Escrito por: Andre Accarini

Tensão no PR: fogo na refinaria Repar assusta população de Araucária e Curitiba

Clarão no céu foi acompanhado de ruído intenso. Episódio que, segundo sindicalistas, não é normal, tem se tornado frequente por falta de manutenção preventiva e coloca em risco trabalhadores e população

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Na noite desta quinta-feira (21), a população de Araucária, município vizinho de Curitiba, no Paraná, mais uma vez viveu momentos de tensão por causa de operações na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar). Um grande clarão no céu, provocado por aumento significativo das labaredas das tochas da refinaria, foi visto em vários pontos da cidade e até na capital paranaense. Além da intensidade incomum do fogo, também foi ouvido um ruído muito forte, que segundo testemunhas, não é rotineiro.

As chamas foram tão altas que causaram pânico nos moradores que chegaram a acionar o Corpo de Bombeiros e até mesmo o Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro PR/SC).

As tochas são mantidas acesas para queimar resíduos de gás do sistema, explicam petroleiros. De acordo com eles, durante o processo, normalmente ocorrem algumas instabilidades operacionais que elevam a pressão e para garantir a segurança das instalações, partes dos gases gerados são direcionados a queimarem nas tochas.

Porém, o ruído desta quinta-feira, bem como o tamanho das chamas foi maior, o que assustou os moradores da região.

Em dois meses, já é a segunda vez que isso ocorre. Em 29 de setembro, as chamas também se intensificaram, causando o mesmo pânico desta quinta, de acordo com os petroleiros ouvidos pelo PortalCUT.

O secretário de Comunicação da CUT Brasil, Roni Barbosa, que é petroleiro, afirma que altas chamas são comuns nas partidas e paradas das refinarias, que são ações programadas para manutenção das unidades e ocorrem a cada ano, ou dois anos, ou mais, dependendo da refinaria.

Mas não é isso que vem ocorrendo ultimamente na Repar, segundo o dirigente. Ele diz que situações como a desta quinta estão mais frequentes e indicam problemas na refinaria que vem reduzindo investimentos em manutenção.

“Esses episódios estão acontecendo em função da diminuição da manutenção dos equipamentos, o que pode afetar a segurança dos trabalhadores e das comunidades no entorno das refinarias”, relata o dirigente.

Roni afirma ainda que o episódio é um alerta, “especialmente pelo barulho forte e anormal, diferente de outros momentos” e que “quando a refinaria está estável, não é para acontecer esse tipo de situação”.

Mais impressionante, critica o dirigente, “é que a Repar sequer se pronunciou sobre o episódio o que mostra um descaso com a população e com os petroleiros”.

Susto no trabalho

Um trabalhador que preferiu ter sua identidade preservada por medo de punições dentro da estatal relatou ao PortalCUT que os trabalhadores não chegaram a ter de abandonar os postos de trabalho, mas o ruído provocado pelas chamas não é normal.

Segundo ele, “é uma situação prevista, mas o ruído foi mais intenso do que o normal e isso assustou também os trabalhadores de outras plantas dentro da própria refinaria porque gerou uma forte vibração sentida por todos que estavam na unidade”.

A preocupação dos trabalhadores, ele conta, é que este tipo de situação está se tornando recorrente na Repar. “Está acontecendo, principalmente em relação ao tamanho da chama, que é relativa ao volume dos gases gerados e o tempo que perdurou”.

O trabalhador ainda afirmou que a empresa não quer ouvir os funcionários o que, em conjunto com a política de punições da estatal, não proporciona mais segurança nem aos trabalhadores e nem às instalações.

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Chama de privatização

O desmonte que vem ocorrendo no sistema Petrobrás, para que a estatal seja privatizada, de acordo com Roni Barbosa, é um fator preocupante não apenas em questões econômicas e trabalhistas, mas também na questão de segurança tanto dos trabalhadores como da população.

“Se acidentes por falta de manutenção acontecem em uma estatal, imagina se fosse na inciativa privada, que só visa lucro acima de tudo”, diz o dirigente.

Ele lembra os acidentes ocorridos nas barragens da mineradora Vale, privatizada em 1997 durante o governo FHC, de Mariana e Brumadinho em Minas Gerais.

“Depois de 20 anos, o que a população recebeu foi acidentes e mortes de mais de 250 pessoas, na maioria trabalhadores”, pontua Roni, que alerta: “numa refinaria, o potencial [de acidentes] é muito maior do que na indústria de mineração, o que é preocupante”.

“Por isso”, conclui o dirigente, “a Federação Única dos Petroleiros e o movimento sindical questionam o processo de privatização que fatalmente trará prejuízos econômicos e riscos à segurança dos brasileiros”.

A Repar

A Refinaria Presidente Getúlio Vargas ou Refinaria do Paraná (Repar) é uma refinaria localizada no município de Araucária, no estado de Paraná, que pertence à Petrobras.

A Repar é a principal empresa do setor petroquímico paranaense e a maior planta industrial da região Sul do país, tem capacidade instalada de 207.563 mil barris/dia e é responsável por cerca de 12% do fornecimento de derivados de petróleo do País.

Os principais produtos da Repar são gasolina, querosene de aviação, óleo diesel, GLP, nafta, óleo combustível e asfaltos.