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Senador Marcos do Val renuncia após denunciar Bolsonaro de coagi-lo a dar um golpe

Nas redes sociais, o senador que tinha mandato até janeiro de 2027, renunciou e anunciou reportagem na Veja sobre “tentativa de Bolsonaro de me coagir para que eu pudesse dar um golpe de estado junto com ele”

Publicado: 02 Fevereiro, 2023 - 11h10 | Última modificação: 02 Fevereiro, 2023 - 11h21

Escrito por: Redação CUT | Editado por: Marize Muniz

Roque de Sá/Ag. Senado
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O senador Marcos do Val (Podemos-ES), 51 anos, eleito em 2018 com 863 mil votos para um mandato de oito anos (2019 a janeiro de 2027), anunciou na madrugada desta quinta-feira (2), durante uma live em suas redes sociais, a sua renúncia ao mandato. Antes, também em suas redes, ele havia denunciado o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de tentar coagi-lo a dar um golpe para seguir no Palácio do Planalto.

"Eu ficava puto quando me chamavam de bolsonarista. Vocês me esperem que vou soltar uma bomba. Sexta-feira vai sair na Veja a tentativa de Bolsonaro de me coagir para que eu pudesse dar um golpe de estado junto com ele, só para vocês terem ideia. E é logico que eu denunciei", disse o senador.

 
 
 
 
 
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Uma publicação compartilhada por Senador Marcos Do Val (@marcosdoval)

Em entrevista à GloboNews, o senador deu mais detalhes. Ele disse que, após as eleições do ano passado, o deputado federal cassado Daniel Silveira, preso na manhã desta quinta-feira (2), no Rio de Janeiro, em uma conversa diante de Bolsonaro, propôs a ele um golpe.

A Polícia Federal (PF) vai intimar o senador a depor na investigação aberta para apurar os ataques golpistas ocorridos após o segundo turno das eleições que confirmaram a vitória do presidente Lula (PT) e revoltaram os bolsonaristas que não aceitam a derrota do ‘mito’. No dia 8 de janeiro, após mais de 30 dias acampanados nas portas dos quarteis, terroristas bolsonaristas destruíram as sedes dos prédios do três Poderes, em Brasília.

O golpe, segundo reportagem da revista Veja

Marcos do Val entregou à revista Veja o plano de Bolsonaro para dar um golpe de estado no Brasil. A operação seria chefiada por Daniel Silveira e teria o apoio do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, comandado pelo general Heleno, e de dois militares "cinco estrelas".

Era 9 de dezembro de 2022, Marcos do Val e Silveira entraram escondidos no Palácio da Alvorada  para uma reunião com Bolsonaro, segundo a Veja. Lá, segue a revista, ele ficou sabendo do plano que consistia em manter ativos os acampamentos golpistas na porta de quartéis e gravar uma conversa comprometedora com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, para poder prendê-lo.

"Alguém de confiança do presidente se aproximaria do ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, devidamente equipado para gravar as conversas do magistrado com o intuito de captar algo comprometedor que servisse como argumento para prendê-lo. Esse seria o estopim que desencadearia uma série de medidas que provavelmente atirariam o país numa confusão institucional sem precedentes desde a redemocratização. Na reunião do Alvorada, Bolsonaro descreveu os detalhes dessa operação", relata a reportagem.

Três dias depois, no dia 12 de dezembro, do Val entrou em contato com Moraes pedindo um encontro presencial. “Dia emblemático”, escreveu o parlamentar ao ministro, se referindo àquele dia em que o presidente Lula (PT) havia sido diplomado pelo TSE e, à tarde, bolsonaristas tentaram invadir a sede da Polícia Federal. "Precisava falar como foi o encontro com o PR [presidente] e o DS [Daniel Silveira]", escreveu Do Val, dizendo que ambos o teriam convidado para "uma ação esdrúxula, imoral e até criminal”. O ministro agendou o encontro para dali a dois dias.

No dia 14 de dezembro, quando o STF julgava a legalidade do orçamento secreto, Moraes foi ao encontro de Do Val no salão branco do tribunal, durante o intervalo da sessão. "A conversa foi rápida, durou apenas alguns minutos. O parlamentar narrou detalhes do encontro que teve com o presidente, da proposta indecorosa que recebeu e os objetivos abjetos do plano. Acostumado nos últimos tempos a lidar com as mais mirabolantes teorias da conspiração, Moraes fez um único comentário: 'Não acredito', disse em tom de espanto".

Bolsonaro disse a do Val que já tinha garantido o apoio do GSI à operação para gravar Moraes com os equipamentos de espionagem. No dia seguinte, por mensagem, Silveira disse ao senador que  "a coisa toda era tão sigilosa que 'nem o Flávio saberá', se referindo ao filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro. 'Estarei em QAP até o comando do 01 para irmos até lá', acrescentou. No jargão policial, QAP significa 'na escuta', de 'prontidão'. Por último, Silveira lembrou que 'o conteúdo' captado seria utilizado exclusivamente para pautar a 'ação' que já estaria 'desenhada e pronta para ser implementar'".

"Não sei se você compreendeu a magnitude desta ação. Ela define, literalmente, o futuro de toda a nação", disse também Silveira.

Diante do silêncio do senador, o deputado afirmou que as “escutas usadas em operações especiais” já estavam à disposição para a ação, e reforçou: "se aceitar a missão, parafraseando o 01, salvamos o Brasil".

Após o encontro com Moraes e com medo de se meter em confusão, Do Val respondeu a Silveira: "irmão, vou declinar da missão". O então deputado assentiu: "entendo, obrigado".