Escrito por: Redação CUT/Texto: André Accarini
De acordo com o Banco Central a taxa do rotativo do cartão de crédito ficou em 364% ao ano em abril. Selic pode ter novo aumento. Enquanto isso, quase 80% das famílias brasileiras estão inadimplentes
Acompanhando a alta da inflação, os juros do rotativo do cartão de crédito, modalidade responsável por maior parte do endividamento das famílias no Brasil, disparou em abril deste ano, segundo informações do Banco Central, divulgadas esta semana. A taxa do chamado rotativo do cartão passou de 359,1% em março para 364% ao ano, em abril, uma aumento de 5 pontos percentuais em um mês
A taxa anual de juros para as compras parceladas no cartão, apesar de menores que a do rotativo, também são altas e aumentaram. Passaram de 171,7% em março para 175,1% em abril (+ 4 pontos percentuais). Já o cheque especial variou quase 5 pontos percentuais passando de 127,8% para 132,7% ao ano.
Taxas de juros altas comprometem renda
Em um cenário em que fatores como o desemprego, os baixos rendimentos por causa da informalidade, em que a grande parte das negociações coletivas não garantiu sequer a reposição da inflação, calculada em 11,2% ao ano, as altas taxas de juros das operações de crédito, em consonância com a elevada taxa Selic, fixada pelo Banco Central (hoje em 13,25%), vêm contribuindo para que, cada vez mais, famílias brasileiras sejam obrigadas a deixar de pagar contas para sobreviver.
De acordo com uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC), quase oito em cada dez brasileiros estavam nessa situação em junho deste ano. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, mostrou que 77,3% das famílias estão endividadas – um aumento de 7,6% em relação ao ano anterior. E o cartão de crédito é maior vilão. Do total de endividados no Brasil, 86,6% estão inadimplentes nesta modalidade.
O crédito ao consumidor mais caro afeta principalmente os trabalhadores de menor renda. Ao pagar juros mais altos, o que ocorre é uma transferência da renda do trabalhador ao sistema financeiro, conforme explica a técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Adriana Marcolino.
“Quem paga são os mais pobres, por isso o aumento na Selic é péssima medida para os trabalhadores”, ela diz.
Vai piorar
E a expectativa é de mais elevação de juros. Apesar de o BC ainda não ter se pronunciado sobre um possível aumento da Selic, economistas ouvidos por vários portais como Forbes e Reuters no Brasil, acreditam que a taxa passará a 13,75% ao ano (aumento de 0.5 ponto percentual) na próxima reunião do Conselho de Política Monetário do BC (Copom), que deve acontecer na semana que vem, nos dias 2 e 3 de agosto.
Já o ex-diretor do Banco Central, Fabio Kanczuk, em entrevista ao Globo, defendeu que a Selic suba para 14,25% “até que a alta surta efeito”, mesmo que isso implique em um aumento ainda maior do que o anterior (0,5 p.p.).
Impactos
A alta da Selic tem efeitos sobre as demais taxas de juros de mercado. Significa que quando o Banco Central aumenta a Selic, normalmente as instituições financeiras elevam ainda mais as taxas de juros das demais modalidades de crédito, como o cartão de crédito, o empréstimo pessoal, o cheque especial, o financiamento imobiliário etc.