Escrito por: Érica Aragão
Como no Brasil, golpe ataca democracia e direitos trabalhistas da população, afirma secretário de Relações Internacionais da CUT. “Todo golpe é golpe, repudiamos mundialmente e nos solidarizamos”, diz Lisboa
Dirigentes sindicais da CUT, demais centrais, federações e sindicatos do Brasil e do mundo, que representam mais de 200 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, fizeram atos simbólicos, nesta quinta-feira (11), em mais de 15 países, para repudiar o golpe militar em Mianmar, prestar solidariedade a população sul asiática e defender a democracia.
O Dia de Ação Sindical Global foi coordenado pelo Conselho dos Sindicatos Globais (CGU) e, segundo a Internacional de Trabalhadores na Construção e na Madeira (ICM), sindicalistas na República Dominicana, Colômbia, Bélgica, Guatemala, Peru, El Salvador, Panamá, Ucrânia, Itália, Suíça, países da África e Oriente Médio, Índia, Nepal, Bangladesh e Rússia foram até as embaixadas e consulados de Mianmar em seus países para repudiar o golpe militar.
No Brasil, a manifestação aconteceu na parte da manhã, em frente ao consulado deste país em São Paulo (SP). Uma carta conjunta, assinada pelas centrais sindicais CUT, Força Sindical e UGT e as federações sindicais internacionais com presença no Brasil, na versão em português e inglês, foi enviada ao cônsul-geral Ricardo Cateb Cury.
“Nossas organizações se comprometem a fazer tudo ao nosso alcance para impedir o sucesso desse golpe, garantir a libertação de todos os detidos e pôr fim à violência e perseguição ao povo. Os perpetradores do golpe devem ser isolados”, diz trecho da carta.
“Somos solidários com os trabalhadores e com o povo de Mianmar e prestamos homenagem aos bravos trabalhadores que empreenderam ações para rejeitar o golpe militar e o atentado contra a democracia nesse país irmão”, conclui o texto que é assinado pelas seguintes entidades: Central Única dos Trabalhadores (CUT Brasil); Força Sindical Brasil; União Geral dos Trabalhadores no Brasil (UGT Brasil); Confederação Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas (CSA); Internacional de Trabalhadores da Construção e da Madeira (ICM); IndustriALL Global Union; UNI Américas, braço continental de UNI Global Union; Internacional de Educação (IE); e Internacional de Serviços Públicos (ISP).
O exército de Mianmar derrubou o governo eleito do país na segunda-feira (1º), prendeu líderes políticos, fechou o acesso à internet e suspendeu os voos ao país.
Há sete dias, de forma ininterrupta, as ruas de Mianmar estão tomadas pelo povo para defender a democracia. Em um dos atos, nesta semana, a polícia disparou balas de borracha e vários ficaram feridos. As hastags #Workers4Myanmar e #Myanmar também foram destaques nas redes sociais nesta quinta.
“Nós trabalhadores e trabalhadoras brasileiros repudiamos qualquer tipo de golpe, seja ele feito por militares, como foi o caso de Mianmar, ou jurídico, parlamentar e midiático como foi no Brasil porque defendemos arduamente a democracia e o direito da população”, disse o secretário de Relações Internacionais da CUT, Antônio Lisboa.
“Golpe é golpe. Depois da retirada da democracia a gente sabe o que vem”, acrescentou Lisboa, que pontuou: “Tiram primeiro nossa liberdade e depois os nossos direitos trabalhistas”.
“A população está na rua sofrendo repressão, mas continua na luta para retomar a democracia e para que a presidente e o parlamento eleitos possam assumir o governo e fortalecer a democracia. A gente se solidariza com a população de Mianmar e vamos nos manter atentos e solidários”, concluiu Lisboa.
23 mil detidos políticos foram liberados até esta quinta e para os sindicalistas isto já é resposta à ampla repulsa global manifestada por sindicatos, organizações internacionais e governos como o de Joe Biden (EUA).
O presidente dos Estados Unidos anunciou sanções contra os membros da junta militar responsáveis por promover o golpe militar e disse que os generais e soldados envolvidos no golpe serão impedidos de acessar fundos americanos avaliados em US$1 milhão.
Biden disse ainda que as empresas e entidades envolvidas na crise política serão punidas. A Casa Branca também identificará os participantes do movimento e determinará o controle das exportações dos EUA ao país asiático.
Até 1989, Miamar, país do sudeste da Ásia, era chamado de Birmânia. Os militares que governavam o país decidiram trocar porque Birmânia é o nome de uma etnia, e o regime da época quis fazer um gesto para as pessoas de outras etnias no país. Depois de 50 anos de regime militar, Mianmar vivia uma fase democrática desde 2011.
O principal partido civil de Mianmar, a Liga Nacional pela Democracia (NDL, na sigla em inglês), venceu 83% dos cargos em disputa na última votação havia sido em novembro do ano passado.
Argumentando irregularidades, os militares não aceitaram o resultado das eleições e, depois de tentar reverter a vitória do NDL na Suprema Corte e tiraram na força o partido do poder.
Poucas horas antes da primeira sessão do parlamento, no dia 1º de fevereiro, os militares bloquearam as estradas ao redor da capital com tropas, caminhões e veículos blindados, enquanto os helicópteros militares sobrevoavam a cidade, e derrubaram o sinal de internet e telefonia móvel em todo o país.
O presidente Win Myint e a Nobel da Paz e líder de fato do país, Aung San Suu Kyi, foram presos junto com vários ministros.
*Edição: Marize Muniz