Escrito por: Redação CUT
Ao todo, 103 profissionais de imprensa foram assassinados em quase cinco meses de guerra. Do total de profissionais mortos em 2023, 75% estavam na faixa de Gaza
A Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ), em parceria com sindicatos e organizações de defesa da liberdade de expressão de várias partes do mundo, promove nesta segunda-feira (26) o Dia Internacional de Solidariedade aos Jornalistas Palestinos para denunciar os 96 assassinatos de profissionais de imprensa palestinos desde o dia 7 de outubro de 2023.
No Brasil, sindicatos da categoria realizam um ato nesta segunda-feira (26), em Juiz de Fora (MG), e outro será feito na terça-feira (27), às 20h, em São Paulo, na sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo. Na capital paulista, o ato foi convocado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), entre outras entidades.
A presidenta da Fenaj, Samira de Castro, destacou que o elevado número de jornalistas mortos em Gaza indica que esses trabalhadores estão sendo alvos deliberados das forças de Israel.
“Isso porque são profissionais que reportam o conflito a partir de Gaza, com uma visão do povo palestino. Inclusive, está proibido o acesso de imprensa internacional a Gaza. Israel não está deixando a imprensa internacional entrar nas áreas de conflito. O que demonstra que é, além de um massacre deliberado de profissionais, um grave atentado mundial à liberdade de imprensa”, comentou Samira.
O ato previsto para ocorrer no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, a partir das 20h de terça-feira, também vai chamar a atenção para os casos dos jornalistas brasileiros Breno Altman e Andrew Fishman, que têm recebido ameaças por realizarem uma cobertura crítica às ações de Israel. Breno Altman ainda responde a um inquérito na Polícia Federal por comentários sobre o conflito.
“No Brasil, também estamos vivendo um ataque a todos os jornalistas que ousam se posicionar em relação ao direito, à liberdade de imprensa e de expressão do ponto de vista do lado palestino”, acrescentou Samira.
Ao justificar a mobilização em apoio aos jornalistas palestinos, a FIJ disse, “este massacre é tão horrível quanto sem precedentes. É uma tragédia terrível e injustificada. As necessidades dos nossos colegas que trabalham em Gaza tornaram-se críticas. Em pleno inverno, aos nossos irmãos e irmãs e às suas famílias falta tudo e, principalmente, o essencial: roupas, cobertores, tendas, comida, água”, completou a federação.
O conflito no Oriente Médio ainda tirou a vida de quatro jornalistas israelenses, todos mortos no ataque do Hamas do dia 7 de outubro, e mais três jornalistas libaneses. Ao todo, 103 profissionais de imprensa foram assassinados em quase cinco meses de guerra.
O Comitê de Proteção de Jornalistas (CPJ) calculou que, em dois anos da guerra na Ucrânia, 15 jornalistas foram assassinados no país europeu. Ainda segundo o comitê, do total de jornalistas assassinados em 2023, 75% deles estavam em Gaza.
“A guerra Israel-Gaza é a situação mais perigosa para os jornalistas que já vimos”, disse Sherif Mansour, coordenador do programa do CPJ para o Oriente Médio e o Norte de África.
“O exército israelense matou mais jornalistas em 10 semanas do que qualquer outro exército ou entidade num único ano. E com cada jornalista morto, a guerra torna-se mais difícil de documentar e de compreender”, completou Mansour.
Em alguns casos, o Exército de Israel justifica os assassinatos dizendo que os jornalistas estariam envolvidos com atividades consideradas terroristas. Porém, segundo o CPJ, “nenhuma prova credível jamais foi produzida” para sustentar essas acusações.
Segundo o Sindicato dos Jornalistas Palestinos, há 1,5 mil profissionais de mídia deslocados na Faixa de Gaza e outros 65 estão presos.
A entidade também responsabiliza Israel por atacar veículos de imprensa. “O sindicato documentou a destruição, pela ocupação, de 73 instituições de comunicação social na Faixa de Gaza, como resultado do bombardeio israelense em curso, incluindo 21 estações de rádio locais, 15 agências de notícias locais e internacionais, 15 canais de satélite locais e internacionais, 6 jornais locais, 3 torres de transmissão e 13 instituições de assessoria de imprensa”, afirmou a entidade que representa a categoria na Palestina.
Sábado de protesto
No último sábado (24) manifestantes co apoio da CUT-SP e movimentos populares se reuniram na Avenida Paulista, em apoio ao povo palestino.
A convocação do ato ocorreu diante das novas ameaças do governo de Israel de atacar Rafah, única cidade da região que ainda não foi invadida por tropas terrestres e que tem servido de refúgio à população – cerca de 1,5 milhão de pessoas estão no local.
Nesta semana, também, o governo do presidente Lula subiu o tom contra o governo israelense, cobrando o fim do conflito que já tirou a vida de mais de 30 mil pessoas, sendo a maioria de mulheres e crianças. Lula classificou a situação em Gaza como “genocídio”, comparando ao Holocausto, e criticou a redução da ajuda humanitária na região.
A fala de Lula teve rápida repercussão entre o grupo de Netanyahu, que está cada vez mais isolado internacionalmente. Desde então, o governo de Israel tem agido de forma inaceitável, mentirosa e antidiplomática ao convocar o embaixador brasileiro em local desapropriado, ao considerar Lula “persona non grata” e fazer uma série de postagens em rede social distorcendo o posicionamento do Brasil.
Com informações de Lílian Beraldo, da Agência Brasil e CUT-SP