Escrito por: Érica Aragão

Sindicato impede que indústria com casos de Covid-19 reabra na Bahia sem segurança

Com 7 dos 12 casos de Covid-19 em Santo Antônio de Jesus(BA), Natulab quer voltar às suas atividades sem garantir segurança para os 930 trabalhadores. “Se insistir vai ter greve”, afirmam sindicalistas

Alfredo Santos Jr.

O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Química, Petroquímica, Plástica e Farmacêutica do Estado da Bahia (Sindiquímica) conseguiu garantir que a Natulab recuasse da decisão de retornar às suas atividades e colocasse em risco a vida dos 930 trabalhadores e trabalhadoras da empresa. A desistência de abrir só foi tomada pela direção da Natulab, nas primeiras horas desta segunda-feira (25), depois de muita pressão, do sindicato da categoria, no último no fim de semana.

Em diálogo com os dirigentes do Sindiquímica, a empresa se comprometeu em manter a suspensão das atividades nesta segunda-feira (25) e na terça-feira (26).

A preocupação do Sindiquímica é pelo fato da fábrica de medicamentos e suplementos alimentares, localizada em Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo baiano, ter 7 dos 12 casos confirmados da doença na cidade. A Natulab, inclusive, já teve o fechamento das portas decretado pela prefeitura na semana passada, devido ao número de contágios entre os seus trabalhadores e, e mesmo assim, insistia em colocá-los em risco de contaminação e morte pelo coronavírus.

A exigência do sindicato é que a fábrica só retorne ao funcionamento após a testagem de todos os trabalhadores, e apresente um plano de prevenção a Covid-19, que traga segurança e tranquilidade à categoria e aos seus familiares. (veja abaixo )

“Sabemos que a indústria farmacêutica é um serviço essencial durante a pandemia, mas também é essencial que os trabalhadores voltem ao trabalho de forma segura e sem colocar suas vidas em risco”, disse o diretor de imprensa do Sindquímica e secretário de Finanças da CUT Bahia, Alfredo Santos Jr., que acompanhava da porta da fábrica, as decisões da direção da Natulab.

“Nós viajamos para cá, apesar de todas as ações que já estamos fazendo à distância porque estamos dispostos a bloquear o retorno ao trabalho, se a empresa insistir em colocar em risco a vida e a saúde dos trabalhadores”, ressaltou Alfredo.

Ações tomadas

No momento da entrevista, Alfredo disse que uma equipe da secretaria da Saúde da cidade vistoriava a empresa, e que, um pouco mais cedo, ele participou, junto com os colegas da direção do Sindiquímica, de uma audiência do Ministério Público do Trabalho (MPT), que instaurou um inquérito para investigar a Natulab.

“Estamos lutando em todas as frentes possíveis para garantir segurança e a saúde destes trabalhadores, mas se a empresa insistir neste retorno iremos impedir que a categoria volte a trabalhar, se contamine e morra por este vírus”, afirmou o dirigente.

Adaptação é necessária para o retorno ao trabalho

Alfredo contou ainda que o problema nem são os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) na produção, porque já são usados. Para ele, a questão principal está no acesso à empresa, nas catracas, nos veículos que levam os trabalhadores, nos refeitórios e até no serviço administrativo.

“Dá para voltar a trabalhar, mas é necessário uma adaptação para não ter aglomeração, conforme indica a OMS [Organização Mundial da Saúde], manter o distanciamento, revezamento de horários, mas a empresa não apresentou nenhum plano de segurança e quer voltar antes aos trabalhos sem estas garantias e nós não vamos permitir”, ressaltou. 

Segundo a entidade, há relatos de parentes de funcionários da Natulab sendo hostilizados ou mesmo afastados do trabalho,  na cidade, por conta das recentes notícias.

Falta de transparência

O dirigente contou que os trabalhadores estão apreensivos e preocupados com o retorno ao trabalho porque a empresa não é transparente e não comunica o que podem fazer para preservar vidas.

Segundo ele, os profissionais sabem que há 7 casos confirmados, mas os trabalhadores só conhecem quatro deles, e nem imaginam quem são os outros três.

