Escrito por: Luiz Carvalho e Leonardo Severo, da Palestina
Terra Santa é exemplo de como discurso da legalidade pode camuflar o desrespeito
Quaquer documento da Palestina passa pelo crivo de Israel, explica Lara
O processo de ocupação por Irael dos territórios palestinos tem um ponto central: Jerusalém. Quem controla a cidade também controla a política. Para os palestinos, o sonho de ser a capital do Estado. Para os sionistas, a capital una, indivisível e que deve ser exclusivamente judia.
Antes de olhar para frente é preciso uma breve explicação sobre o passado. A imigração de judeus para a Palestina ganhou força após 1918 e, com o final da Segunda Guerra Mundial, o fluxo imigratório cresceu brutalmente.
Em 1947, a ONU (Organização das Nações Unidas) aprovou a partilha do território palestino entre judeus e árabes. Um ano depois, os primeiros proclamaram o Estado de Israel.
Vinte anos depois, os israelenses vencem a Guerra dos Seis Dias com a ocupação de Gaza e da Cisjordânia, antes territórios palestinos. Com isso, a invasão sobre a parte oriental de Jerusalém resulta na expansão artificial das fronteiras.
Apartheid
Um dos principais símbolos do sionismo é o hospital construído por jordanianos que se transformou na sede da polícia israelense. Em Jerusalém, há 16 colônias construídas por Israel que abrigam 215 mil pessoas e funcionam com um curioso sistema habitacional.
A propriedade das casas, sempre em tom claro, pertence ao governo e isso impede que sejam vendidas. Segundo organizações de apoio aos palestinos, como a CCDPRJ (Coalização Cívica para Defesa dos Direitos dos Palestinos em Jerusalém), o objetivo é evitar a mistura de povos. Mesmo assim, para impedir qualquer desvio, toda venda é submetida a uma espécie de conselho condominial.
Na outra ponta da balança, apenas 13% das terras estão com os palestinos, que vivem em dois campos com quatro mil pessoas expulsas pelos israelenses e refugiadas dentro da própria terra. Diante delas, a visão do Muro da Cisjordânia construído por Israel a partir de 2004 para dividir os povos e estabelecer um ranking qualitativo de etnias.
Roubo e opressão
Mas há também os palestinos que vivem em bairros majoritariamente não-sionistas, como é o caso do refugiado jordaniano Nabeel al-Kurd, que exemplifica de forma ímpar a relação entre israelenses e palestinos.
Refugiado da Jordãnia, ele chegou ao bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém, em 1956 e até 2009 viveu com a família de 13 pessoas. Naquele ano, porém, teve a parte da frene de sua casa confiscada pelo governo, que colocou lá uma família de colonos israelenses. A área de trás, onde vive agora, está sub judice.
A razão que Israel alega é a expansão da moradia. O palestino precisava de uma autorização do Estado para reformar ou construir em seu próprio terreno. Quando não obtém a licença e toca a obra, está sujeito à demolição e confisco, uma forma de estrangular o crescimento do território palestino, já que o aval, quando sai, costuma demorar até uma década.
Não bastasse isso, Kurd ainda teve de pagar 16 mil shekels pelo custo da remoção que leva muitas pessoas a demolirem a própria moradia, pressionadas pela polícia, para não ter dívida com o Estado.
Apenas reconhecimento do Estado Palestino por outras nações não é o suficiente, avalia Garadot
Desde 1967, 14 mil indivíduos tiveram o direito de morar em Jerusalém cancelado.
Lara diz ainda que qualquer documento produzido pela Autoridade Palestina precisa ser submetido à chancela de Israel. De carteiras de identidade a registros de nascimento e critica o que define como manipulação israelense do apartheid.
“Os israelenses tentam transformar o conflito em algo de natureza religiosa e a OLP repudia essa posição porque o judaísmo jamais foi motivo de incômodo para Palestina. O que a Palestina quer é uma Jerusalém acolhedora e aberta a todas as formas de expressão monoteístas”, explica.
Tratados desrespeitados
Representante da Coalizão pelos Direitos Palestinos em Israel Ingrid Garadot ressalta que há regras determinadas pela ONU (Organização das Nações Unidas) em caso de ocupação de territórios. O país ocupante não pode confiscar terras, propriedade, bens e nem trazer a própria população para o território ocupado. Muito menos anexar a área definitivamente. Israel viola todas.
Desde 1980, o Conselho de Segurança do organismo insiste em não aceitar a ocupação, mas não faz nada de concreto para revertê-la, defende Ingrid. Por essa ausência e pela falta de ordenação mais prática, Israel se sente livre para atuar da forma que deseja, ela diz.
Livre de sanções, os israelenses colocam em prática também a estratégia de recontar a história a partir dos livros didáticos nas escolas.
“A Autoridade Palestina não tem autorização de estar na Jerusalém Oriental, mas foi acertada a inclusão de livros e currículo com a história da Palestina . Porém, desde 2011, Israel tenta mudar isso também, arrancando páginas e cobrindo parte dos textos que tratam de Jerusalém como capital dos palestinos”, denuncia.
Ingrid diz que a falta de informações transparente para a sociedade prejudica medidas muito importantes para o fim da ocupação israelense, como o boicote aos produtos sionistas. Fator que reforça a importância da missão em solidariedade à Palestina, com a CUT entre seus membros.
“Enquanto o conflito entre Israel e Palestina for visto como guerra entre Hamas e fundamentalistas islâmicos, Israel poderá usar muita força. Por isso, é importante falar de colonialismo e apartheid. Há opressor e oprimido e não dois lados em guerra”, fala.
Para ela, os países também que reconheceram o Estado Palestino, como foi o caso do Brasil, em 2010, devem ter uma postura mais firme com o governo israelense.
“Atitudes de reconhecimento de Estado não são suficientes, têm que ser tomadas atitudes contra o colonialismo e o apartheid também. Porque depois do reconhecimento, o acesso político a Jerusalém continua muito difícil, nada mudou.”