Tatto liga combate a desigualdades a enfrentamento a Bolsonaro
Debate em São Paulo tem ausência de Covas, Boulos, Russomanno e França. Tatto e Orlando Silva enfatizam críticas a Bolsoanro e combate a desigualdades
Publicado: 12 Novembro, 2020 - 09h10 | Última modificação: 12 Novembro, 2020 - 10h52
Escrito por: Gabriel Valery, da RBA
O debate entre candidatos a prefeito de São Paulo, realizado nesta quarta-feira (11) pela TVT em parceria com Rede e Rádio Brasil Atual, Uninove e OAB-SP, foi marcado pela ausência dos mais bem posicionados nas pesquisas. O atual prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), além dos rivais Guilherme Boulos (Psol), Celso Russomanno (Republicanos) e Marcio França (PSB) não participaram do debate. Compareceram Arthur do Val – Mamãe Fale (Patriota), Jilmar Tatto (PT), Joice Hasselmann (PSL), Marina Helou (Rede) e Orlando Silva (PCdoB).
Tatto e Orlando foram os mais incisivos críticos do presidente Jair Bolsonaro, apoiador de Russomanno. Enfatizaram ainda semelhanças entre Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria, padrinho de Bruno Covas. Ambos – embora venham trocando farpas nos últimos tempos – lideram governos marcado pelo desmonte de serviços públicos e do papel do Estado. Arthur do Val e Joice, assim como Doria beneficiados pela onda de fake news e antipolítica nas eleições de 2018, bateram em Doria, e esconderam sua raiz bolsonarista.
Os aspirantes à chefia do Executivo da maior cidade do Brasil debateram temas e problemas que impactam as vidas dos eleitores. Foi o penúltimo debate entre candidatos de São Paulo em TV aberta. Nesta quinta (12), a TV Cultura exibe o último confronto antes do primeiro turno, no domingo (15).
Jilmar Tatto assinalou ainda sua experiência em diversos setores da administração municipal nas gestões de Marta Suplicy e Fernando Haddad. “Fui secretário de Abastecimento. Implementamos almoço e janta nas escolas. Conheci a máquina por dentro. Fui secretário de Transportes. Implementei o bilhete único. Implantei também corredores de ônibus, ciclovias, o vai e volta.”
Economia solidária e periferia
Tatto observou que a pandemia de covid-19 ampliou desigualdades e aumentou o desemprego no país. “Quero passar minha experiência para enfrentar a desigualdade. O fosso entre ricos e pobres é gigante. Aumentou na pandemia. Vamos implantar a renda básica, o passe livre de desempregado, construir casas populares”, mencionou.
O candidato do PT destacou o objetivo de criar 500 mil empregos por meio de políticas públicas. Anunciou a criação de frentes de trabalho como meio de combater a crise de ocupação pós-pandemia. E projetos de estímulo à economia solidária tendo a administração municipal como apoiadora e financiadora de empreendimentos coletivos. Citou como exemplos a aquisição de uniformes escolares e de profissionais da saúde confeccionados por cooperativas, Mencionou ainda apoio a coletivos na coleta de recicláveis e compra de alimentos de agricultores familiares.
Orlando, do PCdoB, também destacou a desigualdade social como grande problema da cidade. “São Paulo é a cidade mais rica do Brasil. Tão rica quanto desigual. O Mapa da Desigualdade evidencia isso. A expectativa de vida é de 81 anos nos Jardins e 51 anos no Jardim Ângela. Cada quilômetro para a periferia é um ano de vida a menos. Superar a desigualdade será nosso desafio. Devemos quebrar os muros, governar para a periferia, garantir participação efetiva para priorizarmos a periferia”, disse.
Vanguarda
Já o candidato Arthur do Val, o youtuber de direita eleito deputado estadual com apoio do Movimento Brasil Livre (MBL), citou o Plano Diretor Estratégico (PDE) como um vetor de problemas. O plano de vanguarda, gestado durante dois anos com a participação de vário partidos, amplos debates na Câmara e intensa participação de organizações da sociedade civil, foi aprovado durante o governo Haddad para ser posto em prática entre 2015 e 2030. Mas do Val promete apostar na revisão do plano em 2021.
“Os problemas de SP passam pelo excesso de planejamento do Plano Diretor que empurrou as pessoas para as periferias. As regiões centrais, com mais recursos, perdem população”, observou, mencionando uma ideia de adensamento que vai na contramão das políticas urbanas do mundo. “A cidade está crescendo nas regiões periféricas. Isso é um absurdo.”
