Escrito por: Redação CUT
Trabalhadores acusam o presidente da Funai de promover gestão anti-indígena e anti-indigenista na instituição e criticam alinhamento às demandas de ruralistas e à não demarcação de terras indígenas
Os servidores e as servidoras da Fundação Nacional do Índio (Funai) param nesta quinta-feira (23) pela responsabilização de todos os culpados pelos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips e pela saída imediata do presidente do órgão, Marcelo Augusto Xavier da Silva.
De acordo com a direção da fundação Indigenistas Associados (INA), Xavier da Silva "vem promovendo uma gestão anti-indígena e anti-indigenista na instituição".
A partir das 10h desta quinta, os servidores realizam um ato nacional em todas as unidades da fundação dos estados e no Distrito Federal – Funai Sede, Coordenações Regionais, Coordenações Técnicas Locais, Frentes de Proteção Etnoambientais e Museu do Índio.
A gestão de Xavier da Silva, delegado da Polícia Federal (PF) que preside a Funai desde julho de 2019, é criticada pelos servidores e ativistas por causa do alinhamento às demandas de ruralistas e à proposta do presidente Jair Bolsonaro (PL) de barrar novas demarcações de terras indígenas.
Ele já pediu à PF e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para investigar indígenas e defensores da pauta ambiental, segundo o jornal Folha de S. Paulo, que teve acesso a três solicitações feitas por Xavier da Silva aos dois órgãos.
Uma delas é uma notícia-crime que o presidente da Funai aprsentou à PF em 2020 contra Almir Suruí, liderança do povo paiter suruí e coordenador-executivo do Parlamento Indígena do Brasil (Parlaíndio).
O pedido foi feito após a divulgação da "Campanha Paiter: Povos da Floresta contra Covid-19", com o objetivo de buscar contribuições para a distribuição de mantimentos para famílias do povo indígena paiter suruí durante a pandemia, segundo o jornal.
Ainda segundo a Folha, o ofício enviado pelo presidente da Funai à PF diz que houve crimes de estelionato, a partir de suposta manipulação de informações com o fim de obter benefícios, e de difamação, por apresentar informações que em tese poderiam prejudicar a imagem da Funai.
Após um pedido de habeas corpus feito pela defesa de Suruí, o juiz federal Frederico Botelho de Barros Viana mandou trancar o inquérito. "Não há demonstração de existência de elementos probatórios e nem sequer indícios mínimos capazes de subsidiar qualquer tipo de ilícito", disse.
Segundo documento a que a Folha teve acesso, Xavier também solicitou à Abin o monitoramento do povo paiter suruí. Para ele, foram divulgados dados inverídicos com relação ao enfrentamento da pandemia. A informação já tinha sido veiculada pela coluna do jornalista Rubens Valente, no UOL.
"Tendo em vista que a Atividade de Inteligência realizada por esta Agência Brasileira é fundamental e indispensável à segurança dos Estados, sociedade e instituições nacionais e atua no conhecimento antecipado de assuntos relacionados aos interesses nacionais, encaminho para monitoramento", disse no documento.
O presidente da Funai também apresentou uma notícia-crime à PF contra a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) em 2020. No ofício, ele disse que a Apib, por meio da série de vídeos denominada "Agora é a Vez do Maracá", estaria culpando a administração Bolsonaro por genocídio. Alegou também disseminação de fake news e calúnia contra o governo federal e ainda crime de estelionato.
O ofício dizia também que a Apib havia difundido dados falsos para manipular a verdade acerca dos números de contágio e óbito relativos à Covid-19. Isso porque os dados divulgados divergiam dos apresentados pela Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena).
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