Taxa de juros no Brasil equivale a pena de morte diz Prêmio Nobel de Economia
“É pornográfica”, acrescentou o presidente da Fiesp. As críticas foram feitas em seminário no BNDES, na véspera da reunião do Copom que vai decidir se mantém ou não os 13,75%, e dos atos pela redução dos juros
Publicado: 21 Março, 2023 - 09h53 | Última modificação: 21 Março, 2023 - 10h12
Escrito por: Redação CUT | Editado por: Marize Muniz
Nesta segunda-feira (20), véspera da 253ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), que define a taxa básica de juros (Selic) no Brasil, e de atos da CUT e demais centrais contra os juros altos, empresários criticaram a política monetária e chamaram taxa de juros, hoje de 13,75% ao ano, de pornográfica. Equivale a uma pena de morte, criticou o economista Joseph Stiglitz, vencedor do Nobel de Economia de 2011.
Em um seminário realizado na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), vários empresários e economistas criticaram a política monetária do Banco Central.
A taxa de juros no Brasil é "chocante" e a equivale a uma "pena de morte", disse no seminários do BNDES o professor Joseph Stiglitz. Segundo ele, os juros altos não combatem as causas atuais da inflação no mundo, que estariam mais associadas a gargalos de oferta causados pela pandemia e pela Guerra da Ucrânia.
"A taxa de juros de vocês é, de fato, chocante. Uma taxa de 13,75%, ou 8% real, é o tipo de taxa de juros que vai matar qualquer economia”, disse o economista.
“É impressionante que o Brasil tenha sobrevivido a isso, que seria uma pena de morte”, continuou Joseph Stiglitz.
“Parte da razão de vocês sobreviverem a essas taxas de juros é que vocês têm bancos estatais, como o BNDES, que têm feito muito com essas taxas de juros, oferecendo fundos a empresas produtivas para investimentos de longo prazo com juros menores", afirmou Stiglitz.
Para o economista, as taxas de juros historicamente altas do Brasil impuseram uma "desvantagem competitiva. "A pergunta é, onde estariam se tivessem uma política monetária mais razoável? Eu diria que estaria num crescimento econômico muito maior", disse Stiglitz.
No mesmo evento, o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Josué Gomes da Silva, chegou a dizer que as taxas de juros no Brasil são "pornográficas" e incompatíveis com a situação fiscal do país.
"É inconcebível a atual taxa de juros hoje no Brasil", afirmou Josué, alegando que um país com dívida bruta equivalente a 73% do Produtos Interno Bruto (PIB) e com reservas internacionais de US$ 370 bilhões (R$ 1,9 trilhão) não pode ser considerado com problema fiscal.
"Se não abaixarmos [os juros], de nada adiantará fazermos políticas industriais. Porque as principais políticas industriais, aquelas que são mais horizontais e, portanto, atingem o conjunto da economia, são justamente uma taxa de juros compatível e, obviamente, uma reforma tributária que crie isonomia entre os setores."
Desde que o presidente Lula (PT) assumiu e passou a criticar o presidente do BC, Campos Neto, pela alta taxa que trava o impede desenvolvimento econômico e, consequentemente, a geração de emprego e renda, aumentou a pressão de empresários e da sociedade para o conselho reduzir a Selic, o que pode ocorrer na reunião do colegiado que termina nesta quarta-feira (22).
Até agora, as projeções indicam que, apesar de estar sob ataque, o Copom tende a manter os juros em 13,75% ao ano, nível em que se encontra desde agosto. O maior em seis anos.
Para que serve a taxa básica de juros?
A taxa básica de juros, no papel, tem o objetivo de controlar a inflação. Se o BC considerar que a inflação corre o risco de superar a meta, a tendência é elevar os juros. Não é o que vem ocorrendo na prática. No ano passado, apesar da taxa alta, a inflação disparou.
Mas, de agosto até agora, a inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), anualizada caiu três pontos percentuais, de 8,73% para 5,60%, mas o Copom não reduziu a Selic.
Em poucos meses a diferença entre juros e inflação subiu de 4,6% para 7,7%. A autoridade monetária aponta riscos, internos e externos, para a inflação brasileira. Mas o governo não tem engolido a argumentação. E não é só o governo.