Escrito por: Redação CUT
Nas redes sociais, o senador que tinha mandato até janeiro de 2027, renunciou e anunciou reportagem na Veja sobre “tentativa de Bolsonaro de me coagir para que eu pudesse dar um golpe de estado junto com ele”
O senador Marcos do Val (Podemos-ES), 51 anos, eleito em 2018 com 863 mil votos para um mandato de oito anos (2019 a janeiro de 2027), anunciou na madrugada desta quinta-feira (2), durante uma live em suas redes sociais, a sua renúncia ao mandato. Antes, também em suas redes, ele havia denunciado o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de tentar coagi-lo a dar um golpe para seguir no Palácio do Planalto.
"Eu ficava puto quando me chamavam de bolsonarista. Vocês me esperem que vou soltar uma bomba. Sexta-feira vai sair na Veja a tentativa de Bolsonaro de me coagir para que eu pudesse dar um golpe de estado junto com ele, só para vocês terem ideia. E é logico que eu denunciei", disse o senador.
O senador capixaba Marcos do Val revelou que sofreu coação de Bolsonaro para participar de um golpe de Estado. Ele informou que vai ter uma reportagem na Veja amanhã com uma "bomba". TIC TAC. pic.twitter.com/AvSgg58AyS
— Bruno Barreto (@Barreto269) February 2, 2023 Ver essa foto no InstagramUma publicação compartilhada por Senador Marcos Do Val (@marcosdoval)
Em entrevista à GloboNews, o senador deu mais detalhes. Ele disse que, após as eleições do ano passado, o deputado federal cassado Daniel Silveira, preso na manhã desta quinta-feira (2), no Rio de Janeiro, em uma conversa diante de Bolsonaro, propôs a ele um golpe.
A Polícia Federal (PF) vai intimar o senador a depor na investigação aberta para apurar os ataques golpistas ocorridos após o segundo turno das eleições que confirmaram a vitória do presidente Lula (PT) e revoltaram os bolsonaristas que não aceitam a derrota do ‘mito’. No dia 8 de janeiro, após mais de 30 dias acampanados nas portas dos quarteis, terroristas bolsonaristas destruíram as sedes dos prédios do três Poderes, em Brasília.
O golpe, segundo reportagem da revista Veja
Marcos do Val entregou à revista Veja o plano de Bolsonaro para dar um golpe de estado no Brasil. A operação seria chefiada por Daniel Silveira e teria o apoio do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, comandado pelo general Heleno, e de dois militares "cinco estrelas".
Era 9 de dezembro de 2022, Marcos do Val e Silveira entraram escondidos no Palácio da Alvorada para uma reunião com Bolsonaro, segundo a Veja. Lá, segue a revista, ele ficou sabendo do plano que consistia em manter ativos os acampamentos golpistas na porta de quartéis e gravar uma conversa comprometedora com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, para poder prendê-lo.
"Alguém de confiança do presidente se aproximaria do ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, devidamente equipado para gravar as conversas do magistrado com o intuito de captar algo comprometedor que servisse como argumento para prendê-lo. Esse seria o estopim que desencadearia uma série de medidas que provavelmente atirariam o país numa confusão institucional sem precedentes desde a redemocratização. Na reunião do Alvorada, Bolsonaro descreveu os detalhes dessa operação", relata a reportagem.
Três dias depois, no dia 12 de dezembro, do Val entrou em contato com Moraes pedindo um encontro presencial. “Dia emblemático”, escreveu o parlamentar ao ministro, se referindo àquele dia em que o presidente Lula (PT) havia sido diplomado pelo TSE e, à tarde, bolsonaristas tentaram invadir a sede da Polícia Federal. "Precisava falar como foi o encontro com o PR [presidente] e o DS [Daniel Silveira]", escreveu Do Val, dizendo que ambos o teriam convidado para "uma ação esdrúxula, imoral e até criminal”. O ministro agendou o encontro para dali a dois dias.
No dia 14 de dezembro, quando o STF julgava a legalidade do orçamento secreto, Moraes foi ao encontro de Do Val no salão branco do tribunal, durante o intervalo da sessão. "A conversa foi rápida, durou apenas alguns minutos. O parlamentar narrou detalhes do encontro que teve com o presidente, da proposta indecorosa que recebeu e os objetivos abjetos do plano. Acostumado nos últimos tempos a lidar com as mais mirabolantes teorias da conspiração, Moraes fez um único comentário: 'Não acredito', disse em tom de espanto".
Bolsonaro disse a do Val que já tinha garantido o apoio do GSI à operação para gravar Moraes com os equipamentos de espionagem. No dia seguinte, por mensagem, Silveira disse ao senador que "a coisa toda era tão sigilosa que 'nem o Flávio saberá', se referindo ao filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro. 'Estarei em QAP até o comando do 01 para irmos até lá', acrescentou. No jargão policial, QAP significa 'na escuta', de 'prontidão'. Por último, Silveira lembrou que 'o conteúdo' captado seria utilizado exclusivamente para pautar a 'ação' que já estaria 'desenhada e pronta para ser implementar'".
"Não sei se você compreendeu a magnitude desta ação. Ela define, literalmente, o futuro de toda a nação", disse também Silveira.
Diante do silêncio do senador, o deputado afirmou que as “escutas usadas em operações especiais” já estavam à disposição para a ação, e reforçou: "se aceitar a missão, parafraseando o 01, salvamos o Brasil".
Após o encontro com Moraes e com medo de se meter em confusão, Do Val respondeu a Silveira: "irmão, vou declinar da missão". O então deputado assentiu: "entendo, obrigado".