“Eles não sabem de qual setor são, se tiveram contato com assintomáticos e, isso pode ser uma forma da categoria ser contaminada e ainda levar o vírus para seus familiares. É preciso transparência, cuidado e proteção para que todos e todas voltem ao trabalho sem medo e sem dúvida”, disse.

Reunião com a empresa

Os diretores do Sindiquímica estão esperando uma reunião com a Natulab há dias, via videoconferência, mas ela nunca foi realizada. Com a ida até a empresa, os dirigentes contam que a reunião estava marcada para a manhã desta terça, depois foi alterada para às 14 horas, e agora está agendada para às 17 horas.

Para Alfredo, esta atitude causa ainda mais espanto por se tratar de uma indústria farmacêutica que lida com a vida e a saúde de milhões de consumidores, colocando o lucro acima da vida.

“Se a empresa for incapaz de apresentar um Plano de Prevenção ao Covid-19 no local de trabalho seremos obrigados a nos questionar: qual a capacidade da empresa de manter padrões adequados de segurança biológica em sua produção?”, pergunta Alfredo.

Medidas emergenciais sugeridas pelo sindicato

O Sindiquímica enviou ainda no último sábado (23), mais uma vez, um ofício para a Natulab exigindo algumas medidas para o retorno dos funcionamento da empresa.

Segundo o documento, o sindicato reforça que o plano deve ser elaborado e acompanhado de forma coletiva pelos representantes dos trabalhadores e ter pessoal técnico qualificado da empresa que deverá ser responsável pela aplicação do plano e monitoramento diário das atividades.

No ofício enviado para a empresa, o sindicato destacou que tais medidas, além de permitir a manutenção da atividade produtiva vai evitar que o pânico e a desinformação tome conta da cidade.

Confira as medidas sugeridas pelo Sindiquímica para reabertura da empresa

As medidas visam a tranquilidade, não só dos funcionários e familiares, mas também dos moradores da cidade, que estão apreensivos com o risco de contaminação, já que a fábrica possui boa parte com residência no município. 

Relaxamento da decisão de interdição

O Sindiquimica também está cobrando da Secretaria Municipal de Saúde e Vigilância Sanitária da cidade uma justificativa por relaxar a interdição de funcionamento da fábrica sem as devidas medidas de segurança necessárias.

Com bases nas Normas Regulamentadoras, especialmente a NR-1, que trata de Gerenciamento de Riscos Ocupacionais, o Sindiquímica entrou com uma liminar na Justiça do Trabalho da Bahia e solicitou o impedimento do funcionamento da unidade até que seja realizada a testagem de todos os trabalhadores e que a empresa apresente um Plano de Contingenciamento.

O Sindicato aguarda a inclusão da prevenção ao Covid-19 no Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) e no Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), já existentes, e definição de corpo técnico responsável por acompanhamento, compartilhamento e transparência, elencando todas as medidas adequadas, de forma compartilhada com todos os trabalhadores.

Resposta da empresa

Procurada pelo Portal CUT, a empresa disse que foram identificados cinco casos de Covid-19 entre seus funcionários e que imediatamente, após os primeiros sintomas, essas pessoas foram afastadas, assim como todos os colegas que tiveram contato direto com eles.

Além disso, a Natulab informou que a decisão de não funcionamento das unidades na segunda (25) e terça-feira (26) se deu em razão à decisão do governo do estado de antecipar os feriados para essas datas. A empresa também disse que adotou procedimentos como medição de temperatura, o uso de máscaras de proteção, o maior distanciamento nas áreas comuns, a higienização frequente dos ambientes, a higienização dos pés de todas as pessoas que adentram a unidade e a disponibilização de álcool em gel nas dependências, além da comunicação constante dos procedimentos necessários para a conscientização e segurança dos colaboradores e seus familiares.

Mas, segundo o dirigente do Sindquímica, as informações da empresa não batem, e não há transparência sobre o total de casos, que oficialmente só se fala em quatro. Segundo ele, a empresa não informa quais ou quantas pessoas seguem afastadas.