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Sindicalistas voltam a trabalhar nos canteiros de obras para brigar por direitos

Para lutar contra a prática antissindical dos empresários da construção civil do Espírito Santo, que estão pressionando os trabalhadores a não se associarem, sindicalistas voltam ao local de trabalho

Publicado: 04 Julho, 2018 - 12h47 | Última modificação: 04 Julho, 2018 - 13h13

Escrito por: Tatiana Melim

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Para tentar enfraquecer a atuação do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil do Espírito Santo (Sintraconst-ES) e acabar com a proteção dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras do setor, os patrões estão se aproveitando da reforma trabalhista do golpista e ilegítimo Michel Temer (MDB-SP), que praticamente rasgou a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e impôs medidas que fragilizam a organização sindical.

Além de não fechar a negociação da Convenção Coletiva da categoria deste ano, com propostas de redução de salário e fim das horas extras, do plano de saúde, do vale alimentação e do café da manhã, os empresários da construção civil do Espírito Santo estão boicotando a ação sindical, orientando os trabalhadores a não pagarem a contribuição ao sindicato ou até mesmo deixarem de ser sindicalizados.

Os graves ataques dos patrões ao direito de organização sindical, porém, enfrentarão resistência. Uma das soluções encontradas pela direção do Sintraconst-ES para combater a ofensiva patronal contra a representação legítima dos trabalhadores foi o retorno de sindicalistas ao local de trabalho.

O próprio presidente do sindicato, Paulo Cesar Borba Peres, o Carioca, e mais seis diretores da entidade já solicitaram às empresas para as quais trabalhavam o retorno ao canteiro de obras a partir do dia 1º de agosto. O objetivo é fazer ação sindical no local de trabalho.  

“Eles querem brigar, então vamos brigar pelos nossos direitos”, diz Carioca.

Para ele, é preciso fazer com que os empresários respeitem os trabalhadores e o sindicato. “E para isso não mediremos esforços, mostraremos para a nossa base que estamos do lado deles”, destaca.

O secretário de Organização da CUT, Ari Aloraldo do Nascimento, concorda e comemora a decisão dos sindicalistas do Sintraconst-ES.

Para ele, o retorno à base ajuda a reforçar a necessidade de enfrentar o debate sobre o direito de organização a partir do local de trabalho.

“Esse já era um desafio para o movimento sindical antes da nova legislação e agora é um debate urgente”, diz Ari.

“O importante é que todo movimento feito para organizar os trabalhadores e trabalhadoras na base tem o apoio da CUT. Esse é o modelo cutista de representar a classe trabalhadora”, afirma o secretário.

Afastado das obras desde que assumiu a presidência da entidade, Carioca diz que essa foi uma medida encontrada pelos dirigentes para reverter o atual cenário desencadeado pela nova legislação trabalhista e pela crise enfrentada pelo setor a partir da Operação Lava Jato e da estagnação econômica, que resultaram na queda de quase 60% dos postos de trabalho na construção civil no Espírito Santo.

“Estamos sofrendo boicote de todos os lados, além de sermos penalizados pelos reflexos dessa crise que tirou os nossos empregos”, lamenta Carioca.

Segundo ele, a entidade já viveu momentos adversos e foi a organização na base, no local de trabalho, que deu certo.

“Então, vamos fazer como antigamente, pois foi isso que fez o nosso sindicato ser forte. Se para enfrentar tudo isso é preciso voltar para a base, então voltaremos”, garante o presidente do Sintraconst-ES.

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Paulo Cesar Borba Peres, o Carioca 

Organização no local de trabalho

O secretário de Organização da CUT, Ari Aloraldo do Nascimento, alerta que a prática antissindical enfrentada pelos trabalhadores da construção civil do Espírito Santo não é um caso isolado.

Segundo ele, os ataques à organização sindical passaram a ser intensificados após a reforma trabalhista, que impôs medidas com objetivo de fragilizar as entidades sindicais, como o fim da contribuição sindical e das homologações obrigatórias no sindicato, além da possibilidade do negociado prevalecer sobre o que está na lei.

“Em todos os setores, os empresários estão chamando os trabalhadores para a briga e tentando impor a reforma trabalhista a qualquer custo”, critica Ari.

“E a melhor forma de enfrentar esses ataques é o diálogo direto e correto com a base, olho no olho do trabalhador”, garante o dirigente, que completa: “conversar diretamente e estar presente no local de trabalho são ações que podem reverter qualquer ataque à organização sindical.”

Sindicato continua funcionando

Com o pedido de retorno ao canteiro de obras, os diretores que tinham o direito de liberação do local de trabalho para a ação sindical não estarão mais integralmente à disposição da entidade. Porém, já foram tomadas as providências para que o sindicato garanta o atendimento básico aos trabalhadores e trabalhadoras associados.

“Mesmo não estando no sindicato de forma integral,  continuaremos presentes onde o trabalhador estiver, fazendo a luta e a resistência em defesa dos nossos direitos”, garante Carioca.