Escrito por: Érica Aragão
Profissionais da saúde de São Paulo vão denunciar, dia 14/08, descaso do governo do Estado com categoria e vão homenagear trabalhadores e trabalhadoras que perderam suas vidas salvando outras vidas
Vestidos com aventais brancos descartáveis, uma cruz vermelha estampada, gorro e máscara, os profissionais de saúde de São Paulo irão, no próximo dia 14 de agosto, uma sexta-feira, protestar contra o descaso do governador do Estado, João Doria (PSDB) com a categoria. A manifestação também terá um ato em homenagem a 50 profissionais da saúde, vítimas fatais da pandemia do novo coronavírus (Covid 19).
A mobilização é também em protesto ao corte dos 40% de insalubridade da categoria, que em meio a maior pandemia da história coloca suas vidas em risco para salvar outras vidas, além de denunciar a entrega de equipamentos públicos da saúde para empresários amigos do governador e a terceirização irrestrita no setor público.
Os profissionais de saúde vão ainda tornar pública a política neoliberal de Doria, que retirou o pagamento de 1/3 de férias, não pagou os 50% do 13º salário, e para os contratados pelo regime CLT não pagou o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Também há diversas reclamações dos trabalhadores e das trabalhadoras dizendo que os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) distribuídos pelo governo não estão sendo de qualidade.
“Doria está atacando os profissionais de saúde que estão na linha de frente no combate ao coronavírus. Ele está nos punindo com morte, contaminação e sequelas, diminuindo nossos salários e retirando nossos direitos e ainda tem coragem de ir à mídia dizer que o Estado está preparado para fazer um bom combate. Quem faz o bom combate somos nós, as trabalhadores e os trabalhadores da saúde”, afirmou a secretária-Geral do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo(SindSaúdeSP), Célia Regina Costa, que complementou: “Não sairemos das ruas enquanto não tivermos nossos direitos de volta , arduamente conquistados”.
A concentração do protesto será às 10 horas, em frente a nova sede do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo (SindSaúdeSP), na Rua Teodoro Sampaio, 483, que será inaugurada na data do protesto, 14 de agosto.
Em seguida, os trabalhadores seguirão até a porta da Secretaria Estadual da Saúde, na Rua Doutor Arnaldo, 361. O local é conhecido como quarteirão da saúde, por ter vários hospitais na região.
A ideia é que a mobilização aconteça em frente ao órgão, onde balões brancos, enchidos com gás hélio e com a inscrição em preto dos nomes de nove vítimas da Covid-19, serão soltos no céu da cidade.
“Durante a caminhada até a secretaria a gente vai dialogar com a população sobre todas nossas reivindicações e também vamos citar os nomes dos colegas que perderam suas vidas tentando salvar outras vidas”, explicou a diretora de organização do SindsaúdeSP, Roseli Ilídio, que também faz parte da comissão organizadora do ato.
Luta dos trabalhadores e das trabalhadoras do Iamspe
Outra luta que está sendo travada paralelamente é a dos profissionais de saúde do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe), sistema de saúde que atende 1,3 milhão de funcionários públicos do Estado de São Paulo e seus dependentes.
Além de estarem também na mobilização do dia 14, esses profissionais participaram da carreata em defesa da vida, que aconteceu junto com os trabalhadores da educação no último dia 29, e fizeram uma paralisação de 48 horas nos dias 16 e 17 de julho.
Além das pautas da categoria como um todo e a homenagem programadas, os trabalhadores do Iamspe também vão denunciar o descaso do governo do Estado com o sistema que atende todo o funcionalismo público e protestar contra retirada de direitos.
A categoria denuncia a terceirização irrestrita e desenfreada que vem acontecendo no Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), reivindica a criação de um Conselho Deliberativo com todas as representações dos usuários, o pagamento do bônus (bonificação de resultados) e a volta do Instituto para a gestão da Secretaria de Estado da Saúde (SES).
“Já está no Diário Oficial o contrato que foi fechado entre Doria e uma empresa que vai terceirizar o PS [Pronto Socorro] do HSPE de quase R$ 30 milhões. Fora que ele já terceirizou a parte médica e a enfermagem, mas não convocou ninguém remanescente do concurso e ainda não quer pagar nosso bônus”.
“E além disso, queremos um conselho em que a categoria de toda São Paulo possa estar representada e que consiga ajudar a tomar as decisões, pois a gente paga e gere tudo isso”, explicou Célia, se referindo ao pagamento de 2% dos salários dos servidores públicos de todo o Estado para manter o HSPE.
Segundo ela, desde 2008 o Instituto tem sido transferido de pasta em pasta. O Iamspe já foi responsabilidade da Secretaria de Saúde, Secretaria de Gestão, Secretaria de Administração, Secretaria de Planejamento e Gestão, Secretaria de Governo e quando Doria assumiu mudou mais uma vez o Instituto, e agora a responsabilidade é da Secretaria de Projetos,Orçamento e Gestão.
“Com essas mudanças a gente passou a ter um salário menor do que os profissionais ligados à Secretaria da Saúde e ainda perdemos o prêmio de incentivo. E ainda tivemos que ouvir agora que como somos de outra secretaria também não vamos receber o bônus. Quer dizer, tem 30 milhões para dar para uma empresa e não tem mil reais para dar para os trabalhadores do Iamspe?”, questiona Célia.
Segundo ela, a Lei para pagar o bônus para os trabalhadores da saúde era do orçamento da Secretaria da Saúde e como o Imspe foi para outra pasta, Doria alega que não há mais o recurso. Os profissionais contestam e dizem que este dinheiro foi parar em outro bolso.
“Numa negociação que o sindicato vinha fazendo com o superintendente do Instituto, o médico Wilson Pollara, disse que estava programado o pagamento do bônus no mês de julho e, agora, quando o SindsaúdeSP cobrou o pagamento a desculpa foi a mudança de pasta. O que fizeram com o dinheiro do pagamento, enfiaram em qual bolso?”, pergunta Roseli, que também é servidora do Instituto.
Covid-19 no Iamspe
Desde o início da Pandemia do novo coronavírus, nove trabalhadores do Instituto morreram devido à Covid-19, sem contar os inúmeros casos de infecção.
Célia conta que não há controle dos contaminados no HSPE porque não tem teste para a categoria. Ela disse que o sindicato tem trabalhado por conta própria para ter estes dados.
“Estamos fazendo uma pesquisa interna com representantes do sindicato nos locais de trabalho para conseguir mapear o contágio da doença os profissionais que estão na linha de frente no combate ao coronavírus, mas nós também queremos que Doria considere doença do trabalho, como determinou o STF [Superior Tribunal Federal]”, ressaltou a dirigente.