Para Gleisi, Bolsonaro é ameaça para o Brasil e para o mundo
O dia 10 de dezembro marca sete décadas do documento surgido após a Segunda Guerra Mundial para promover igualdade, respeito, liberdade, tão ameaçados nos dias de hoje
Publicado: 10 Dezembro, 2018 - 12h11 | Última modificação: 10 Dezembro, 2018 - 13h35
Escrito por: Cláudia Mota, da RBA
Na abertura da Conferência Internacional em Defesa da Democracia, promovida nesta segunda-feira (10) pela Fundação Perseu Abramo, a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann classificou o presidente eleito Jair Bolsonaro e "seus companheiros de ultradireita" como uma ameaça não só para o Brasil e para a América Latina, mas para o mundo. Uma ameaça, segundo ela, ao desenvolvimento, ao Mercosul, aos Brics “e tudo que conseguimos construir nesse curto espaço de tempo como alternativa a ordem mundial vigente”, afirmou.
A senadora refere-se ao receituário neoliberal da equipe de governo e também à promessa de impor um regime autoritário, sem diálogo com a sociedade e por estimular, por meio de seus discursos, a violência aos opositores e a integrantes de movimentos sociais.
Para ela, o resgate da democracia passa pela libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Queremos um Brasil inclusivo, comprometido com a paz. E para isso é muito importante Lula livre”, disse a senadora, logo após ao bom dia ao presidente Lula, que abriu a sua participação no seminário. “A gente faz isso todos os dias desde que ele está lá para lembrar que estamos com ele”.
O evento, realizado com apoio do Comitê de Solidariedade Internacional em Defesa de Lula e da Democracia no Brasil, e da Secretaria de Relações Internacionais do Partido dos Trabalhadores, celebra os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Na noite desta segunda, será realizado também o Ato Internacional Lula Livre, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Desafios para a esquerda
“Diante dos avanços dos golpes contra governos populares e progressistas, cabe a nós da esquerda no Brasil e em todo o mundo, fazer uma reflexão aprofundada dos desafios que estão postos”, afirmou Monica Valente, secretária de Relações Internacionais do PT, na abertura da Conferência. “Pode parecer brincadeira que 70 anos depois nos reunamos aqui recuperando esses ideais, nessa conjuntura, da defesa dos direitos humanos, da democracia no mundo.”
Para o economista Marcio Pochmann, presidente da FPA, o cenário atual exige reflexão com humildade e profundidade. “Nada mais importante que reunirmos aqui especialistas e estudiosos, com a preocupação de tentar entender os caminhos em que estamos envolvidos e oferecer oportunidades, possiblidades”, afirmou.
Pochmann lembrou as obras de Christian Laval, pesquisador francês, para quem a crise de 2008 estabeleceu as bases de um novo neoliberalismo que aceita forças fascistas e corrói a democracia. “É uma fase que se recrudesce e parte da sociedade clama por proposições antissistêmicas, mas o que vem tem sido retrocesso”, avalia.
“Essa mudança da sociedade, urbana e industrial, apresenta sinais de outras caracterizações e exige reflexões da nossas instituições”, afirmou o economista. “De forma fraterna, como é comum aos nossos debates, queremos sair muito melhores do que quando iniciamos esse seminário.”
Aberrações do governo Bolsonaro
A senadora petista, Gleisi Hoffman, recordou a história do golpe e o lawfare a que Lula está submetido. “Sem Lula, tivemos a eleição de Bolsonaro. Lutamos contra uma fábrica de fake news inspirada e coordenada por Stevie Bannon [assessor na campanha de Donald Trump, nos EUA]”, relatou. “Bolsonaro se elegeu e mesmo fora do Brasil muitos estão estarrecidos com a postura dele e suas falas sobre matar, torturar.”
Gleisi comentou sobre a Cúpula Conservadora das Américas, realizada no sábado (8), em Foz do Iguaçu, “reunindo gente do mundo para fazer ofensiva à esquerda” e com um “discurso agressivo” contra as esquerdas. “No Brasil, o PT é o inimigo número um.”
E lembrou os ataques de Bolsonaro ao longo de sua trajetória como parlamentar contra indígenas, mulheres, negros, LGBTs. “E tem total desprezo pela questão ambiental. Seu ministro é uma aberração que segue o padrão dos demais. Diz que o aquecimento global é uma bobagem.”
Para ela, tem sido um mantra do presidente eleito e seus ministros atacar os movimentos sociais, principalmente o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e o MTST (Movimento dos Trabalhadores sem Teto), o que está gerando um nível de violência muito grande e intolerável. A senadora lembrou o assassinato de duas lideranças do MST no domingo, na Paraíba.
“Estive no velório dos companheiros. Encapuzados entraram no acampamento, identificaram os dois que eram dirigentes e descarregaram os revólveres”.
Gleisi criticou o que considera ser um incentivo de Bolsonaro à violência. “As pessoas estão assustadas. Isso está abrindo as portas para que as pessoas façam o que bem entenderem. Pensam que não haverá represália e é possível que não tenha”, disse. “Na Paraíba, o governador Ricardo Coutinho é um progressista e colocou a polícia para investigar, tenho certeza que teremos resultado. Mas do ponto de vista do Judiciário talvez tenhamos muito pouca agilidade nesse sentido.”
