Escrito por: Leonardo Severo, de Assunção
Sem desconcentrar terras e renda não haverá desenvolvimento
Sindicalistas participaram ativamente dos debates no salão da CUT-A
No acampamento sem-terra de Marina Kue, em Curuguaty, foram assassinadas 17 pessoas (seis policiais e 11 camponeses) no dia 15 de junho de 2012, após um sangrento despejo que envolveu 324 policiais fortemente armados, com fuzis e helicóptero. Causada por franco-atiradores, tropas especiais treinadas pelo governo dos Estados Unidos, a matança levou ao impeachment do presidente Fernando Lugo uma semana depois, feita sob medida para a criminalização dos movimentos sociais e a paralisação da reforma agrária.
Bernardo Rojas, presidente da CUT-A; Siderlei de Oliveira e o sindicalista aposentado Francisco Ortiz
“Estamos hoje aqui e participamos do Congresso Democrático do Povo em Curuguaty, na quarta-feira, para reiterar o nosso compromisso comum contra os desgovernos neoliberais de Cartes e de Temer e sua política de entrega ao estrangeiro, contra a integração latino-americana”, afirmou Siderlei, que também é presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Alimentação (Contac) e do Observatório Social da CUT. Conforme Siderlei, “o retrocesso golpista só serve a uma pequena elite que quer ampliar seus ganhos com base na superexploração da classe trabalhadora, do arrocho de salários e do corte de direitos”.
Victor Báez, secretário-geral da CSA, veste a camisa pela libertação dos presos de Curuguaty
Victor Báez citou o problema da evasão fiscal como a grande fonte de sangria de recursos dos países da América Latina, lembrando que só no ano passado foram US$ 340 bilhões, 12 vezes a economia do Paraguai e 6,7% do PIB da região. No caso paraguaio, assinalou, a frouxidão da legislação - que cobra quase nada do agronegócio exportador (soja e gado) – e a falta de rigor na fiscalização empobrecem o Estado, que não tem como fazer frente às demandas sociais.
Em sua análise sobre o salário mínimo e o custo de vida nos últimos 27 anos, o economista Raúl Montes Domek apontou que as perdas acumuladas são de 25% a 30% e que o valor atual de 1.880 guaranis (cerca de R$ 1.150) é “inteiramente insuficiente” para a sobrevivência de uma família. Domek defendeu que “é hora do conjunto das centrais sindicais se unirem em torno de uma Agenda País que coloque a valorização do salário mínimo como prioridade, bem como o combate as concessões-privatizações das empresas do Estado”.
JBS: OPORTUNISMO E DESINTEGRAÇÃO
Solidariedade cutista ganha destaque em Curuguaty, no Congresso Democrático do Povo
Conhecedor dos desmandos da JBS, o aposentado paraguaio Francisco Ortiz, veterano militante da CUT-A, denunciou que “uma das formas que esta multinacional utiliza para mascarar sua atuação fraudulenta e debilitar o movimento sindical é usar vários nomes fantasia. Inicialmente havia uma Industrial Paraguaia Frigorífico S.A, depois Cuality, Bertin e, finalmente, JBS”. Assim, explicou, “o funcionário ganha na Justiça uma indenização de 50 mil reais, mas vem a ‘outra’ empresa - que é a mesma com outro nome - e diz, você aceita 25 mil reais e pode continuar trabalhando. Sem alternativa, a pessoa aceita”.
Entre as inúmeras irregularidades, frisou Ortiz, está a imposição de jornadas de trabalho completamente ilegais e sem o pagamento de horas extras, “iniciando às cinco da manhã e se estendendo sem pausa até às duas e meia da tarde”. Como no Paraguai existe estabilidade no emprego para o trabalhador após 10 anos, muita gente é demitida quando está preses a garantir a conquista, mesmo tendo sofrido agruras. Este é o caso de Teodoro Osório, explicou, que “após nove anos, 11 meses e 20 dias, foi jogado no olho da rua, sendo informado pelo guarda, que não lhe deixou entrar no frigorífico”. “Teodoro trabalhava no setor de congelados de carne, de 30 a 40 graus debaixo de zero, sem sequer receber insalubridade”, condenou.
ASSÉDIO MORAL E SEXUAL
De acordo com Ortiz, existem montanhas de denúncias quanto à prática criminosa de assédio moral e sexual: “maltratam as meninas que vão procurar emprego, vinculando a terem relações sexuais para conseguir um posto, assim como cobram 500 mil guaranis (R$ 300) para que os homens sejam indicados para o emprego”.
“Aqui em Assunção, temos o caso de um dirigente do Sindicato, Miguel Gonzalez, que como não podia ser demitido, pois tinha estabilidade laboral e sindical, foi colocado num depósito, para que ninguém se aproximasse, como um preso político”. “Em Santo Antônio, fomos organizar um Sindicato no domingo. A empresa infiltrou alguém e, já na segunda-feira, os companheiros estavam demitidos. Assim age a JBS no Paraguai”, explicou.