Escrito por: Redação RBA

Sergio Moro confessa atuação contra o PT e se complica com doleiro e Alvaro Dias

Em entrevista, ex-juiz federal Sergio Moro tenta minimizar relações perigosas de seu aliado político e confesssa agir politicamente contra o PT

José Cruz / ABr

O ex-juiz federal Sergio Moro tentou defender seu aliado político, o senador Alvaro Dias (Podemos-PR), da denúncia de ter recebido dinheiro do doleiro Alberto Youssef em suas campanhas. Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, Youssef pagou parte das campanhas eleitorais do ex-tucano. Em 1998, duas de suas empresas pagaram R$ 21 mil, equivalente a R$ 88 mil em valores atualizados, à campanha a senador de Dias. Os dados, obtidos na prestação de contas que Dias entregou naquele ano à Justiça Eleitoral no Paraná, referem-se viagens aéreas em jatinhos cedidos por Youssef ao então candidato tucano.

Em entrevista à Rádio Capital FM de Cuiabá (MT), hoje (29) pela manhã, o presidenciável disse que na época não conhecia Alvaro Dias, do mesmo modo que ninguém sabia quem era Youssef. “Eu nem conhecia o senador (Alvaro Dias). Ninguém sabia quem era Alberto Youssef na época. Ele começou a ser processado em 2003, no caso Banestado. Depois foi condenado, preso na Lava Jato. Eu decretei a prisão do Alberto Youssef duas vezes: em 2003 e depois em 2014. (…) Qual criminoso de colarinho branco fica quatro anos preso no Brasil? Ninguém protegeu ninguém ali (na Lava Jato)”. É grande a desconfiança de que Moro já tinha essas informações durante os trabalhos da Lava Jato e que teria blindado Alvaro Dias, que já era seu aliado político, e hoje são colegas de partido.

O doleiro foi um dos primeiros delatores da Lava Jato, em 2014, com acordo homologado por Moro. Em 2004, o juiz também homologou o acordo de delação de Youssef por sua colaboração com as investigações do escândalo do Banestado, que envolveu remessas ilegais de divisas para o exterior.

Moro ataca PT

Em outros trechos da entrevista, Moro atacou os governos do PT, dizendo que a “Petrobras foi saqueada para enriquecer políticos corruptos e bancar projetos de poder”. E que “como não podem apagar os fatos, mentem”. “Eu prendi criminosos, desmantelei departamentos de propinas e recuperei o dinheiro roubado. As pessoas sabem a verdade”.

Em outros, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). “Como todo brasileiro que clama por Justiça, também estou indignado com a anulação de condenações por corrupção. O cara confessa que roubou e aí vem lá o Tribunal e diz: não podia ter sido julgado pela Justiça A. Ora, com todo respeito, isso é errado!”.

E acabou praticamente confessando que a Lava Jato foi usada para combater o PT de forma efetiva e eficaz. Em seguida, voltou atrás, alegando que a operação apenas teria descoberto “esquemas de corrupção” e mostrado “o que o PT verdadeiramente é”. Para juristas, porém, Moro confessou a atuação política contra o partido. Por meio de seu perfil no Twitter, Wadih Damous escreveu que o ex-juiz “quer criminalizar o partido e suas lideranças”.

“É um desqualificado que admite agora que instrumentalizou o Judiciário e parte do Ministério Público. Incrível como o leigo não tem noção da gravidade desta declaração”, disse à CartaCapital o advogado criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. Para ele, o ex-juiz “foi o maior eleitor do atual presidente ao prender Lula, que estava na frente nas pesquisas, e ganhou de contrapartida o Ministério da Justiça”.

Ex-juiz e suspeitas de corrupção

A Justiça pela qual Moro tanto clama aparentemente é diferente daquela que tem pautado sua trajetória de vida, inclusive no Judiciário, quando passou por cima da lei para perseguir, julgar e condenar o ex-presidente Lula em diversos processos, tirando-o da disputa eleitoral em 2018. Favorecido pelo então juiz, Bolsonaro foi eleito e Moro nomeado ministro da Justiça.

Disputas internas envolvendo interesses da família Bolsonaro, porém, levaram à exoneração, em abril de 2020. Em novembro, ele entrou como sócio-diretor na consultoria Alvarez & Marsal, dos Estados Unidos, especializada na recuperação financeira de empresas. Entre os clientes, a construtora Odebrecht. Em abril foi rebaixado a consultor e o contrato, que deveria terminar no final de 2022, foi encerrado um ano antes, quando o ex-juiz decidiu entrar na política. Em junho passado, foi declarado suspeito nos julgamentos e condenações do ex-presidente Lula.

A permanência de Moro por quase um ano na equipe da Alvarez & Marsal está imersa suscita desconfianças e indícios de conflitos de interesses e corrupção. A empresa lucrou com a quebra de grandes construtoras brasileiras e depois bancou Moro nos Estados Unidos. Tanto que o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou à consultoria que informe os valores que foram pagos ao ex-juiz e ex-ministro.

Em despacho nesta segunda-feira (27), ministro Bruno Dantas, do TCU, que acatou pedido do Ministério Público Federal, determinou também o levantamento, pelo Judiciário, de todos os processos de recuperação judicial em que a Alvarez & Marsal atuou no período da Lava Jato. Em despacho anterior, Dantas havia escrito que atos de Moro “naturalmente” levaram à quebra da Odebrecht.

A ação do TCU e os assuntos que envolvem Moro como um todo têm tido grande repercussão nas redes sociais. Hoje pela manhã, o ex-juiz chegou ao topo com a hastag #Ladrão.