Escrito por: Gabriel Valery, da RBA
Pesquisadora alerta que sequelas da covid não são “nada triviais” e afetam qualidade de vida das pessoas. Brasil teve ao menos 21,6 milhões de infectados
O Brasil registra, oficialmente, 602.099 mortos por Covid-19, mas cientistas argumentam que o número é, seguramente, maior, devido à ampla subnotificação. Nesta quinta-feira (14) foram notificadas 525 mortes em 24 horas, e 14.288 novos casos de Covid-19. Além das centenas de milhares de famílias que choram seus mortos, milhões apresentam sequelas da Covid. Desde o início da pandemia, em março de 2020, mais de 21,6 milhões foram infectados pelo novo coronavírus, e mais da metade desse casos podem sofrer com efeitos da doença por até seis meses após a cura.
A estimativa está em estudo divulgado pelo portal científico Jama Network Open. Na verdade, trata-se de uma revisão sistemática de 57 estudos que abordam um universo de 250.351 sobreviventes. As proporções de pessoas com pelo menos uma sequela observada foram: 54% em um mês; 55% entre dois a cinco meses; 54% em seis ou mais meses.
As desordens mais frequentes são anomalias em exames de imagem do tórax (pulmões); distúrbios de saúde mental, como dificuldade de concentração e Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG); e distúrbios de mobilidade funcional, como fadiga, perda acentuada de peso ou fraqueza muscular.
Também foram observadas sequelas da Covid graves como distúrbios cardíacos, dermatológicos, de garganta, dermatológicos, perda de massa cinzenta no cérebro, entre outros. “E as consequências disso, além de afetar a qualidade de vida das pessoas após a recuperação da infecção? Esses efeitos de longo prazo ocorrem em uma escala que pode sobrecarregar a capacidade existente de assistência à saúde, particularmente em países de baixa e média renda”, explica a neurocientista e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Mellanie Fontes-Dutra.
Diante deste cenário de incertezas no longo prazo, os cientistas destacam que a melhor maneira de evitar problemas individuais e de saúde coletiva é a vacinação em massa. “Temos dados demonstrando que as vacinas podem ajudar a reduzir o impacto da covid longa em pacientes recuperados. Vacinados (em comparação com não vacinados) têm chances reduzidas de hospitalização, ou então de ter mais de cinco sintomas na primeira semana de doença, após a primeira ou segunda dose da vacina”, aponta a pesquisadora, mencionando estudo chileno que levou em consideração os efeitos substanciais da CoronaVac para evitar os danos.
Mellanie destaca que os sintomas da covid lona não são “algo trivial” e que causam de fato impactos na vida das pessoas. “E, com o tanto de casos que tivemos, precisamos preparar os sistemas de saúde para fornecer a assistência necessária a essas pessoas. E é por isso que a gente bate tanto na tecla de se vacinar.”
A visão para os impactos secundários da covid-19 é particularmente relevante em um cenário de melhora no surto. O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, disse em entrevista hoje que as mortes estão diminuindo em todas as regiões, exceto na Europa, onde vários países estão enfrentando novas ondas de casos e mortes. “E, claro, as mortes são maiores nos países e populações com menos acesso às vacinas.”
Adhanom aproveitou para reforçar o apelo aos países mais ricos para que não apliquem uma terceira dose de reforço em adultos saudáveis, mas apenas na população mais vulnerável. Isso porque a desigualdade vacinal segue alarmante. “Os países que continuam a implantar reforços agora estão efetivamente evitando que outros países vacinem suas populações de maior risco”, afirmou. De 193 países no mundo, 56 não cumpriram meta da OMS de vacinar 10% da população até setembro, a maioria na África. Três países nem sequer iniciaram a vacinação; Burundi, Eritreia e Coreia do Norte.