Escrito por: Redação CUT
Trabalhadores estão sendo transferidos em prejuízo da continuidade de pesquisas em andamento, diz a direção do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sinpaf)
Um dia após o Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sinpaf) denunciar o desmonte da Unidade de Execução de Pesquisa (UEP), da Embrapa, em Parnaíba (PI), que está transferindo mais de duas dezenas de trabalhadores para outros unidades, o chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Meio-Norte, Edvaldo Sagrilo, afirmou que as transferências foram determinadas pelo presidente da Embrapa, Celso Moretti.
A afirmação, feita por meio de despacho, surpreendeu a direção do Sinpaf, uma vez que a alteração no quadro de pessoal prejudica o andamento de pesquisas e projetos.
"Fiquei surpreso com esse despacho. Difícil acreditar que o presidente da empresa determinaria qualquer ação com o objetivo de prejudicar a continuidade de projetos de pesquisa em andamento ou a serem realizados na Embrapa de Parnaíba”, disse o presidente da Seção Sindical Parnaíba, Raimundo Nonato Júnior.
“Nós, do SINPAF e todos os empregados da Embrapa, aguardamos ansiosos pela resposta do presidente Celso Moretti sobre o teor desse documento”, completou o dirigente, que reafirmou o papel estratégico da unidade para a região e para o Brasil.
A unidade de Parnaíba tem um papel estratégico para o desenvolvimento da bovinocultura de leite, aquicultura, fruticultura, irrigação, entre outros projetos. As transferências de pessoal e o fechamento dos laboratórios vão impactar, e muito, o desenvolvimento agropecuário e socioeconômico da região.
Entenda o que aconteceu
Na segunda-feira (8), o Sinpaf publicou uma matéria denunciando desmonte e transferências compulsórias da UEP de Parnaíba (PI). Além das transferências de equipamentos de pesquisa e fechamento de laboratórios, 55% dos trabalhadores estão sendo transferidos compulsoriamente para Teresina, cerca de 340 km de distância de Parnaíba.
Na terça-feira (9), Sagrilo publicou um despacho no Sistema Eletrônico de Informações (SEI) afirmando que as movimentações de empregados da UEP, em Parnaíba (PI), estão ocorrendo por determinação de Moretti.
No documento, Sagrilo também solicita que os gestores da empresa façam uma revisão sobre as movimentações de empregados da UEP.
A diretoria nacional do Sinpaf se mantém mobilizada em defesa das trabalhadoras e trabalhadores e pela manutenção da UEP e pelo fim das transferências.
“Além de respostas, aguardamos também que essas transferências parem urgentemente”, enfatizou Marcus Vinicius Vidal, presidente nacional do Sinpaf.
Não é reestruturação, é o desmonte da UEP, que tem a anuência do presidente da Embrapa, diz nota publicada no site do Sinpaf.
Atualmente, 26 empregados receberam o aviso de transferência a serem efetivadas nos meses de março e maio, causando pânico nos trabalhadores, disse Raimundo Nonato Júnior. De acordo com a nota, outros sete já foram transferidos no ano passado.
“Essa medida está deixando vários empregados adoecidos. Estamos falando de pessoas com mais de 55 anos e impossibilitados de fazer a mudança, seja por problemas de saúde, financeiro ou familiar", afirmou o dirigente.
“Somos seres humanos, e não números. Nós somos empregados de uma empresa, mas depois de 8h somos pais de família, temos nossas casas, nossos problemas, nossas dificuldades e em nenhum momento isso foi analisado. Ninguém da empresa perguntou como estamos emocionalmente e financeiramente para, de repente, e sem planejamento, levarmos toda a nossa vida para outra cidade”, contou o técnico eletricitário Odival Ferreira do Amaral, que trabalha na UEP Parnaíba há 33 anos.
Odilval relatou ainda que não é a primeira vez que ele é convocado a mudar de unidade. Mal conseguiu superar os traumas da última transferência, em que precisou de acompanhamento psicológico, já se vê "abalado" novamente.
“Já vivi esse trauma e é muito doloroso. Tive que deixar minha esposa e filha pequena, na época. Quando conseguia visitá-las em alguns finais de semana, a minha filha se escondia para não me ver indo embora. Falta empatia, sensibilidade por parte dos gestores. Dediquei mais de 30 anos da minha vida à Embrapa e agora sou tratado com tamanha desumanidade”, disse.
Para Francisco Davi Silva, que também está na lista de convocados, essa mudança é impossível e desnecessária. Ele é tutor da mãe, de 96 anos, uma senhora em estado de demência e muito debilitada, que depende completamente da ajuda de terceiros para todas as necessidades.
“Seria desumano tentar violar ou desestabilizar toda a logística da convivência familiar de uma idosa e, até mesmo, da sua forma de vida em todos os aspectos, o que poderia levá-la a óbito em razão de uma mudança drástica, severa e inconsequente”.
Segundo Francisco, outra situação agravante que essa transferência pode causar é a condição econômico-financeira insuficiente para manter vários ambientes familiares em diferentes cidades. “Sou empregado da Embrapa há 33 anos, dos quais 32 anos exercendo função de revisor de textos técnicos. Nos últimos 28 anos, esse trabalho vem sendo executado de forma remota em conjunto com a supervisora editorial, lotada na Embrapa em Teresina.
“Apesar da distância, o resultado do trabalho é eficiente, com alcance das metas pré-estabelecidas pela empresa, ou seja, o afastamento físico entre o revisor de textos e a supervisora editorial não inibe, de forma alguma, a dinâmica ou o fluxo do trabalho relativo ao meu Plano de Trabalho Individual. A prova irrefutável disso é o teletrabalho adotado pela Embrapa durante a pandemia da Covid-19, em que aderi formalmente à modalidade de trabalho remoto, conforme aditivo ao contrato de trabalho, e tenho desempenhado minha função atendendo à demanda desde março de 2020. Portanto, não existe justificativa para a minha transferência para a Embrapa em Teresina”, explicou o analista.
Confira aqui a íntegra da nota.