Escrito por: Andre Accarini
Além de relatos sobre falta de materiais de segurança como luvas e máscaras em várias unidades de saúde, há também denúncias de que gestores estão proibindo o uso desses materiais para “não alarmar a população”
Médicos e profissionais da saúde de São Paulo estão se mobilizando e denunciando a falta de equipamentos necessários para proteger os trabalhadores da contaminação pelo coronavírus (Covid-19). De acordo com o Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp), que abriu um canal de comunicação para receber essas denúncias, faltam Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), há fluxo inadequado de atendimento e triagem e sobrecarga de trabalho.
Casos foram relatados em hospitais privados, inclusive, o Sírio Libanês e São Camilo. No serviço público, as unidades como o Pronto Socorro Municipal Dona Maria Antonieta Ferreira de Barros, no Grajaú, e o Ambulatório Médico de Especialidades, em Interlagos, também foram denunciados.
Já em Guarulhos, os profissionais do Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) alegam que não existe a mínima estrutura para receber corpos com suspeita de coronavírus.
O Sindicatos dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep-SP) também recebeu denúncias de profissionais da saúde. Um trabalhador, que preferiu preservar sua identidade, relatou o não uso de máscaras em várias unidades hospitalares públicas.
No Hospital Municipal Alípio Correa Neto, os gestores teriam justificado que a orientação para não usar as máscaras era para "não alarmar os pacientes". No mesmo hospital a direção orientou trabalhadores terceirizados da limpeza a não usarem a proteção.
Segundo o servidor, a Guima Conseco, empresa terceirizada que cuida da limpeza no hospital proibiu as funcionárias da limpeza de usar máscara. “Em um num dos andares onde elas fazem limpeza havia um paciente cujo teste deu positivo para o coronavírus em estado grave, tanto que foi removido para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI)”, denunciou o trabalhador.
O Sindsep-SP também recebeu denúncias que o mesmo problema está ocorrendo no Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe), da rede estadual, onde as chefias teriam recolhido as máscaras e determinado o uso apenas em casos confirmados de coronavírus.
O presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp), Eder Gatti, explica que no atual cenário, quem atua na linha de frente na saúde está correndo risco ainda maior de infecção por irresponsabilidade de seus empregadores e do poder público.
“Deveriam garantir EPIs adequados, higienização do ambiente e os fluxos que otimizem o atendimento de forma a proteger os pacientes e os profissionais de saúde. Só na China, são mais de 1700 profissionais da saúde infectados pelo vírus. Não podemos deixar que isso aconteça também com o Brasil”, diz o médico.
Ele ainda alerta que, com médicos e profissionais da saúde doentes, o atendimento à população será prejudicado.
Eder ainda afirma que a “legislação mais frouxa”, que retira direitos dos trabalhadores, aumenta ainda mais os riscos.
“Quando você flexibiliza as leis trabalhistas, o empregador fica desobrigado de garantir direitos como a licença por doença”.
A médica Juliana Salles, diretora do Simesp, ressaltou a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) no combate ao COVID-19. O SUS é responsável pelo atendimento à maioria dos casos de coronavírus e cerca de 70% de todos os internamentos em unidades de terapia intensiva (UTI).
Mas a médica destaca que o SUS conta, hoje, com um número de leitos muito reduzido em comparação à rede privada. “A resposta à esta crise precisa vir rapidamente e não seremos eficientes sem investimentos e valorização ao serviço público”.
Por isso, médicos e profissionais da saúde estão mobilizados para exigir do poder público providências para garantir segurança e proteção no trabalho.
De acordo com a assessoria do Simesp, o volume de denúncias aumentou nos últimos dias. A entidade comunicará oficialmente a Prefeitura de São Paulo e o Governo do Estado, nesta sexta-feira em busca de soluções para o problema.
O diretório municipal do Partido dos Trabalhadores já enviou ofício ao prefeito Bruno Covas (PSDB) exigindo medidas como destinar recursos suplementares, em caráter de emergência, para que o setor da saúde possa aumentar o número de locais de exames, leitos com equipamentos adequados e insumos específicos para o tratamento do coronavírus.
Um movimento de solidariedade aos trabalhadores e trabalhadoras das redes pública e privada está sendo organizado pelas redes sociais. A exemplo dos protestos feitos em várias cidades, nesta semana, em que milhares de pessoas foram as janelas gritar “fora Bolsonaro”, a manifestação chamada para esta sexta é um grande aplaudo, às 20h30, também nas janelas das casas e apartamentos, em homenagem e agradecimento aos profissionais