Escrito por: CNTRV
Evento virtual apresentou vídeo e pesquisa do Dieese sobre discriminação e condições de trabalho no ramo vestuário; carta de princípios vai orientar ações para promover ambientes acolhedores
Um encontro em nível nacional reuniu na manhã desta terça-feira (5/9) mais de 30 representantes de trabalhadores e de empresas do ramo vestuário para realizar um diálogo social a fim de debater estratégias e ações de combate à LGBTfobia em fábricas de calçados e confecções do Brasil.
Um vídeo baseado nos resultados de uma pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) chamou a atenção para situações de discriminação de pessoas LGBTs na indústria de confecções e calçados e introduziu o debate. (Assista aqui)
A pesquisa que baseou o vídeo é fruto do projeto “Nós Vestimos Todas as Cores”, desenvolvido pela Confederação Nacional do Ramo Vestuário da CUT (CNTRV) e Solidarity Center, com apoio do Labora/Fundo Brasil. Já o vídeo foi produzido pelo Dieese, com apoio do Labora. (Baixe os conteúdos da pesquisa aqui)
“Trata-se de materiais produzidos para subsidiar o debate em diversos espaços”, explicou Luisa Cruz, pesquisadora do Dieese.
Além de dirigentes de sindicatos ligados ao ramo vestuário da CUT, participaram representantes de entidades empresariais como Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX) e Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). A mediação foi do Dieese.
“A ideia de um diálogo social é que as partes envolvidas em determinado contexto promovam debates para olhar sobre algo que implica toda a sociedade. E as diversas formas de discriminação, como a LGBTfogia, cabem numa atividade como essa. O principal objetivo é consolidar pontes de diálogos e formar princípios para as práticas dos atores sociais”, explica Laura Benevides, pesquisadora do Dieese e mediadora da sessão.
Laura Benevides, pesquisadora do Dieese, mediou a sessão
Giliardi Gonçalves, coordenador do Coletivo LGBTQIAPN+ da CNTRV avaliou que o desenvolvimento de ações específicas para o combate à LGBTfobia nos locais de trabalho do ramo vestuário tem gerado bons frutos, mas é preciso obter maior alcance.
“Precisamos levar mais informação para a base, mas também para as empresas. Em Colatina, tentamos incluir algumas cláusulas sociais na Convenção Coletiva, mas o Sindicato Patronal não aceitou”, contou Giliardi.
Para Cida Trajano, presidenta da CNTRV, a participação de representantes do setor patronal no diálogo social merece ser celebrada por todo o ramo vestuário e dá uma nova dimensão às ações debatidas. Para a sindicalista, o desafio central é fazer com que elas efetivamente cheguem até os locais de trabalho.
“O que acontece nos locais de trabalho com relação à LGBTfobia é muito preocupante, como mostra a pesquisa realizada pelo Dieese. O despertar da consciência de que o problema existe e precisa ser enfrentado é algo fundamental na construção de empregos mais acolhedores e essa tarefa é das empresas, dos sindicatos e dos próprios trabalhadores e trabalhadoras. Daí a importância do diálogo social. Nosso desafio é fazer com que esse debate chegue, de fato, até as fábricas”, relata Trajano.
Cida Trajano, presidenta da CNTRV
Os representantes do setor patronal apresentaram na reunião as ações que suas entidades promovem no sentido de aprimorar a agenda de respeito às individualidades no ambiente corporativo. Para Fernando Pimentel, presidente da ABIT, há situações diferentes em cada região do país que exigem o comprometimento de toda a sociedade com esse tema, e não apenas de um setor.
“A ABIT, através de seus sindicatos, assume a responsabilidade com uma agenda nacional do respeito, do combate ao trabalho escravo e a todos os tipos de discriminação. Reconhecemos a importância do respeito a cada indivíduo, especialmente no ambiente corporativo”, disse Pimentel.
Edmundo Lima, presidente da ABVTEX, entidade que representa algumas das maiores marcas do país, destacou a importância de se promover a moda sustentável a partir do desenvolvimento de valores éticos e responsáveis.
Edmundo Lima, representante da ABVTEX
O presidente da Abicalçados, Haroldo Ferreira, destacou que sua entidade - que representa um setor responsável por cerca de 300 mil empregos diretos em todo o Brasil - possui programa destinado a criar empresas certificadas em cinco dimensões (sustentabilidade, econômica, ambiental, social e cultural). Segundo ele, o projeto já abrange empresas que representam cerca de 50% da produção nacional de calçados.
Haroldo Ferreira, presidente da Abicalçados
Ao final do encontro, os participantes assumiram o compromisso de reunir o conjunto de ações debatidas na atividade em uma “Carta de Princípios” que deve ser elaborada ainda neste mês de setembro.
“Esse diálogo social é apenas o início de um processo, que tem muitas etapas pela frente. O consenso claro desta reunião é a necessidade do engajamento de todos, todas e todes”, finalizou a mediadora Laura Benevides.
Evento contou com ampla participação dos sindicatos filiados à CNTRV