Seminário compara golpes de 1964 e 2016
Encontro constata resistência nas ruas como importante trunfo da esquerda
Publicado: 30 Março, 2017 - 13h09 | Última modificação: 02 Abril, 2017 - 12h10
Escrito por: CUT

A CUT promoveu, durante a manhã desta quinta-feira (30), em Brasília, o seminário “Golpes na América Latina - Ontem e Hoje (Brasil: 1964 e 2016)”. Foi nesta data, no ano de 1964, que começou o regime militar no país. Durante o evento, os convidados compararam os episódios daquele ano com os de 2016, quando a presidenta eleita do Brasil, Dilma Rousseff, foi retirada do poder após um golpe.
Compuseram a mesa do encontro, Vagner Freitas, presidente nacional da CUT; Jana Silverman, diretora do Centro de Solidariedade (Solidarity Center) da AFL/CIO; Erika Kokay, deputada federal; João Felício, Presidente da Confederação Sindical Internacional; O diplomata Samuel Pinheiro Guimarães e Valter Pomar, professor de relações internacionais da UFABC. A mediação dos seminário foi feito pela secretária de Políticas Sociais e Direitos Humanos da CUT, Jandyra Uehara.
Responsável pela fala de abertura do encontro, Vagner Freitas fez uma comparação entre os episódios de 1964 e 2016. “Há uma similaridade entre eles. Sempre que os governos populares avançam com ganhos para a classe trabalhadora, a burguesia aplica um golpe, usando o mesmo argumento, a corrupção”, afirmou o dirigente CUTista, que mostrou entusiasmo com os processos de resistência que terão, amanhã (31), mais um episódio, com o Dia Nacional de Mobilizações. “Nós temos condições, com lutas e greves, de barrar esse golpe que está em curso no Brasil. No dia 15 de março colocamos mais de 1,5 milhões de pessoas nas ruas e amanhã faremos manifestações ainda maiores e no dia 28 de abril teremos a maior greve geral da nossa história.”
Jana Silverman exaltou a CUT, a quem chamou de “central sindical mais combativa de toda a América Latina”, e afirmou que as manifestações do último dia 15 de março podem ser “a semente da resistência à essas novas modalidades de golpe”. Em seguida, a sindicalista estadunidense apontou outros exemplos de Na Argentina tivemos manifestações grandes, assim como no Chile, na Colômbia avança na Colômbia, a esquerda avança no Equador. Minha expectativa é que amanhã, inclusive, as manifestações sejam maiores.”
Golpes
“Eu nasci em 1966, portanto dois anos após o primeiro golpe. De 1966 até 1976, eu morei em 6 cidades diferentes e tive três nomes diferentes. Em 1976 ficou claro pra mim o que ocorria, pela televisão, acompanhei que a polícia havia tomado uma casa funcional onde se organizava a resistência ao golpe, onde meu avô foi assassinado e meu pai preso”, narrou o professor Valter Pomar, usando sua própria trajetória para explicar os efeitos de um processo antidemocrático na sociedade.
Para o professor, a resistência ao movimento liderado por Michel Temer, que insiste na retirada de direitos da classe trabalhadora, deve permanecer nas ruas até que tenha êxito na queda do atual governo, impedindo a longevidade dos golpistas no poder.
“Houve golpe, mas nós não vivemos numa ditadura militar. Tem fascismo, mas nós não vivemos num Estado fascista ainda. Pode piorar muito. Há manifestações, há panfletagens, há mecanismos democráticos que conquistamos com muito suor. Nenhum golpe vem só com força, é necessário apoio popular. A direita primeiro conquistou o apoio popular, depois vem o golpe”, explicou o docente.
O ex-presidente da CUT e atual presidente da CSI, João Felício, insistiu na relevância do “trabalho de base. É mais importante do que eleger deputado”, explicou o sindicalista, que alertou a plateia do seminário para um dos objetivos do golpe de 2016.
“Parte do projeto dos golpistas é evitar que o Lula seja reeleito, eles querem prender o Lula, mas acho que não vão conseguir. Eu acho que em 2018 conseguimos voltar ao poder”, concluiu.
A deputada Érika Kokay (PT-DF), corrobora com a tese de tentativa, por parte da direita, de impedir mais uma ascensão de Lula à Presidência da República. “Eles não querem que o projeto popular volte ao poder em 2018, por isso vão buscar uma maneira de impedir que Lula se candidate e não será por vias eleitorais”, alertou.
A parlamentar salientou o papel da mídia no golpe de 2016. “A diferença do golpe militar para hoje, é que nós temos hoje uma força bruta que tem sutileza, que vai entrando em todas as casas, são os meios de comunicação. Eles capturam os corpos, os pensamentos e os comportamentos nacional da CUT, Vagner Freitas, presidenteSolidarity Center, contouvela sem essa resist estechadas e camponeses assassinados.”, afirmou a petista, que vê com otimismo a resistência nas ruas ao governo ilegítimo de Michel Temer, mas que alertou para possíveis manobras do grupo que tomou o poder no ano passado. “O golpe é institucional, dado na caneta. Mas para se sustentar, pode se aproximar das botas e baionetas”, encerrou.