Guerra híbrida no mundo
Esse retrocesso, segundo Gleisi, não é algo só do Brasil. “Está acontecendo no mundo, na América Latina está muito presente . É um movimento para implantar política mais ortodoxa do neoliberalismo e está atingindo Argentina, Equador, Peru, Paraguai, Chile, perseguição à Venezuela.”
Para a senadora, vigora na região uma guerra híbrida contra as forças políticas progressistas e uma das vertentes é o lawfare (abuso da Justiça com fins políticos) contra Lula, “preso sem provas e agora evidenciado na nomeação de Moro (o juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, agora ministro da Justiça de Bolsonaro) para um cargo político, não técnico”.
Ela lembra que contra Lula valeu tudo, grampos, rapidez e agilidade nunca vistas, cerceamento de defesa, ordem de Moro, por telefone, em plenas férias para evitar liberação do ex-presidente via habeas corpus. “Como disse o grande jurista italiano, Luigi Ferrajoli, é utilizado contra Lula o direito penal do inimigo.”
Gleisi destacou, ainda, que as ações estão sendo conduzidas por um Judiciário politizado e partidarizado, um Ministério Público que tem lado. “Se posicionam nas redes sociais e vazam para a mídia informações seletivas do que querem do processo, criando uma narrativa de incriminação do presidente Lula, do Partido dos Trabalhadores e de outras lideranças. Então fazer um ato da liberdade de Lula e mostrar isso é muito importante. ”
A dirigente destacou a deliberação do Comitê de Direitos Humanos da ONU durante a campanha eleitoral para a Presidência da República. “Foi claro: Lula tinha direito de ser candidato. A prisão em segunda instância, no Brasil, foi aprovada pela Suprema Corte e não pelo Congresso Nacional. E teria de ser justificada, tal qual uma prisão preventiva, pelo risco que a pessoa condenada ofereceria à sociedade, para não poder ficar em liberdade até o ultimo grau de decisão. E com Lula isso não ocorreu.”
Para a senadora, a Moro no Ministério da Justiça representará um Estado policial e repressor a quem for oposição ao governo. Também destacou a figura de Paulo Guedes no comando da economia brasileira.
“É conhecido como um Chicago boy, um ultraliberal. Já sabemos o que irá acontecer em termos de garantias sociais. Teremos uma Estado repressor e a população em situação muito grave em termos de desenvolvimento e proteção social. O desemprego está alto e deve continuar porque o que estão propondo para a economia não tem capacidade de resgatá-la.”
Lula símbolo de conquistas
O papel do PT, segundo Gleisi, será de resistência e luta, de organizar uma frente democrática para combater retrocessos. “Só teremos sucesso se tivermos a ajuda solidária das forças progressistas de todo o mundo. Se não nos fortalecermos internacionalmente, não conseguiremos fazer frente a essa onda de direita e ultradireita que está se formando em vários locais.”
A senadora agradeceu e destacou a importância de todos que se deslocaram de seus países para conversar sobre a democracia no Brasil, no mundo, e sobre a liberdade de Lula que, destacou ela, é um símbolo brasileiro, latino-americano e mundial de conquistas.
“Acredito que vocês possam ser os articuladores dessa frente e de um grande observatório dos direitos humanos ao qual possamos recorrer em situações como essa de ontem (o assassinato dos sem-terra) para que o processo possa ser acompanhado internacionalmente e a Justiça possa ser feita.”
Acompanhe ao vivo
Programação
Segunda-feira, 10 de dezembro
9h-9h30: Abertura
- Marcio Pochmann, presidente da FPA
- Gleisi Hoffmann, presidenta do PT
Coordenação de mesa: Monica Valente, secretária de Relações Internacionais do PT
9h30-12h30: O conservadorismo e a extrema direita no mundo atual
- João Pimenta, Euro-deputado pelo Partido Comunista (Portugal)
- Jorge Taiana, deputado do Parlasul e ex-chanceler da Argentina
- Maria do Rosário, deputada federal e ex-ministra de Direitos Humanos do governo Dilma Rousseff (Brasil)
- Nektarios Bougdanis, Departamento Internacional do SYRIZA (Grécia)
Coordenação de mesa: Artur Henrique, diretor da Fundação Perseu Abramo
Debate com participantes e conclusões dos expositores
13h30-16h15: As respostas democráticas e progressistas
- Celso Amorim, presidente do Comitê de Solidariedade Internacional em Defesa de Lula e da Democracia no Brasil, ex-ministro das Relações Exteriores dos Governos de Luís Inácio Lula da Silva e ex-ministro da Defesa dos Governos Dilma Rousseff
- Isabel Moreira, deputada pelo Partido Socialista (Portugal)
- Javier Miranda, presidente da Frente Ampla (Uruguai)
- Txema Guijarro, secretário-geral do Grupo Parlamentar do Podemos (Espanha)
Coordenação de mesa: Antonio Lisboa, secretário de Relações Internacionais da CUT
Debate com participantes e conclusões dos expositores
Terça-feira, 11 de dezembro
9h-11h30: Alternativas e caminhos na luta em defesa da democracia
- Dilma Rousseff, ex-presidenta da República Federativa do Brasil
- Giacomo Filibeck, vice-secretário geral do Partido Socialista Europeu/PES
- Maite Mola, vice-presidenta do Partido da Esquerda Europeia/PIE
Coordenação de mesa: Rosana Ramos, diretora da Fundação Perseu Abramo
Debate com participantes e conclusões dos expositores
11h: Encerramento: Mônica Valente, Secretária de Relações Internacionais do PT