Escrito por: Eduardo Maretti | RBA

Silêncio de Bolsonaro e Michelle na Polícia Federal revela medo e comprometimento

Ex-ajudante de ordens Mauro Cid e seu pai, além do advogado Frederick Wassef, divergem da estratégia do silêncio dos advogados do ex-presidente e falam aos investigadores

Carolina Antunes/PR

Dos esperados oito depoimentos simultâneos à Polícia Federal (PF) sobre o caso das joias envolvendo Jair Bolsonaro e sua esposa, Michelle, apenas o ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, seu pai, Mauro César Lourena Cid, e o advogado Frederick Wassef resolveram falar. O teor do que disseram não foi divulgado. Os investigadores querem saber qual o caminho das joias, a maioria vinda da Arábia Saudita, e por que mãos passaram.

Além de Bolsonaro e Michelle, se recusaram a falar Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação da Presidência da República e hoje advogado de Bolsonaro; o tenente Osmar Crivelatti, ex-assessor da Presidência da República; e o coronel Marcelo Câmara, ex-assessor da Presidência.

Todos alegaram que um parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) diz que o STF não tem competência no caso, que é relatado pelo ministro Alexandre de Moraes. Argumentam que o caso deve ser julgado na 6ª Vara de Guarulhos, onde o inquérito foi iniciado.

Um advogado consultado pela RBA, que preferiu falar reservadamente por “questões institucionais”, afirma que, embora seja direito de Bolsonaro e Michelle ficarem calados, “subjetivamente” a atitude “revela medo, sim, e comprometimento deles no caso”. “Além disso, não me parece que essa seja a postura adequada de um ex-presidente”, acrescentou a fonte.

A estratégia da PF ao colher o depoimento de todos simultaneamente foi dificultar ao máximo que os investigados combinassem respostas e versões. Isso porque é impossível evitar os contatos completamente, já que nada legalmente pode impedir que os advogados conversem entre si. Mas, com depoimentos colhidos ao mesmo tempo, fatalmente contradições aparecem.

Cid e seu pai destoam de Bolsonaro

A estratégia de Mauro Cid, porém, destoou da adotada pelo antigo chefe Bolsonaro e dos aliados dele, como a esposa Michelle, que recorreram ao direito de silenciar. A versão de que a defesa de Cid decidiu por uma confissão, mesmo que limitada, parece ser respaldada por um fato: nesta quinta-feira o ex-ajudante de ordens depôs aos agentes pela terceira vez.

Cid mudou de ideia (de ficar calado, no início, para começar a falar) depois de seu pai ter sido alvo da operação deflagrada pela PF no dia 11 de agosto, chamada Lucas 12:2, que foi batizada pelos agentes inspirada em trecho do Evangelho de Lucas que diz: “Nada há encoberto que não venha a ser revelado, e oculto que não venha ser conhecido”.

Aquela operação bateu às portas de Cid e de seu pai; do tenente do Exército Crivelatti, também ex-ajudante de ordens, logo abaixo de Cid na hierarquia; e de Wassef.

De advogado em advogado…

Logo após essa ação da PF Cid mudou de advogado pela segunda vez, contratando Cezar Bitencourt em lugar de Bernardo Fenelon. Em maio, o ex-ajudante de ordens e família já haviam trocado o advogado Rodrigo Roca, muito próximo aos Bolsonaro, por Fenelon.

Em conversa à qual a PF teve acesso, Mauro Cid diz que seu pai teria uma quantia em dinheiro para ser entregue a Bolsoanaro. “Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que, que era melhor fazer com esse dinheiro levar em cash aí. Meu pai estava querendo inclusive ir ai falar com o presidente (…). E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (…). Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor né?”, disse Mauro Cid ao também auxiliar de Bolsonaro Marcelo Costa Câmara.