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SP: Bibliotecários criam canal para mediar leitura e informação no isolamento social

Com ajuda do Sindsep, servidores municipais também estão na luta para que toda categoria consiga trabalhar a distância, já que bibliotecas não estão na lista de serviços essenciais

Publicado: 03 Abril, 2020 - 10h53 | Última modificação: 03 Abril, 2020 - 11h25

Escrito por: Érica Aragão

Divulgação
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Reprodução da abertura da contação de história apresentada no Canal BiblioCeu

Os pais e mães que estão com as crianças em isolamento social devido ao fechamento de escolas, uma das medidas tomadas para conter a disseminação do novo coronavírus (Covid-19) podem oferecer para seus filhos e filhas, por meio de vídeos publicados no Youtube, informação de qualidade, mediação de leitura e ainda aproveitar para conhecer um pouco sobre o trabalho dos bibliotecários dos Centros Educacionais Unificados (CEU) de São Paulo.  

E tudo isso pelo canal BiblioCeu, criado por estes profissionais para manter à distância ações educativas e culturais da categoria, entreter as crianças e adultos, desmistificar a visão errada que muitas pessoas têm sobre os bibliotecários e mostrar que esses profissionais não estão na biblioteca só para fazer o empréstimo de livros.

O canal tem pouco mais de 275 pessoas inscritas, mas é considerado ainda um bebê pelos bibliotecários.

Foi lançado no dia 25 de março, sem nenhum vídeo, o primeiro vídeo foi de boas-vindas e o segundo vídeo foi publicado esta semana e apresenta a história “A Festa no Céu”, que mostra a solidariedade dos animais que voam para ajudar uma tartaruga a participar de uma grande festa no céu, interpretada pela historiadora e contadora Aline Tavella, bibliotecária no CEU Perus, com a edição de Aline Franca, bibliotecária do CEU Parque Veredas.

“Percebemos que as pessoas estão gostando do canal, pois os comentários têm sido bem positivos. Pretendemos repercutir bastante estes conteúdos para ampliar cada vez mais o número de inscritos. Nosso objetivo é que as pessoas percebam que podemos ter uma biblioteca viva mesmo diante do ineditismo dessa situação e continuar fazendo a diferença na vida da nossa comunidade”, explicou a Analista de informações, cultura e desporto – Biblioteconomia, Cíntia Mendes, uma das idealizadoras do projeto.

Segundo ela, tudo é feito de forma colaborativa e absolutamente solidária.

“O bibliotecário faz o vídeo em casa com seu próprio celular e coloca em uma pasta compartilhada com os colegas, que podem dar sugestões. Cada um vê sua disponibilidade de tempo e faz o que dá, afinal além do canal estamos desenvolvendo outras atividades administrativas e técnicas da biblioteca", contou Cintia, trabalhadora do CEU Cidade Dutra há 4 anos. Segundo ela, já tem 10 vídeos na espera pela edição.

Os conteúdos dos vídeos são pensados e produzidos em torno da mediação de leitura e de informação, algumas das atividades principais dos bibliotecários e bibliotecárias.

“A gente busca reproduzir um pouco da nossa prática cotidiana, como indicar leituras, fazer resenha falada de um livro, fazer a leitura da obra, declamar poesias e contar histórias, mas também vamos produzir vídeos de oficinas de materiais úteis para os usuários, ensinar a acessar o catálogo de livros online do Sistema Municipal de Bibliotecas, entre outras coisas”, explicou Cintia.

“Um dos vídeos que entrará no canal, inclusive, é uma história de terror que a mãe da bibliotecária Rejane (CEU Rosa da China) contava para ela na infância”, exemplificou.

Para a Analista Bibliotecária da Prefeitura de SP e secretaria da Mulher Trabalhadora do Sindicato dos Servidores Públicos da cidade (Sindsep), Luciana Maria de Melo, mais conhecida como Luba Melo, projetos como este neste momento em que as escolas estão fechadas e muitos pais e mães estão se equilibrando entre a lição, cuidados e trabalho é muito bom para distrair e ensinar as crianças e os adultos.

“Eu tenho um filho de cinco anos e é muito difícil manter a criança em casa trancada 24 horas e com este canal a gente amplia o conhecimento, tanto dos pais quando das crianças, e ainda ajuda a passar o tempo”, disse Luba.

A sindicalista disse que a direção do Sindsep está muito feliz pela iniciativa e a entidade tem divulgado bastante, mas, segundo ela, outras categorias também têm feito ações como esta.

Luta dos bibliotecários pelo tele trabalho

A direção do Sindsep tem cobrado incansavelmente o governo e os órgãos públicos a necessidade de cumprimento do Decreto 59.283, de 16 de março de 2020, de situação de emergência no Município de São Paulo, que define entre outras medidas para o enfrentamento da pandemia decorrente do coronavírus, a possibilidade de tele trabalho para os trabalhadores dos serviços não essenciais, que é o caso de bibliotecas.

Inclusive a criação do canal BiblioCeu aconteceu porque os trabalhadores e as trabalhadoras estavam criando um plano de tele trabalho.

“Alguns bibliotecários conseguiram a liberação para tele trabalho e outros não, mas com o decreto de situação de emergência as bibliotecas públicas foram fechadas e por isso entendemos que por uma questão de bom senso todos os bibliotecários podem ser liberados para o tele trabalho, logo que não fazem parte dos serviços considerados essenciais, como saúde e segurança pública" contou Cíntia, que é uma das que estão trabalhando a distância.

 Para Luba, que também é bibliotecária, permitir o deslocamento de trabalhadores e trabalhadoras entre suas residências e o local de trabalho, mesmo com a biblioteca fechada e ainda sem Equipamentos de Proteção Individual, como álcool em gel, máscaras e luvas, é condenar estes profissionais.

“Além de arriscar a pegar a doença, eles estão arriscando suas vidas nestes ambientes fechados e vazios podendo sofrer violências”, afirma.

“O trabalhador deve ficar em casa como orienta a Organização Mundial da Saúde porque neste momento não temos vacina, não tem tratamento e medicamento para combater o coronavírus e a nossa única arma neste é o isolamento social”, diz Luba.

Segundo a sindicalista, a Secretaria Municipal da Educação (SME) tem dificultado o diálogo com a categoria e outras articulações estão surgindo para conseguir que todos e todas bibliotecárias possam fazer o tele trabalho.

“A gente tem dialogado com outros sindicatos da educação para que façamos um movimento em conjunto para dialogar com a secretaria o mais rápido possível, porque na maioria dos CEUs os bibliotecários, bibliotecárias, analistas de esportes, trabalhadores do atendimento e da limpeza ainda estão indo para os locais de trabalho. E não vamos deixar de luta até que todos e todas fiquem em casa e priorizem suas vidas e a vida de seus familiares”, concluiu.