Servidores do PR param para cobrar direitos e conseguem abrir negociação
Ato com 10 mil trabalhadores relembram o massacre de abril de 2015 e servidores reivindicam descongelamento de salários
Publicado: 29 Abril, 2019 - 18h05 | Última modificação: 29 Abril, 2019 - 18h23
Escrito por: Érica Aragão
Pela data-base deste ano e em memória à violência da Polícia Militar que deixou mais de 400 servidores feridos em 2015, quando o então governador Beto Richa (PSDB) autorizou o uso da força contra trabalhadores e trabalhadoras que lutavam por direitos, os servidores públicos estaduais do Paraná voltaram a se mobilizar nesta segunda-feira (29).
Eles pararam as atividades e foram às ruas reivindicar seus direitos, que também estão sendo negados pelo atual governador, Ratinho Júnior (PSD), que não discute sequer a reposição salarial na data-base da categoria (1º de maio), que está com os salários congelados desde 2016. A categoria já acumula, segundo o Dieese, uma perda salarial de 17%, o que equivale a dois meses de salário de um servidor.
Depois de um ato político na Praça Santos Andrade, no centro de Curitiba, mais de 10 mil servidores e servidoras públicos, de mais de 30 categorias, caminharam pelas ruas de Curitiba até o Palácio Iguaçu, residência oficial do governador. Lá uma comissão do Fórum das Entidades Sindicais (FES) foi recebida pelo vice-governador Darci Piana (PSD) e, após mais de duas horas de reunião, os servidores conseguiram abrir uma negociação.
De acordo com a coordenadora do FES, professora Marlei Fernandes, o governo recuou do discurso de que não pagaria a data-base e, em comum acordo com a comissão, foi criado um grupo de trabalho com representantes dos servidores, governo e deputados que, a partir desta terça-feira (30) vai discutir o percentual de reposição nos rendimentos do funcionalismo para esse ano e as demais reivindicações. “Foi acertado que não será votada a reposição dos servidores de outros poderes, como Legislativo e Judiciário, sem colocar em votação também a nossa”, disse.
Além disso, o governo também afirmou que o dia de hoje não será descontado, contou o presidente da APP-Sindicato, Hermes Leão, para os companheiros e companheiras que aguardavam o resultado da negociação.
Para Hermes, o resultado da mobilização desta segunda é positivo, “mas a luta não pode parar”.
“Iremos continuar dentro das escolas com a mobilização para que possamos sair vitoriosos desta luta”, afirmou o dirigente.
A mobilização
Foram às ruas de Curitiba trabalhadores e as trabalhadoras da educação, agentes penitenciários, servidores do meio ambiente, policiais civis, entre outros.
Segundo o secretário de Comunicação do APP-Sindicato, Luiz Fernando, 80% dos trabalhadores e das trabalhadoras da educação no Estado aderiram a paralisação e 100% das escolas ficaram sem aulas.
A pauta dos servidores
Na pauta emergencial dos servidores também estão itens como respeito à jornada de trabalho, melhorias no atendimento à saúde, realização de concurso público, além da posição contrária à reforma da Previdência de Jair Bolsonaro (PSL).
Saúde financeira x congelamento de salários
Ao contrário do que prometeu durante a campanha eleitoral, Ratinho Júnior não dialoga com a categoria e divulgou por meio da imprensa a intenção de manter o congelamento dos salários. Para os trabalhadores, ele alegou dificuldade financeira. Mas, dias depois, a mentira caiu por terra. O próprio governo publicou em seu site oficial que o Paraná lidera o ranking nacional de saúde financeira.
“Ele não cumpriu a promessa, nem está cumprindo com a Lei Orçamentária. O que a gente quer não é um aumento e sim uma reposição salarial, já que água, pedágio e outras contas pessoais aumentam, menos os nossos salários”, afirmou o presidente da APP-Sindicato, Hermes Leão.
29 de abril: esquecer jamais!
Na Praça Nossa Senhora da Salete, conhecida como Praça do Centro Civil, palco do massacre do dia 29 de abril de 2015, Hermes Leão lembrou mais uma vez do ataque policial aos trabalhadores.
“29 de abril não pode ser esquecido nunca, mas continuaremos na luta até que nossos direitos sejam respeitados”.
No dia 29 de abril de 2015, por ordem do tucano Beto Richa a Polícia Militar, de forma covarde, disparou balas de borracha e spray de pimenta em um ataque contra os paranaenses que estavam no Centro Cívico defendendo seus direitos. Foi um verdadeiro massacre, que deixou mais de 400 feridos.
Na época, o governo montou um aparato de guerra para garantir que a votação do projeto de lei que retirava os direitos de carreira dos educadores e autorizava a gestão a extinguir a Paranaprevidência prosseguisse.
Para a presidenta da CUT Paraná, Regina Cruz, 29 de abril é uma data de resistência e luta que nunca será esquecida, mas não tirou o ânimo e a disposição dos trabalhadores e das trabalhadoras do estado de continuar na resistência, independentemente do governo que está no poder. Tirou direito, tem reação, diz a dirigente.
“É importante lembrar que aquele dia 29 foi uma partida de futebol de 90 minutos no qual o governador Beto Richa nos encheu de bala de borracha e spray de pimenta, mas a gente continua nesta resistência”.
“O massacre nunca fez a gente desistir da luta, pelo contrário”, disse Regina.
Para a secretária de Mobilização e Relação com os Movimentos Sociais, diretora do APP-Sindicato e professora da rede estadual, Janeslei Albuquerque, 29 de abril é uma página infeliz da história, mas aquele momento já era uma prévia do que a classe trabalhadora viveria hoje.
“Sofremos violência e humilhação acima do habitual, mas conseguimos salvar nosso plano de carreira. E hoje estamos aqui outra vez, lutando pela carreira e contra retirada de direitos, que Bolsonaro tenta nos enfiar guela abaixo. Aquele dia já mostrava o início de uma inflexão nas relações entre trabalhadores e governo”, afirmou ela.
“A data-base é meu direito, cadê o respeito governador?”, finalizou Janeslei.