Senador bolsonarista quer investigar Bolsolão, que teve até taxa de fidelidade
Bolsolão desviou dinheiro para a aquisição de tratores e máquinas agrícolas superfaturadas mas só tinha acesso a grana quem votava com Bolsonaro, os fiéis. Senador aliado quer criar CPI e TCU deve investigar
Publicado: 11 Maio, 2021 - 13h03 | Última modificação: 11 Maio, 2021 - 16h42
Escrito por: Redação CUT
Um dia depois das denúncias do Bolsolão, esquema montado pelo governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) para garantir o apoio de parlamantares por meio de um orçamento secreto de R$ 3 bilhões e com mais detalhes sobre o caso sendo divulgado por outros jornais, o presidente, aquele que disse que ia acabar com a mamata, se referindo a corrupção do passado, não se sabe qual, fez a única coisa que faz bem-feito: insultou os jornalistas do Estadão, jornal que revelou o esquema.
Em conversa com apoiadores, Bolsonaro disse que o jornal inventou o orçamento secreto, chamou os jornalistas de canalhas e tentou explicar o inexplicável.
“Só os canalhas do Estado de S. Paulo para escrever isso aí", afirmou. Bolsonaro explicou para seus apoiadores que o Orçamento da União foi aprovado pelo Congresso depois de meses de discussão. Só não disse que, como provam os documentos que o Estadão publicou, a distribuição dos R$ 3 bilhões foi negociada em gabinetes do Palácio do Planalto e não no Congresso.
Mas, o presidente sabe que tem, sim, muito o que explicar. A denúncia deve ser investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e até por deputados da base aliada do governo que querem criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). E os desdobramentos desta terça-feira dão mais argumentos para a investigação, como os detalhes apurados pelos jornalistas Natália Portinari, Manoel Ventura e Melissa Duarte, publicada no jornal O Globo, que denunciaram a criação de uma taxa de fidelidade para escolher quem ia receber o dinheiro.
De acordo com a reportagem, o Bolsolão, esquema que desviou dinheiro para a aquisição de tratores e máquinas agrícolas superfaturadas, foi montado e colocado em prática com base numa taxa de fidelidade nas votações do Congresso. "Eleito com apoio do Planalto para comandar a Câmara, Arthur Lira (PP-AL) participou das negociações para a liberação de recursos para aliados. Presidente do PP, Ciro Nogueira também teve direito a indicar recursos. Somente na Codevasf, estatal controlada pelo Centrão, direcionou R$ 30 milhões para sua base", diz trecho da reprotagem.
"Enquanto contemplava aliados na Câmara e no Senado com as emendas, o governo mantinha um monitoramento da fidelidade dos parlamentares a seus projetos. Fichas obtidas mostram como a Secretaria de Governo, na gestão do então ministro Luiz Eduardo Ramos, fazia o acompanhamento da atuação de aliados no Congresso, com pontuação para posicionamento e favor e contra o Planalto nos principais temas”, dia a a.
“A fidelidade”, segue a matéria, “é um dos critérios para congressistas conseguirem melhor trânsito no governo, com possibilidade de liberação de emendas e indicação para cargos".
Ainda segundo a reportagem do jornal carioca, o subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado solicitou ao TCU que apure a reserva de R$ 3 bilhões do Orçamento de 2020 para deputados e senadores indicarem a destinação recursos para obras e compras de equipamentos em municípios.
O senador Roberto Rocha (PSDB-MA) também fez um requerimento para criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar o esquema. Rocha é aliado de Bolsonaro e tem apadrinhados na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), estatal que serviu de principal caminho para a execução das verbas secretas, segundo o Estadão.
“Entendemos imperiosa a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para que o Senado Federal proceda à vigorosa investigação desses fatos, visando bem esclarecer a sociedade brasileira e, caso sejam constatadas irregularidades, recomendar aos órgãos competentes o indiciamento dos suspeitos”, escreveu o senador na solicitação. Para ser instalada, uma CPI precisa das assinaturas de no mínimo ⅓ do Senado, ou seja, 27 senadores.
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