Escrito por: Tiago Pereira, da RBA
Maior produtor e exportador mundial de soja, país registrou aumento de 30% no óleo de cozinha. “Quando o mercado atua livremente, é isso o que acontece”, critica economista do Dieese
Item essencial na panela do brasileiro, o preço do óleo de soja subiu 30,1% nos últimos 12 meses. A elevação do produto foi 2,5 vezes maior do que a inflação do período, que ficou em 12,03% em abril. De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), somente no mês passado, o aumento do óleo foi de 11,47%, em relação ao mês anterior. Tudo isso no país que é o maior produtor mundial de soja.
Em 2021, o Brasil colheu quase 139 milhões de toneladas do grão. Desse total, 86 milhões de toneladas foram exportadas, estabelecendo um novo recorde. No óleo, 8 milhões de toneladas ficaram no país e 1,7 milhão de toneladas foram exportadas. Para este ano, a estimativa da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) é que o mercado interno deve ficar com pouco mais de 7 milhões de toneladas do óleo.
Para a supervisora de pesquisas do Dieese, Patrícia Costa, a recente alta do óleo de soja está relacionada com a Guerra na Ucrânia. Com a alta do petróleo no mercado internacional, aumentou a procura pelo produto, que também é utilizado na fabricação de biodiesel. No entanto, segundo ela, o governo federal teria condições de conter a alta do óleo no mercado interno. O que falta, no entanto, é vontade política.
“Tem várias maneiras de fazer isso, desde manter estoques de grãos, até a implementação de um imposto de exportação. Ou então estabelecer uma cota para a venda ao mercado externo. Mas não tem vontade política, na verdade”, declarou Patrícia. “Quando o mercado atua livremente, é isso o que acontece. Vai tudo para fora, porque os compradores têm dinheiro, pagam em dólar. E internamente as pessoas começam a pagar esse valor absurdo”, acrescentou.
À deriva
Além da alta do petróleo, em função da guerra, a economista lembra que a Ucrânia é um dos principais produtores de óleo de girassol. Assim, a demanda pelo óleo de soja brasileiro pelos produtores de biodiesel foi duplamente reforçada.
“O produtor visa o lucro. Então ele vai olhar e diz ‘bom, todo mundo quer soja, que está sendo mais lucrativa'”, frisou Patrícia. Outra consequência desse processo, segundo ela, é que a produção de soja vem avançando sobre outras culturas, como o feijão, por exemplo, o que também pressiona o preço desse outro elemento essencial do prato do brasileiro.
Ela também relaciona o aumento das exportações de soja à redução da renda dos brasileiros. “O produtor olha para um mercado interno deprimido, sem renda, sem consumo. As pessoas estão consumindo menos porque têm menos dinheiro. Então ele vai para onde tem maior lucro. E o governo não tem nenhum tipo de política de manutenção de parte da produção brasileira aqui dentro”, criticou. “Várias políticas poderiam ser feitas. Mas não tem vontade política, na verdade.”
Por fim, ela lembra que a banha de porco, que vem sendo apontada como alternativa ao óleo de soja, fazia parte da mesa do brasileiro a quase 100 anos atrás. Em 1938, quando o governo Getúlio Vargas instituiu a cesta básica, a banha fazia parte. Mas foi substituída pelo óleo de soja nas décadas seguinte. “É um retrocesso enorme”, lamentou.