Outra candidata da direita, do PSL, Joice Hasselmann, exaltou sua experiência como líder do governo, sem citar o nome do chefe de governo, Jair Bolsonaro. “Liderei o atual governo dentro do Congresso em reformas como da Previdência e linhas de crédito para pequenos comerciantes. Produzi mais do que muito deputado que está lá a anos. Os maiores problemas envolvem IPTU alto, fila na saúde e educação. Dá pra resolver”, disse.
Já a candidata da Rede Sustentabilidade, Marina Helou, comemorou a realização do debate e falou em metas possíveis. “Nesse momento de retrocessos tão grandes, precisamos do debate. Temos um programa que traz inovação que inclui o meio ambiente. Li todos os programas e nosso programa não promete o que não pode cumprir. Mas promove oportunidades iguais para todas as pessoas. Vamos investir em qualidade das creches, para além das filas. Vamos investir em emprego e renda, saneamento básico.”
Problema do bolsonarismo
Questionados sobre qual o tipo de relação o candidato teria, se eleito, com o governo Bolsonaro, as respostas variaram. Ninguém quis vincular suas propostas com o desastroso bolsonarismo, mas alguns foram mais enfáticos. Como Tatto, que defendeu São Paulo como uma “trincheira de resistência” contra os retrocessos representados pelo presidente.
“Vou organizar uma trincheira contra Bolsonaro. Sou ‘Fora Bolsonaro’. Ele não tem conserto. Não vamos nos enganar. Vou organizar a resistência. São Paulo será a cidade da tolerância, da solidariedade com as pessoas que ele desrespeita todos os dias. Vamos fazer testes de covid para evitar mortes. Diferente dele, que é contra até mesmo a vacina. Relação institucional, mas todos os dias vou organizar São Paulo em uma frente democrata para tirar Bolsonaro da presidência. Não dá. Chega”, sentenciou o petista, defendendo a volta de Lula em 2022.
Orlando Silva também reafirmou sua postura de oposição, mas com um tom mais diplomático. “O prefeito é líder político. Não será líder de um partido, mas vai vocalizar as necessidades de SP. Sou oposição a Bolsonaro, considero que ele tem sido genocida na condução da covid-19, mas temos que ter relação institucional. Ele comemorou interrupção de pesquisas de vacinas. Minha posição é cristalina. Somos oposição à essa irresponsabilidade. Mas precisamos de uma relação institucional.”
Marina Helou seguiu no mesmo tom. “Minha posição frente ao presidente é de oposição. Ele é irresponsável e usa seu cargo de forma leviana, se preocupa só com sua família. Serei uma prefeita de oposição ao desgoverno do Brasil. Temos um líder irresponsável principalmente para os que mais precisam. Mulheres, mulheres negras à margem das políticas públicas que nas mãos deste presidente racista, misógino e homofóbico sofrem.”
Do lado de lá
Mesmo os que ajudaram Bolsonaro em sua campanha em 2018 preferiram a distância ao governo. Joice Hasselmann fez questão de reafirmar seu rompimento com o presidente – mas em razão da conduta dos filhos, e não a do presidente. “Me afastei de Bolsonaro quando ele colocou os filhos acima da nação. Isso é algo que quem tem espinha ereta faz. Mesmo sendo uma voz da direita, é possível dialogar com votos da esquerda. Independente da ideologia não podemos colocar vidas acima da ideologia”, disse.
O youtuber ligado ao MBL preferiu uma postura mais branda quanto às críticas ao bolsonarismo. “Gulherme Boulos (candidato do Psol) é anti-Bolsonaro e traz propostas maravilhosas sem mostrar como fazer. Márcio França (candidato do PSB) é o anti-Doria. Russomano não tem OAB. Covas é o homem do Doria, aliado do governador, não conta que na pandemia travou cruzamentos da cidade, e voltou atrás. Diminuiu frota de ônibus. Que maluquice. São Paulo precisa de alguém que não usa a prefeitura como projeto político”, afirmou.
Políticas públicas
Questionado pelo jornalista Juca Kfouri sobre a alta letalidade das polícias e o papel da Guarda Civil Metropolitana (GCM), Mamãe Falei defendeu aumento da violência policial. “Juca fala de desmilitarização. É um conceito ideológico e não há conceito que dê certo. Vamos ter uma GCM que vai fazer ronda extensiva. Presença armada e equipada”, disse. A desmilitarização é realidade mesmo em países como Estados Unidos.
Em uma questão direcionada por uma professora da área da saúde da Uninove, Tatto saiu em defesa do SUS. “Minha política é de fortalecer o SUS. Os médicos, os que estavam lá na linha de frente, alguns morreram, inclusive, por falta de equipamentos. Olha o desleixo. A prefeitura fez hospitais de campanha em áreas ricas e abandonou a periferia. Deveria ter reativado hospitais como o Sorocabana. Vamos recontratar os Mais Médicos. Somos pelo SUS, vamos fazer a fila andar.”