Escrito por: Concita Alves, CUT-RN
Apesar de não ser novidade na região, população não sabe lidar com os tremores de terra e as residências mais pobres não resistem a abalos pequenos, que causam poucos danos em uma metrópole
Os terremotos com magnitude superior a 5 são raros no país, mas, em média, um a cada cinco anos é registrado em algumas regiões do país. São relativamente fracos mas assustam a população, pouco habituada a conviver com esses abalos sísmicos, sem preparo para lidar com os tremores de terra e menos ainda menos para enfrentar as consequências. As residências mais pobres não resistem a abalos pequenos, que causam poucos danos em uma metrópole.
É isso que sofre há vários anos a população do Rio Grande do Norte, região que registrou vários terremotos nos últimos anos. Só em 2016, a terra tremeu 17 vezes em João Câmara, município que fica a 80 km de Natal.
Maria Egivânia dos Santos, 59 anos, professora, e diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do RN (SINTE-RN), é natural de João Câmara e relembra que há exatos 35 anos, houve o maior tremor de terra grande na cidade. O abalo foi de magnitude 5.1.
"Naquele dia eu estava em uma festa. Era uma sexta-feira, tinha 24 anos. O momento do maior tremor lembro até hoje. Foi uma cena terrível, um caos, faltou energia, foi muito aperreio, ficamos sem comunicação via telefone, todo mundo correndo, casas destruídas e muitas pessoas ficaram feridas".
De acordo com o Laboratório de Sismologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LabSis/UFRN), os terremotos acontecem porque a borda da Bacia Potiguar (Rio Grande do Norte e leste do Ceará), é uma das áreas sísmicas mais ativas do Nordeste do Brasil.
Na última sexta-feira (12), novos tremores de terra assustaram a população no estado, desta vez o terremoto foi no município de Pedra Preta, que fica a 119 km da capital. Moradores da região relataram em seus perfis nas redes sociais que o evento chegou a ser sentido e ouvido.
A professora Maria Egivânia disse que em sua cidade não sentiu esses tremores que ocorreram na sexta, mas tem medo que aconteça novamente. Ela ainda lembra o barulho e a sensação de desestabilidade provocada pelos abalos, como o que testemunhou na juventude. “É angustiante, ver tudo balançando. Isso nunca saiu de minha cabeça”, diz.
História
Em 1986, ano do maior abalo sísmico de grau 5.1, o munícipio de João Câmara, Região do Mato Grande potiguar, foi o epicentro dos tremores. O mais forte aconteceu durante a madrugada do dia 30 de novembro. Cerca de 4 mil residências foram destruídas ou danificadas na cidade. O evento fez parte de uma sequência de tremores na chamada Falha de Samambaia.
O Laboratório Sismológico segue monitorando e divulgando toda atividade sísmica que ocorra no estado potiguar e também da região Nordeste do país.
De acordo com os pesquisadores, a causa dos abalos sísmicos é a espessura da crosta. De um modo geral, dizem, a crosta no Brasil tem espessura semelhante à dos outros continentes – em média de 40 quilômetros, medidos a partir do nível do mar. Há algumas regiões no país, porém, em que a crosta chega a ser mais fina do que 35 quilômetros. No Nordeste, onde foi feita a maioria dos experimentos de refração sísmica pela equipe da Universidade de Brasília, isso foi confirmado.
Os cientistas já reuniram informações sobre a espessura da crosta em quase mil pontos na América do Sul, tanto no continente como no oceano – desse total, cerca de 200 medições foram feitas nos últimos 20 anos.
No mapa que sintetiza esses dados, publicado no Journal of South American Earth Sciences, os pesquisadores chamam a atenção para as regiões onde a crosta é mais espessa ou mais delgada. “A espessura da crosta é um dos parâmetros mais importantes para compreender a tectônica [as forças e os movimentos das camadas geológicas] de uma região”, afirma o sismólogo Jordi Julià, da Universidade Federal de Natal (UFRN).