TCU inicia julgamento do processo de privatização do Porto de Santos nesta terça
Mesmo que relatório seja aprovado, leilão não deve acontecer este ano. Equipe de transição de Lula quer rever modelo que inclui privatizar a autoridade portuária, o que tiraria o Estado do controle do porto
Publicado: 13 Dezembro, 2022 - 11h18
Escrito por: Redação CUT | Editado por: Marize Muniz
O Tribunal de Contas da União (TCU) marcou para esta terça-feira (13) o início do julgamento da privatização do Porto de Santos, maior terminal de cargas da América Latina. A entrega para a iniciativa é uma das prioridades do governo de Jair Bolsonaro (PL), mas, independentemente da decisão do TCU, o leilão não deve acontecer este ano, ainda no mandato do atual presidente, que termina no dia 31 de dezembro. A equipe de transição do presidente eleito e já diplomado, Lula (PT), já sinalizou que deseja rever o modelo de privatização tanto do porto de Santos como dois aeroportos Santos Dumont e Galeão no Rio de Janeiro.
Os ministros do TCU devem aprovar o modelo de privatização com ressalvas, como foi recomendado pelos auditores. Desta forma, o projeto ficaria ‘pronto’ para o próximo governo.
No entanto, ainda que o julgamento tenha início nesta terça-feira, de acordo com reportagem publicada pelo jornal Valor Econômico, há possiblidade de que algum ministro peça vistas – mais tempo para análise - e o julgamento seja interrompido.
O que está sendo analisado pelo TCU é o relatório da área técnica do tribunal, cujas ressalvas não são significativas ao processo de privatização. O relatório já havia passado por alguns ajustes pelo próprio governo, em setembro deste ano, entre eles a mudança no valor mínimo de outorga, que caiu de R$ 3,01 bilhões para R$ 2,5 bilhões.
Em Santos, o objeto de privatização é a chamada ‘autoridade portuária’, Santos Port Authority (antiga Codesp), que se for, de fato, privatizada, ficará nas mãos da iniciativa privada por 35 anos. O modelo de contrato prevê R$ 6 bilhões em investimentos e R$ 20,6 bilhões em despesas operacionais, incluindo dragagem.
E é justamente a entrega da autoridade portuária para iniciativa privada que levou a equipe de transição a barrar o projeto com está e estudar alternativas a partir de 2023. Outros portos como o de como Itajaí (SC), São Sebastião (SP) e Paranaguá (PR), não envolveram a autoridade máxima dos portos.
Para a equipe de infraestrutura da transição de governo, a privatização completa da autoridade portuária faria o Estado perder o controle sobre o planejamento do complexo portuário.
“Em um porto como o de Santos, que é o maior da América Latina, o Estado pode perder a capacidade de se planejar e de ser um instrumento de desenvolvimento”, afirmou Mauricio Muniz, ex-ministro da Secretária de Portos da Presidência da República, Maurício Muniz, que integra a equipe de transição.
Terminal de peso para o Brasil
O Porto de Santos, maior da América Latina e 45º do mundo em contêineres, movimenta 27% de todo o comércio exterior brasileiro. É também uma das principais atividades econômicas da região que compreende nove municípios (Santos, São Vicente, Guarujá, Bertioga, Cubatão, Praia Grande, Peruíbe, Itanhaém e Mongaguá).
Cerca de 1,9 milhão de habitantes vivem nessas cidades. Somente em Santos, são mais de 430 mil.
“É uma das forças motrizes da economia da baixada, porque gera empregos e tem grande importância no comércio exterior do país. São fatores que têm na gestão portuária pública um importante facilitador”, diz o presidente da Federação Nacional dos Portuários (FNP) e secretário-adjunto de Cultura da CUT, Eduardo Guterra.
Gestão lucrativa
A autoridade portuária de Santos (denominada SPA – Santos Port Authority – sigla em inglês) é uma empresa pública que tem dinheiro em caixa e, portanto, sem necessidade de ser privatizada, segundo o presidente da FNP.
“Tem dinheiro em caixa e arrecadação. São recursos que podem e devem ser destinados à modernização, mas sob responsabilidade do Estado, seguindo a gestão modelo em todo o mundo, de Landlord Port, que tem como característica principal a gestão pública dos portos”, conclui o dirigente.
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