentação do crédito apenas para públicos que despertam seu interesse por lucros”, criticou a coordenadora da COE/Santander.
“Se o banco quer reduzir a inadimplência e a pobreza no país deve gerar empregos e parar as demissões; reduzir juros e tarifas; interromper a terceirização; deixar de apoiar projetos de leis que retiram direitos e reduzem a massa salarial da população; e incentivar o crédito para pequenas e médias empresas; além de oferecer crédito responsável para os clientes”, completou.
Agravamento da pandemia
O país vive o agravamento da pandemia do coronavírus, junto com um surto de Influenza (H3N2), o que tem causado aumento nas contaminações nas agências e prédios e prejudicado os bancários.
Nesta situação específica, há uma questão social colocada: a campanha Desendivida pode ajudar milhares de clientes que já estão sem crédito ou prestes a negativarem, num momento em que mais de 14 milhões de pessoas estão desempregadas e sem perspectivas de retornarem ao mercado de trabalho.
“Há formas mais eficazes para ajudar a população, uma delas é contratar bancários para que possam atender a demanda de segunda a sexta, das 10h às 16h”, sugeriu Lucimara.
Os sindicatos constataram uma grande indignação dos trabalhadores em trabalharem no sábado, em meio a um momento crítico da pandemia de Covid-19 e do surto de influenza. Além disto, ao longo da pandemia, o Santander tem exposto bancários ao trabalho presencial, mantido protocolos frágeis contra Covid-19 e intensificado a terceirização que, na prática, significa retirada de direitos.
O sindicato quer saber
O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região está fazendo uma pesquisa para aferir a insatisfação dos bancários sobre a abertura das agências no sábado. O sigilo é garantido aos trabalhadores que participarem da pesquisa.