Sem proposta dos Correios na audiência do TST, trabalhadores mantêm greve
Empresa não propôs acordo e TST marcou audiência do dissídio de greve para o dia 2 de outubro. Até a assembleia nacional da categoria, na próxima terça (17), trabalhadores vão continuar de braços cruzados
Publicado: 13 Setembro, 2019 - 16h47 | Última modificação: 13 Setembro, 2019 - 17h05
Escrito por: Érica Aragão
Representantes dos trabalhadores e das trabalhadoras da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), que estão em greve desde o último dia 10, participaram de uma audiência de conciliação com a empresa no Tribunal Superior do Trabalho (TST) na tarde desta quinta-feira (12).
A pauta de reivindicação da categoria inclui a manutenção de direitos trabalhistas e sociais no Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) 2019/2020 e reajustes salariais.
A empresa se negou a negociar com a categoria, propôs retirar mais de 40 cláusulas que impactam financeira e socialmente a vida dos trabalhadores, e ainda entrou na Justiça questionando a legalidade da paralisação com um pedido de dissídio de greve. Mas antes do julgamento, a Justiça convocou a empresa e os trabalhadores, que paralisaram mais de 70% das unidades dos Correios, para uma audiência de conciliação.
A greve está mantida, afirmaram os dirigentes após a audiência. Isso porque, não teve nenhuma proposta por parte da empresa na reunião mediada pelo ministro Maurício Godinho Delgado e a decisão do TST é provisória, sem garantia nenhuma e ainda precisa ser levada para assembleia nacional da categoria, no próximo dia 17.
Na assembleia, que será realizada pelos 36 sindicatos da categoria em todo o país, os trabalhadores e as trabalhadoras dos Correios vão avaliar a proposta do TST de suspender a greve no próprio dia 17. Em contrapartida, a empresa não vai descontar nenhum dia parado e vai garantir que todas as cláusulas do ACT 18/19 sejam mantidas até o dia 02 de outubro, data do julgamento do dissídio, que vai avaliar se a greve é abusiva ou não.
“Foram seis horas de audiência e a empresa continua intransigente, não apresentou nenhuma proposta e ainda mandou representantes que não podiam decidir nada”, criticou o Secretário-Geral da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect), José Rivaldo da Silva.
“Além disso”, prosseguiu o dirigente, “esta proposta do TST é válida até o dia 2 e ninguém pode garantir que nossos direitos serão mantidos no próximo ACT, mas quem vai decidir são os trabalhadores”.
Segundo Rivaldo, durante este período, de agora até o dia da assembleia nacional, a categoria vai continuar nas ruas conversando com a população sobre os ataques da empresa aos trabalhadores e as trabalhadoras e mobilizando mais companheiros para aderirem à greve.
“Estaremos em greve por tempo indeterminado e só voltaremos ao trabalho se os trabalhadores decidirem. Enquanto isso, vamos continuar fortalecendo a paralisação que já é uma das maiores que a categoria já fez”, disse Rivaldo.
Privatizações
Os trabalhadores e as trabalhadoras dos Correios também estão dialogando com a população sobre os prejuízos que todos terão caso o projeto do governo de Jair Bolsonaro (PSL) de privatizar 17 estatais, entre elas os Correios, seja executado.
A categoria está denunciando o General Floriano Peixoto, presidente da ECT, de improbidade administrativa devido a irresponsabilidade de tirar da população o acesso aos Correios, que chega aos 5.570 municípios do país.
“Tem região que não tem banco e nem outros tipos de serviços e a população local só tem os Correios para pagar conta, enviar produtos e dinheiro para outras localidades do país, além de outros serviços importantes. Duvido que uma empresa que quer comprar uma estatal e depende de lucro vai atender pobre”, provoca o Secretário-Geral da Fentect.
Os Correios são responsáveis pela logística das eleições, garantindo o direito universal ao voto, pela entrega de livros, uniforme escolar, merenda e kits escolares, pela distribuição das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e de remédios por todo país. Além disso, nos últimos dois anos, os Correios registraram lucro de R$ 828 milhões, sendo R$ 667 milhões só em 2017.
“É por isso também que a gente está em greve, o governo quer destruir nossa soberania e acabar com a relação social dos Correios e ainda justifica a privatização mentindo”, contou Rivaldo, que completou: “Eles dizem que a empresa não lucra e isso a gente está desmentindo nos quatro cantos que a gente vai, porque você acha que várias empresas como a Amazon iria querer comprar os Correios se não lucrasse?”, questiona Rivaldo.
Segundo o dirigente, “é uma luta por dignidade, por uma empresa pública, pela soberania e para combater esta política nefasta de Bolsonaro e do Floriano Peixoto”.
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