Escrito por: Isaías Dalle

Sindicalistas pedem PT mais perto das bases

Encontro em São Paulo, iniciativa do partido, exige também nova política econômica do governo Dilma

Fotos de Roberto Parizotti
Douglas da CUT-SP destaca mobilizações recentes como ferramentas contra crise

Promover filiações de sindicalistas e sindicalizados ao PT, reativar ou fortalecer os setoriais sindicais dentro do partido e participar das atividades partidárias com frequência. Cobrar e abrir mais espaço para lideranças trabalhistas dentro da legenda e não submetê-la à lógica predominante dos mandatos parlamentares e executivos.

Essas são algumas das propostas para revitalizar o PT e defender sua história e conquistas, debatidas na manhã desta sexta-feira, 27, no Encontro Nacional dos Sindicalistas do PT, realizado no auditório do Sindicato dos Químicos de São Paulo. O encontro foi uma iniciativa da Secretaria Sindical Nacional do PT.

E, como não poderia deixar de ser, o “Fora Levy” foi entoado como grito de guerra pelo plenário, pedindo mudanças na política econômica adotada, fortemente orientada pela austeridade fiscal.

O presidente da CSI João Felício, cuja fala abriu o encontro, sintetizou assim o espírito da atividade: “Nós não estamos aqui para disputar cargos no PT (...) nem cogitamos deixá-lo. Quem está saindo do PT num momento como esse, para nós, nunca foi petista”, disse, destacando aqueles que se filiaram ao partido na esteira da eleição de Lula presidente.

O ex-tesoureiro do PT e da CUT, João Vaccari Neto, foi lembrado como exemplo de militante partidário honesto e leal, preso pela Lava Jato sem nenhuma prova, ao arrepio da legislação e da Constituição brasileiras. Faixa no auditório pedia liberdade imediata para Vaccari.

Por outro lado, o senador Delcídio Amaral, preso esta semana pela mesma Lava Jato, foi citado como exemplo negativo de aproximação com setores estranhos à história e aos princípios que deram origem ao PT.

Coube ao advogado Luiz Eduardo Greenhalg fazer um resumo da Operação Lava Jato, que criticou por, entre outras razões, desprezar o Código de Processo Penal e a Constituição, quebrando portanto a lei, com o claro objetivo de atacar o PT e suas lideranças. Segundo o advogado, a operação é seletiva e poupa dirigentes de outras legendas.

Plenário do encontro realizado nesta sexta-feira, em defesa do PTO presidente da CUT São Paulo Douglas Izzo elogiou recentes manifestações das quais a CUT participou, citando-as como ferramentas para romper a crise que se abate sobre o PT e estreitar as relações com o movimento sindical. Ele lembrou especialmente da Marcha das Mulheres Negras, “que enfrentou os reacionários em Brasília” (leia mais aqui). Professor da rede estadual de ensino paulista, Douglas também destacou o movimento de estudantes que ocupa mais de uma centena de escolas atualmente, contra projeto de reorganização do ensino do governo do PSDB, que na prática pretende fechar 94 escolas.

O deputado federal Vicente Cândido (SP) apresentou durante o encontro a síntese de um projeto de reforma tributária que a bancada do PT promete encaminhar ao Congresso ainda este ano. Na proposta, bandeiras historicamente defendidas pela CUT, como o imposto sobre grandes fortunas e uma tabela de imposto de renda progressiva, pela qual quem ganha menos paga menos - ou paga nada, quando o salário estiver abaixo do salário mínimo necessário defendido pelo Dieese – e quem ganha mais, paga mais.

Rui Falcão, presidente nacional do PT, participou da abertura do encontro. Reiterou que os ataques do Judiciário e da mídia têm como verdadeiro objetivo acabar com o PT, travestidos de campanha por moralidade e correção. Ele também mencionou a aprovação do projeto que garante direito de resposta na mídia como um novo instrumento que pode ajudar o partido neste combate.

No encontro, os sindicalistas cutistas também reapresentaram carta aberta ao PT, entregue oficilamente durante o 5º Congresso do partido, em junho deste ano. Na manhã desta sexta, também participaram dos debates na sede dos Químicos dirigentes sindicais de outras centrais.